Apresentação no Madison Square Garden, na qual The Life of Pablo e Yeezy Season 3 foram divulgados, mostrou uma visão mais nítida do foco do artista
JULIANNE ESCOBEDO SHEPHERD Publicado em 12/02/2016, às 13h51 - Atualizado às 16h15
Uma reclamação comum entre fashionistas é que as semanas de moda cresceram e se transformaram em algo muito mais próximo de um espetáculo – mais sobre Instagram, aparição de celebridades e fotógrafos de looks de rua do que sobre roupas. Muitos destes mesmos fashionistas têm sensações mistas em relação a Kanye West, o rapper e designer que descaradamente se recusou a aceitar que ele não poderia fazer parte do mundo deles. Na última quinta, 11, ele fez deu uma clara prova de que é tão influente que ninguém pode querer ignorá-lo e continuar relevante.
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Poucos espetáculos de semanas de moda poderiam se comparar a apresentação da linha Yeezy Season 3 (terceira temporada) de West, que aconteceu em uma tarde frígida em Nova York, no Madison Square Garden – a arena na qual ele tocou por duas noites com ingressos esgotados em 2013 durante a turnê de Yeezus.
Trazendo a estreia do novo disco de West, The Life of Pablo, e transmitido em cinemas de todo o mundo – além de streaming gratuito pelo Tidal –, o evento foi tão ambicioso que mudou o cronograma da semana de moda (pelo menos dois designers, incluindo o stylist de Rihanna, Adam Selman, reagendaram as próprias apresentações para evitar a concorrência). O dia definitivamente esclareceu a visão de West tanto como artista quanto como força cultural, em uma época na qual o desejo da moda de encontrar intersecção na música nunca foi tão acentuado.
A sede é de atingir o público jovem, artístico e altamente influente, que segue tudo que Kanye faz. Andando rapidamente dentro da arena – os portões foram abertos às 15h – estavam caras barbados e de visual afiado com jaquetas de aviador vintage e jovens mulheres com “tranças de boxeadora” e casacos peludos, fazendo referência a looks que tanto Kanye quanto Kim Kardashian West são frequentemente vistos usando, refletindo o impacto cultural da dupla.
Quase todo evento de moda começa na hora marcada, então quando as pessoas foram entrando, eles tiveram a oportunidade de contemplar uma lona de seda em cor oliva do tamanho de uma arena cobrindo o que pareceu ser uma gigante abóbada. Ocasionalmente, um grupo de pessoas ia até o pano para mexê-lo e criar ondulações, mas logo ficou claro que não era uma referência a um dos títulos de disco descartados por Kanye (Waves, ou “onda”, em português), mas sim uma maneira de impedir que a cobertura prejudicasse os modelos posicionados embaixo dela. Arte!
Novo disco “não é o melhor, apenas um dos melhores”, disse West.
E então as telas passaram a mostrar as irmãs Kardashian conforme elas chegaram, com projeções da filha de West, North, sendo exibidas. Kanye apareceu com o mesmo casaco de Pablo e andou reto pelo chão da arena – o mesmo no qual o time de basquete New York Knicks perdeu um jogo por pouco dois dias atrás – para plugar o próprio laptop diretamente na mesa de som. “Estou prestes a colocar meu novo álbum para tocar”, anunciou West. “Se você gostar de alguma das novas músicas, sinta-se livre para dançar.”
Na primeira referência gospel (de Kirk Franklin) da faixa de abertura de Pablo, “Ultra Light Beams”, uma mulher na minha frente estava com as mãos em posição de oração, e a maneira que os graves foram configurados nos alto falantes do MSG provocava um certo calafrio na parte traseira da cabeça. Ao fim da música, a lona foi retirada, revelando modelos usando roupas da Yeezy Season 3, e diversas peças extra da linha foram jogadas no chão entre eles.
Conforme The Life of Pablo tocou, os modelos – apresentados, novamente, como uma performance da artista conceitual italiana Vanessa Beecroft – permaneceram parados e sem expressão, provocando um efeito de excesso sensorial, de uma maneira agradável.
Saiba mais sobre The Life of Pablo.
Escolher onde fixar os olhos poderia ser desorientador: na multidão, jovens de vinte e poucos anos balançado a cabeça com o hip-hop; à distância, as Kardashians paradas como casquinhas de sorvete; na fumaça de cigarros (ou maconha) vindo dos modelos; ou no próprio Kanye, sentindo-se claramente extasiado e realizado conforme ele e alguns amigos dançavam na frente do computador.
Justo quando ficou claro para onde olhar – para Kanye, claro, emanando sua própria alegria – a supermodelo Naomi Campbell apareceu na plataforma com um bodysuit preto, andando devagar, fazendo poses sensuais em meio a outras modelos. Os modelos pareceram ser – pelo menos à minha visão –, 100% negros: aparentemente, menos uma crítica à dolorosa falta de diversidade da indústria da moda e mais um reflexo da unidade do estado de espírito de West durante a criação do álbum.
O desejo de West de ser popular e altamente artístico ao mesmo tempo é aparentemente confuso para alguns críticos de música e de moda, mas ele passou a carreira inteira descobrindo novas maneiras de unir as duas coisas ininterruptamente, consistentemente perseguindo a própria visão até novos objetivos (a referência a Pablo Picasso, um dos artistas mais renomados do mundo, é um bom exemplo disso).
Foi possível perceber os caminhos paralelos neste evento, um espetáculo arrasador onde a estética de West ficou ainda mais refinada. Quando as sonoridades de Frank Ocean em “Wolves” ganharam a arena, a câmera dos telões centrais foi diretamente até a expressão de um modelo com cara de entediado, que já havia sentado (os outros modelos ficaram em pé e estáticos por pelo menos uma hora). Parecia ser Ian Connor, stylist e muso/discípulo de Kanye, usando uma jaqueta verde claro feita de lã. Conforme a câmera focou nele e as batidas se intensificaram, a musicalidade do momento foi esmagadora.
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