Não é de hoje que os artistas estão se voltando contra os aparelhinhos e seus flashs
Yolanda Reis Publicado em 19/07/2019, às 13h51
King Crimson vem ao Brasil no final de 2019 para duas apresentações: no Rock in Rio (dia 6 de outubro) e no Espaço das Américas em São Paulo (dia 4 de outubro). E embora o grupo não possa controlar o que acontece em um festival para milhares de pessoas, podem decidir o que entra e não em seu show solo. E foram focados: nada de celular.
O anúncio foi feito pelas redes sociais da Mercury Concert, realizadora do evento. “O show do King Crimson em São Paulo será um PHONE FREE EVENT. Sabe o que é isso? É um show onde as pessoas deixam seus celulares de lado para curtir a performance do artista. Sem fotos, sem vídeo, sem stories. Apenas o que importa: a experiência de ver e ouvir o artista ao vivo!”, escreveram na legenda de uma cartaz do show.
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A recepção dos fãs nos comentários não foi lá muito positiva. Alguns apoiaram, claro. A maioria pareceu confusa com o método (esclarecido pela Mercury que o celular em si não é proibido, e sim fotografar ou filmar o evento) e outros acharam bem ruim ter que deixar o celular de lado. Mas no final das contas, a ideia na verdade é ótima. E aqui está o porquê:
Se antes do advento dos smartphones já não eram agradáveis (e sim estonteantes) os flashs de câmeras fotográficas no rosto das pessoas em cima do palco, na era-celular isso só piorou. Porque as pessoas usam muito mais flash. Muito, muito, mais. Na verdade, o tempo inteiro, quando insistem em fazer vídeos. São milhares de feixes de luz ininterruptos, todos eles na cara dos artistas. Se já é ruim tirar uma foto com flash, imagina só vários desses ao mesmo tempo!
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Quanto mais isso acontece, mais irritados os artistas ficam, também. Ninguém ficou realmente surpreso quando no começo deste ano Rob Halford chutou para longe um celular de um fã que estava na primeira fileira de um show do Judas Priest (porque, adivinha, não conseguia enxergar com o flash em seu rosto. E ainda deu um aviso: "se interferir no desempenho, sabe o que vai acontecer.") E não foi inesperado isso acontecer de novo na semana seguinte com Tom Morello, que convidou os fãs para o palco e tentava tocar mas alguém insistia em tapar sua visão para conseguir uma boa selfie. Uma aproximação rude deles? Talvez. Mas não dá para dizer que não têm razão.
E não só aos artistas a luz incomoda, também. Quando você está na multidão escura e alguém liga uma luz bem forte, não tem jeito, você vai ficar atraído pela iluminação. É como no cinema: se tem alguém no celular, você não consegue mais prestar atenção no filme. É um efeito-mariposa: a gente sempre vai olhar para a luz. E nos distrair dos artistas, que foi pelo que pagamos para estar ali.
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Além da negatividade física, há também um outro fato incomodando os artistas: o celular afastou o público. Jack White, que nunca nem teve um aparelho, exemplifica bem isso em suas justificativas de também proibir celulares em shows: "Não quero ter que recorrer à pirotecnia, aos lasers ou coisas assim. Não basta que a música seja boa o suficiente se as pessoas não estiverem a 100% contigo [...] E não há mais uma ligação, uma relação."
E, no final das contas, há de se pensar: por que, afinal, a necessidade de filmar e fotografar tudo? Guardar memória? Porque portais e sites de notícia vão compartilhar, depois, algumas centenas de fotos profissionais do show. Compartilhar sua música favorita? Seus amigos todos vão pular seus stories de shows com som estourado e imagem tremida porque você estava pulando.
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King Crimson não errou em proibir fotos e vídeos em seu show. Se você consegue ficar duas horas sem olhar para o celular no cinema, não vai ser um problema fazer isso em um show de rock - e lembrar um pouco de como era só ver uma apresentação. Será quase como ver uma orquestra tocar - mas com a permissão de um mosh ocasional.
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