Artista fala sobre sua ex-banda e sobre o projeto Body/Head, que acaba de lançar o disco Coming Apart
DAN HYMAN/ TRADUÇÃO: LIGIA FONSECA Publicado em 12/09/2013, às 16h27 - Atualizado às 16h40
Por três décadas, Kim Gordon e Sonic Youth eram sinônimos. Junto ao então marido, Thurston Moore, e ao guitarrista Lee Ranaldo, Kim, agora com 60 anos, foi baixista, guitarrista, cantora/compositora e humilde força motriz por trás de uma das bandas mais influentes do rock alternativo. No entanto, em 2011, Kim e Thurston, casados desde 1984, se separaram. Assim, o Sonic Youth entrou em uma pausa indefinida.
Só que Gordon tem um ímpeto criativo incansável: além de uma exposição de artes visuais em uma galeria, uma autobiografia em andamento e uma futura participação no seriado Girls, da HBO, a moradora de Northampton, Massachusetts, se juntou ao amigo de longa data e colaborador Bill Nace para formar a Body/Head. Nesta semana, a dupla lançou álbum de estreia, Coming Apart – uma porção de músicas em estilo improvisado de guitarras rodopiantes, loops e vocais desnorteados, às vezes confusos, de Kim. A maioria das faixas foi gravada em dezembro no Sonelab Studios em Easthampton, Massachusetts.
Em conversa com a Rolling Stone, os dois músicos detalham a parceria musical, Kim discute a vida pós-Sonic Youth e revela a saudade que tem de tocar com a banda que a tornou famosa.
Vocês se conhecem há mais de uma década. Por que agora foi a hora certa para formar uma parceria musical oficial como a Body/Head?
Kim Gordon: Acho que, desde o início, gostávamos muito de tocar juntos e víamos que havia uma afinidade e alguma coisa acontecendo – química ou seja lá o que for. Não acho que pensamos muito no futuro disso nem nada.
Bill Nace: Havíamos tocado em contextos diferentes antes, mas acho que nos unimos como pessoas. Realmente nos tornamos uma banda na estrada, o que eu nunca tinha feito. É interessante porque você aprende rapidamente o que funciona e o que não, e o que surge entre os dois – uma química natural.
Bill, você mencionou em entrevistas que era um grande fã do Sonic Youth na adolescência. Houve algum nervosismo inicial quando você e a Kim começaram a tocar juntos?
BN: Não mesmo. Foi muito confortável. Embora a banda seja um tanto nova, nós nos conhecemos [há muito tempo]. Foi bem natural e à vontade.
KG: Somos amigos de longa data. Você deveria perguntar a ele como é tocar com uma diva.
Bill?
[Silêncio]
Houve alguma hesitação em seguir em frente como banda logo depois do fim do Sonic Youth?
KG: Talvez eu tenha me sentido protetora [da relação musical com o Bill]. Originalmente, foi tipo: ‘Vamos fazer algo que não tenhamos de promover’. Embora simplesmente tocar apresente seus próprios problemas – como quando você quer sair em turnê.
Então lançar um álbum foi mais uma necessidade para a banda poder pegar a estrada?
KG: Bom, foi legal lançar um disco para as pessoas saberem mais o que esperar. Embora agora eu sinta que talvez elas fiquem decepcionadas se gostarem do álbum e quiserem que ele seja exatamente assim ao vivo [ri]. Ele nunca poderia ser recriado daquela forma. Há algumas bandas que tocam e soam exatamente como o disco, mas nunca estive em uma assim... isso nunca funcionou para nós. Tendemos a pensar nos registros das músicas como um momento definido, e o [show] ao vivo se alimenta desses registros.
BN: Houve um impulso de marcar onde você está como banda, e se tudo o mais se encaixar naquilo, ótimo.
Coming Apart, embora tenha músicas certinhas, tem uma natureza decididamente livre.
BN: É uma linha difícil de percorrer, já que você não quer ficar fazendo jams, porque isso definitivamente não é o que fazemos ou queremos fazer. Você não quer que as pessoas lhe ouçam procurando a música. Tínhamos um pé em cada mundo. Normalmente, toco ainda mais abertamente do que isso. Esse, na verdade, é um passo mais na outra direção, rumo a algo mais estruturado para mim.
Ensaiar o material para a turnê representou um desafio?
BN: “Ensaiar” pode ser a palavra errada, não estamos praticando nada do disco. É manter a comunicação aberta, mas não é como se estivéssemos repassando o material.
KG: O Sonic Youth nunca ensaiou tanto assim. [Ensaiar] é como fazer aquecimento. É como um jogador de basquete treinar cestas antes de um jogo.
Muitos compararam a liberdade e a falta de aderência à estrutura musical convencional do álbum aos primeiros trabalhos do Sonic Youth.
KG: As pessoas sempre gostam de fazer uma narrativa sobre as coisas. Talvez seja um pouco de exagero, não sei. Com certeza, toda vez que se tem uma nova banda, o primeiro álbum sempre tem alguma energia nele antes de você saber o que está fazendo [risos]. Acho que talvez algumas das primeiras coisas do Sonic Youth eram assim. Um pouco, não sei. Não dá para dizer.
Alguns dos poucos pontos de referência decifráveis no álbum foram suas covers de “Ain’t Got No/I Got Life” de Nina Simone e a versão de Patty Waters para “Black Is the Color of My True Love’s Hair”
KG: Ná época [em que gravamos] alguém tinha me enviado alguns links do YouTube com Nina Simone no final dos anos 60, em shows ao vivo. Fiquei muito impressionada com ela – a música, como era difícil de classificar, o gênero. Em "Ain't [Got No/I Got Life]", ela parecia tão sozinha em seu mundo. Foi muito poderoso. Nunca tinha realmente escutado muito Nina Simone, fiquei de boca aberta com o quão maravilhosa ela era.
Kim, você atualmente está envolvida em várias empreitadas criativas: uma retrospectiva parcial de sua arte visual na galeria White Columns em Nova York, uma autobiografia em andamento e um livro de ensaios escritos para revistas de arte e cultura no começo dos anos 80 sendo lançado.
KG: Estou retomando coisas que deixei de lado enquanto criava minha filha. Estava muito ocupada tocando em uma banda e, então, tentando manter um pé no mundo das artes. Agora que minha filha está na escola de artes, posso fazer mais. Sinto que estou me ampliando.
Graças a uma amizade com a produtora executiva Jennifer Konner, você está até em um episódio na próxima temporada de Girls.
KG: Foi meio acidental. Foi ótimo trabalhar com elas, Lena [Dunham] é realmente incrível, muito generosa. É impressionante como a equipe dele trabalha... e os redatores. Foi interessante, muito divertido.
Apesar do Body/Head e de todos os seus projetos em andamento, uma parte de você ainda sente falta do Sonic Youth?
KG: Sim, claro. Definitivamente sinto saudade de tocar com os rapazes. [Tocar] ao vivo sempre era divertido, era muito poderoso.
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