- Cena de Jovens Bruxas (Foto: Divulgação)

Jovens Bruxas: A Nova Irmandade é um tributo gentil e divertido ao clássico original de 1996 [REVIEW]

A nova produção preza por um olhar original, enquanto celebra a história na qual foi baseada

Malu Rodrigues I @amalu.rodrigues Publicado em 09/11/2020, às 07h00

[Contém spoilers de Jovens Bruxas e Jovens Bruxas: A Nova Irmandade]

Jovens Bruxas (ou The Craft) é um clássico de terror dos anos 1990 que nos trouxe a história de quatro adolescentes enquanto elas se aventuram com mágicas e feitiços. Quando Jovens Bruxas: A Nova Irmandade foi anunciado, os fãs do longa original - e até alguns críticos - ficaram hesitantes. Afinal, para que mexer em um filme consolidado como 'cult' e tão adorado?

A dúvida cresceu quando supostamente a produção inédita seria um reboot ou remake, apreensão criada pela onda de revitalizações de Hollywood nos últimos dois anos. No entanto, nada disso aconteceu. A Nova Irmandade se apresentou definitivamente como uma sequência, respeitando os acontecimentos do longa anterior.

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Na produção inédita, a história se parece com a original: a jovem Lily (Cailee Speany) muda de cidade, enfrenta uma escola nova e conhece as futuras colegas bruxas Tabby (Lovie Simone), Frankie (Gideon Adlon) e Lourdes (Zoey Luna). Apesar das premissas parecidas, os longas são bem diferentes - ainda bem.

The Craft teve uma cinematografia mais sombria, com o roteiro mais complexo e pesado, enquanto A Nova Irmandade se desprendeu dessa estética mais gótica e apostou em elementos mais leves. 

Escrito e dirigido por Zoe Lister-Jones, a mudança faz sentido se considerarmos os contextos das duas obras. A continuação é um retrato bem fiel da geração de jovens atuais. Com referências à rapper Princess Nokia e à atriz Kristen Stewart, conhecemos mais a dinâmica das personagens como adolescentes que vão para festas enquanto precisam lidar com a escola.

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Um pouco diferente do filme original, as novas protagonistas mostram um lado mais inocente e divertido da adolescência. Elas brincam durante as magias, enquanto comemoram quando acertam um feitiço e saem correndo gargalhando para não serem pegas. A Nova Irmandade não promete ser o clássico de 1996, e faz um bom trabalho com isso.

Ao mesmo tempo que traz um sentimento nostálgico, também se mantém muito atual. Curiosamente, quando contempla essa proposta, a nova produção se torna mais temporal, enquanto o longa original se consagrou como atemporal. Embora possa influenciar, esse detalhe não tira o charme da continuação.

Talvez, um dos melhores elementos da trama inédita seja o debate em torno da ideia de irmandade. Jovens Bruxas  (1996) focou em como o poder e a obsessão por ele impacta na vida de uma pessoa, e como bruxas do mesmo grupo podem se virar umas contra as outras. Em contramão, A Nova Irmandade mostra a união das bruxas diante de cenários assustadores. Elas permanecem juntas, superando todas as adversidades.

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Apesar dos diferentes enquadramentos, os dois filmes se conversam quando pensamos nos temas debatidos em ambos. As obras retratam sobre sexualidade, questões de gênero, racismo, masculinidade, aceitação, assédio, relações familiares, entre outros. Esses assuntos, obviamente, são colocados em pauta a partir das atitudes dos personagens. 

Inclusive, ao pensarmos e compararmos as personalidades fictícias das obras, percebemos como no filme original pudemos ver mais as particularidades de cada personagem e o que as movia. Os comportamentos únicos de Nancy Downs (Fairuza Balk), Sarah Bailey (Robin Tunney), Bonnie (Neve Campbell) e Rochelle (Rachel True) é um dos fatores para Jovens Bruxas se tornar icônico. No longa inédito, embora conheçamos as protagonistas e saibamos o papel de cada uma, elas não são aprofundadas como figuras individuais.

Apenas a novata Lily recebe uma história mais complexa e instigante. Aqui, a irmandade é o foco, e Tabby, Frankie e Lourdes ficam um pouco mais ofuscadas. Elas só não perdem espaço no enredo devido às atuações carismáticas das atrizes, que criam uma dinâmica animada e dão certa emoção para as personagens.

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Se as protagonistas não tiveram um tratamento multidimensional, os personagens secundários também seguiram o mesmo destino. O antigo valentão Timmy (Nicholas Galitzine), a mãe de Lily, Helen (Michelle Monaghan), e o meio-irmão Abe (Julian Grey) chegaram mais próximos de terem um desenvolvimento, mas o roteiro não manteve o ritmo. O mesmo acontece com o vilão, que parece ser uma figura repentina e até deslocada no longa.

O grande trunfo de A Nova Irmandade são as referências. Os fãs do clássico de 1996 vão se divertir ao ver cobras para lá e para cá, feitiços no meio da floresta, a entrada icônica na escola e alguns diálogos parecidos. Com certeza, as cenas de 'Dura como uma tábua, leve como uma pena' e 'Nós somos os estranhos' são duas das partes mais prazerosas do filme.

Agora, o que realmente surpreendeu foi a volta de Fairuza Balk. Na história, descobre-se como Nancy Downs é a mãe biológica de Lily. Muito se especulou sobre o retorno da atriz, então o destino dela pode ter surtido certa surpresa aos fãs da franquia.

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Em entrevista à EW, Balk comentou sobre a razão de ter aceitado o convite para participar do filme: "Todo o movimento que está acontecendo hoje em relação às mulheres e retomando seu poder e definindo linhas definidas sobre o que é aceitável e o que não é e insistir que essas mudanças sejam implementadas no mundo está muito atrasado, e está acontecendo finalmente! Mais e mais mulheres estão assumindo o controle e assumindo seu poder, e isso é uma coisa positiva, e é por isso que eu queria trabalhar com ela [Zoe Lister-Jones]."

Jovens Bruxas: A Nova Irmandade não é um filme perfeito: tem um final rápido, subdesenvolvimento dos personagens, pontas soltas e um vilão fraco. Mas, tudo bem, até a produção original não era perfeita. 

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Com a mesma história sobre um coven (grupo de bruxas), os longas se encontram pelas referências e o protagonismo de mulheres, mas mantêm perspectivas únicas e não se atropelam nos enredos.

Como mostra um dos diálogos do novo longa, "your difference is your power" ('Sua diferença é o seu poder', em tradução livre). No final da sessão, A Nova Irmandade  não é tão complexo, caótico e viciante como o original, mas é uma narrativa leve e se revela como um tributo gentil às bruxas de 1996.

Distribuído pela Sony Pictures, o filme chegou aos cinemas em 5 de outubro. Assista ao trailer:


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