- Arte: Julia Harumi Morita (Fotos: Reprodução)

Jovens, independentes, engraçadas e criativas: Phoebe Waller-Bridge, Michaela Coel e Issa Rae revolucionam a comédia na TV

Nos últimos anos, as três artistas escreveram e protagonizaram séries de grande destaque do gênero televisivo

Julia Harumi Morita | @the_harumi Publicado em 07/08/2020, às 07h00

Jovens, independentes, engraçadas e criativas. Este é o perfil das roteiristas que revolucionaram as produções de comédia na televisão nos últimos cinco anos. O nome delas? Phoebe Waller-Bridge, Michaela Coel e Issa Rae.

Com um humor excepcional e cativante, as três artistas criaram, escreveram, produziram e protagonizaram séries aclamadas pela crítica e pelos espectadores, os quais se espalham ao redor do mundo.

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Curiosamente, elas ganharam destaque na indústria televisiva no mesmo período, em meados da década de 2010, e praticamente com a mesma idade, como se fizessem parte de um grupo velado de multiartistas bem-sucedidas.

Para entender como Phoebe Waller-Bridge, Michaela Coel e Issa Rae ganharam destaque  e definiram o gênero sob a perspectiva das mulheres e dos millennials na televisão, a Rolling Stone Brasil relembrou a trajetória de cada uma delas.

Phoebe Waller-Bridge 

Aos 35 anos, a escritora britânica já coleciona uma estatueta do BAFTA TV, três do Primetime Emmy Awards, duas do Globo de Ouro e do Critics' Choice Television Award, e um prêmio do Screen Actors Guild Award.  

A primeira produção que Phoebe  criou, escreveu, produziu e estrelou foi Crashing, de 2016. A série foi lançada pelo Channel 4 e, atualmente, está disponível na Netflix

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Com apenas seis episódios, o seriado retrata as aventuras de um grupo de jovens que precisam lidar com o início da vida adulta enquanto enfrentam dificuldades por morarem em cômodos improvisados de um hospital abandonado.

Ainda em 2016, a artista lançou a primeira temporada de Fleabag. É com esta produção que Phoebe  é reconhecida, premiada e considerada um dos maiores nomes da indústria televisiva do momento. 

Após o sucesso das duas partes da série, não demorou muito para a criadora se envolver em novos projetos, como a Killing Eve, estrelado por Sandra Oh, Saturday Night Live e o próximo filme de James Bond, 007: Sem Tempo para Morrer.

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Michaela Coel

Um ano antes de Fleabag  estrear, Michaela Coel lançou Chewing Gum, que também foi exibido pelo Channel 4 e chegou a fazer parte do catálogo da Netflix. A produção acompanha as tentativas de uma católica devota de perder a virgindade. 

Além de interpretar Tracy Gordon, a artista britânica criou, escreveu, produziu e compôs os episódios das duas temporadas da série. Enquanto ganhava repercussão entre os espectadores, ela ainda participou de Black Mirror e estrelou Black Earth Rising

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Hoje, aos 32 anos, Michaela já foi indicada quatro vezes ao British Academy Television Award e levou duas estatuetas para casa, concorreu cinco vezes ao Black Reel Television Award e ganhou um prêmio no Berlin International Film Festival Award. 

A criadora ainda chamou a atenção da mídia com a narrativa emocionante, dramática e cômica da série I May Destroy You, lançada no dia 16 de junho de 2020 pela HBO e a BBC One.

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Issa Rae 

Issa Rae produziu inúmeros shows na televisão, como How Men Become Dogs, Little Horribles, Black Actress e Get Your Life. Além disso, ela escreveu e dirigiu episódios para as séries The Misadventures of Awkward Black Girl e The Choir.

A artista norte-americana também participou da produção do curta Hair Love, animação vencedora do Oscar 2020, e do filme The Lovebirds, uma comédia romântica lançada pela Netflix.

Aos 35 anos, o maior destaque da carreira de Issa é Insecure, série lançada pela HBO, em 2016. Com uma personagem homônima, a criadora, escritora, produtora e protagonista retrata os conflitos amorosos e as diversas dimensões de uma longa amizade na vida adulta.

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Além de alcançarem a fama mundial rápidamente, Phoebe, Michaela e Issa compartilham outras características. As produções das três artistas apresentam elementos em comum, os quais, definitivamente, foram responsáveis pelo sucesso das séries.

