Em show no Rio de Janeiro, cantora se emociona e lembra do passeio que fez à comunidade do Cantagalo: "Na favela eu vi algumas das pessoas mais felizes e alegres que encontrei na minha vida"
Tatiana Contreiras, do Rio de Janeiro Publicado em 10/11/2012, às 09h20 - Atualizado em 11/11/2012, às 01h34
Na entrada do longínquo Parque dos Atletas, na Barra da Tijuca, a noite de sexta-feira parecia desanimadora: além da chuva que não parava de cair, cambistas ofereciam ingressos antes vendidos a R$ 350 por apenas R$ 80. Durante a semana, a performance ruim de Lady Gaga nas bilheterias virou motivo de piada na internet – e de ofertas à exaustão em sites de compra coletiva. Mas os monstrinhos, como a cantora chama seu séquito de fãs, não desapontaram a Mãe Monstro. No primeiro show da turnê Born This Way Ball no Brasil, no Rio de Janeiro, foram os fãs que fizeram a cantora se emocionar, em um espetáculo visual tão bem produzido e engendrado que, mesmo de longe (e, mais ainda, de perto), nota-se que não há tanto espaço assim para o inesperado ou para picos de emoção. No entanto, foi justamente a participação do público, na forma de seguidores escolhidos a dedo para subir no palco, que pareceu desmontar – ao menos por alguns breves momentos – a montadíssima cantora.
Explica-se: a ópera pop comandada por Gaga parece ter cada detalhe milimetricamente planejado. Da entrada ao som de “Highway Unicorn” em uma espécie de parada militar com bailarinos vestidos de cavaleiros e, ainda, com um quê de Alien – o longa-metragem de Ridley Scott parece uma referência clara entre outras tantas do show, de David Bowie a Freddie Mercury e, por que não, Madonna, com quem Lady Gaga é constantemente comparada – às dezenas de trocas de figurino em questão de segundos, a cantora comanda com mão de ferro o seu baile, em um set list sem espaço para grandes improvisos. A proposta estética é clara; a mensagem também. “Esse é um lugar de paz, amor e aceitação”, diz ela, no começo da apresentação. Ao longo das duas horas de espetáculo – o show começou pouco antes das 22h30 –, Gaga reforçaria o seu discurso algumas vezes, pregando a liberdade (“Rio, você se sente livre?”) e a diversidade, seja ela racial, religiosa ou sexual (“Vocês realmente se importam com o que os outros dizem?”).
Dividido em cinco atos, o show teve, como era de se esperar, seus pontos mais altos durante alguns dos hits da cantora. Com um castelo medieval como cenário e uma trama com pegada alienígena como fio condutor (ainda que tênue em alguns momentos, principalmente em sua reta final, quando a parte musical ganha força sobre a visual), a apresentação evidencia, claro, sua necessidade de chocar. Em “Born This Way”, um dos primeiros sucessos entoados pelo público de 30 mil pessoas, Gaga “nasce” de uma vagina gigante inflável, com um ar de frango assado super sized. A banda pouco aparece – sequer é apresentada. Mas no contexto gagaístico, os bailarinos e as coreografias têm mais importância que os músicos. Sim, há (muitas) bases pré-gravadas, como acontece com muitas divas pop, de Madonna a Britney Spears. Mas não se pode negar a potência da voz da cantora, percebida em momentos menos dançantes, como em “Yoü and I”. Cercada por fãs, diante do público que a assistia debaixo de chuva, Gaga chorou.
“Rio, eu te amo. Oi, galera”, esforçou-se em dizer várias vezes, entre pedidos para que a plateia pulasse ou levantasse as mãos. A conexão com o público, que pareceu fria num primeiro momento (talvez pelo caráter excessivamente roteirizado do show, com repetições de padrões vistos ao longo da turnê – caso do agradecimento por “comprar ingressos, sei como eles são caros”, feito também no show de Porto Rico), foi se tornando mais quente. “Bad Romance”, no fim do primeiro ato, foi a grande prova disso. O mesmo aconteceu com “Telephone”, “Poker Face” e “Paparazzi”. No entanto, hits como “Love Game” perderam gás no palco onde, logo depois, Gaga tocaria um piano adaptado de uma moto na qual ela surge em cena.
Na última quinta-feira, 8, Gaga foi à comunidade pacificada do Cantagalo, na Zona Sul do Rio. Andou de mototáxi, jogou bola com crianças, fez a festa. O passeio parece ter rendido ao menos uma reflexão. “Rio, você é o meu lugar favorito no mundo. Na favela eu vi algumas das pessoas mais felizes e alegres que encontrei na minha vida”, comentou. "Eu costumava rezar para que, um dia, eu fosse uma estrela. Que se dane a fama, o dinheiro e ser uma estrela. Quero ser amiga de vocês para sempre”, completou a cantora, que, no show, já havia usado uma versão light do famoso figurino de carne e saído de uma espécie de ovo/nave espacial.
A plateia, claro, delirou. O bis, com “The Edge of Glory” e “Marry the Night”, seguido de “Cake Like Lady Gaga”, levou mais fãs ao palco. Vestida com uma camiseta da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do Cantagalo, Gaga jogou para a galera. Bateu cabelo, tirou fotos, distribuiu abraços, pegou bandeira, suou, se descabelou. Quando o figurino e as coreografias ficam em segundo plano, seu carisma – e sua força em cena, além de sua mensagem – realmente aparecem.
Set list:
“Highway Unicorn (Road To Love)”
"Government Hooker"
"Born This Way"
"Black Jesus + Amen Fashion"
"Bloody Mary"
"Bad Romance"
"Judas"
"Fashion of His Love"
"Just Dance"
"Love Game"
"Telephone"
"Heavy Metal Lover"
"Bad kids"
"Hair"
"Yoü & I"
"Electric chapel"
"Americano"
"Poker Face"
"Alejandro"
"Paparazzi"
"Scheibe"
Bis:
"The Edge of Glory"
"Marry the Night"
“Cake Like Lady Gaga”
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