Desde o humor autêntico até a quebra da quarta parede, listamos as principais particularidades que unem Chewing Gum, Crashing, Fleabag, Insecure e I May Destroy You. Confira:

Histórias semi-autobiográficas

Fleabag (Foto: Reprodução)

Uma característica comum entre as três artistas é a criação de personagens e histórias  baseadas na própria experiência de vida. Fleabag  foi inspirado no apelido de criança de Phoebe, Flea, segundo o site Bustle. E a protagonista de Insecure, Issa, foi batizada com o mesmo nome da criadora. 

Michaela se inspirou no período em que era uma católica devota para criar Tracy, uma jovem de 24 anos que questiona algumas normas da igreja e deseja perder a virgindade. A criadora segue o mesmo processo em I May Destroy You e desenvolve uma narrativa a partir de um estupro sofrido na vida real. 

Apesar das inspirações e semelhanças, todas as artistas deixam claro que as personagens não são um reflexo exato delas mesmas. Às vezes, as protagonistas não chegam perto da verdadeira personalidade de cada uma. Além disso, Phoebe defende que mulheres podem criar histórias completamente originais e não dependem das anotações nos diários delas para criar uma produção de sucesso.

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Humor singular e excepcional

As séries criadas e estreladas por Phoebe, Michaela e Issa são extremamente envolventes por causa do humor singular e excepcional presente nas histórias retratadas. As artistas exploram um universo cômico particular, que reflete a personalidade de cada uma delas.

Em Crashing  e Fleabag, o espectador pode até precisar de um tempo para se acostumar com o sarcasmo e os comentários provocativos dos personagens. À primeira vista, pode parecer exagerado, mas, ao longo dos episódios, o público compreende, acompanha e se diverte com a intensidade deles. 

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Michaela explora diferentes tipos de humor. Chewing Gum é quase como uma paródia da vida real e, muitas vezes, a atriz protagoniza cenas que beiram a comédia pastelão. Por outro lado, I May Destroy You é mais sóbrio e se mistura com o drama. 

Por fim, Issa possui um humor um pouco mais próximo das séries tradicionais do gênero em termos de relacionamentos e amizades. Contudo, a escritora inovou ao questionar questões raciais e fazer referências à artistas negros por meio de piadas, ironias e respostas assertivas.

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Representatividade

Insecure  (Foto: Reprodução)

Além das semelhanças com o trabalho de Phoebe, Michaela e Issa revolucionaram o gênero de comédia ao apresentarem histórias protagonizadas por mulheres negras, algo que foi evitado pela indústria televisiva por muito tempo.

As criadoras retrataram os pequenos atos racistas do cotidiano, como o tratamento diferenciado que recebem no trabalho ou nos encontros amorosos, e trazem referências de artistas negros da cultura pop, como Beyoncé e Drake.

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Diálogo com o espectador

Outra coisa que torna Chewing Gum, Fleabag  e Insecure  tão cativantes é o diálogo íntimo e sincero que as protagonistas estabelecem com o espectador. Issa cria cenas hilárias quando se encara no espelho e cria versos de rap sobre as situações do dia a dia. 

Apesar de Tracey não hesitar muito antes de falar a opinião dela, a personagem ainda compartilha momentos exclusivos com o público e quebra a quarta parede quando fala diretamente com a câmera.

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A técnica da quebra da quarta parede também foi usada por Phoebe em Fleabag, mas em um nível muito mais intenso e fascinante. A atriz praticamente mantém um diálogo constante com o público e faz uma performance impressionante ao acelerar o jogo de câmeras e sustentar duas conversas simultâneas.

Além disso, Phoebe ainda conseguiu adicionar elementos de surpresa no diálogo com público, por exemplo, quando se confunde e acaba dizendo algo que não deveria ou quando a conversa particular com os espectadores é flagrada pelo padre.

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A revolução das comédias televisivas  

Chewing Gum (Foto: Reprodução)

O sucesso das produções de Phoebe, Michaela e Issa é recente, mas ajudou a definir o tom das comédias feitas e maratonas pelos millennials e parte da Geração Z. 

E os efeitos deste legado criativo podem ser vistos em lançamentos recentes. Além de I May Destroy You, High Fidelity também estreou no início do ano e reafirmou a tendência estabelecida pelas três criadoras: a quebra da quarta parede, representatividade e um humor sincero e sarcástico sobre as imperfeições da vida. 

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