“Sou da terra da percussão, dos ritmos, mas não existia nenhuma mulher que aparecesse ali tocando”, diz Lan Lanh
Baárbara Martinez Publicado em 23/11/2018, às 16h10
“Estou nessa brincadeira boa de fazer música há 30 anos”, diz Lan Lanh, ao anunciar a chegada do seu novo disco, Batuque, lançado nesta sexta-feira, 23. “Eu achava que (tocar) era uma brincadeira. Depois vi que era meu trabalho.”
Feliz e satisfeita com a fase atual, indicada ao Grammy Latino, e namorada de uma das principais atrizes do atual cinema nacional, Nanda Costa, e um álbum novinho em folha, Lan olha para trás. Percebe como ela quebrou barreiras importantes ao se aventurar pelo mundo do ritmo e da percussão.
“No mundo, as mulheres na história da música sempre tocavam piano e violino. Então desde que eu comecei, rompi essa barreira tocando bateria e percussão. Sou de Salvador, terra da percussão, dos ritmos, mas não existia nenhuma mulher que aparecesse ali tocando”.
É dessas histórias que nasce Batuque. “O trabalho é fruto dos shows que venho lapidando ao longo desses quase 2 anos”, revela. “Eu relembro o início da minha carreira, da época que eu tive esse contato com as minhas origens”, confessa.
Nanda Costa, Maria Bethânia e Grammy
Ao assumir o relacionamento com a atriz global, Lan e Nanda Costa tem sido referência em representatividade. “A nossa história tem inspirado muitas pessoas”, ela diz. “Recebemos muitas mensagens nas redes sociais. A cada dia a gente se surpreende com uma história bonita ou um pedido para continuarmos sendo quem somos”, ela conta.
Com Nanda e com o músico Sambê, Lan Lanh criou "Aponte", canção gravada por Maria Bethânia para o filme Entre Irmãs, dirigido por Breno Silveira.“Quando eu comecei a fazer a música, invoquei as forças da natureza - ‘pode vir raio ou trovoada que eu não arredo deste rio’ diz a canção. Tive esse desejo, presságio. Pensei na voz de Maria Bethânia, que é mais uma força da natureza”
Com a faixa, o trio foi indicado na Categoria de Melhor Canção em Língua Brasileira. A vencedora foi a música "As Caravanas", de Chico Buarque. “Não existe perder para Chico Buarque. Existe ganhar ao concorrer ao lado dele! Existe ganhar em ter uma canção gravada por Maria Bethânia”, ela diz.
“Antes mesmo de tocar percussão e bateria, comecei a compor, então pra mim a indicação foi um reconhecimento de mais uma das minhas facetas que é a composição, a criação.”
Cássia Eller, Cyndi Lauper e Elba Ramalho
A artista fez um grande voo quando emplacou o sucesso "100 Xurumela", música lançada em um disco Com Ela, de 2003, lançado pelo Lan Lan e Os Elaines. Com Cássia Eller, ganhou projeção nacional.
“Eu resgatei o cajón em minhas viagens pelo mundo e trouxe para o trabalho com a Cássia. Apareci junto com ele e ajudei muito a popularizar esse instrumento. Antigamente no Brasil qualquer barzinho tinha voz e violão, hoje tem voz, violão e um cajón”.
Como artista, Lan destaca os trabalhos pelos quais já passou e como eles se relacionam intimamente. “Eu fiz a direção musical da Cássia, direção de teatro, produção musical, produzo meus discos e de outros artistas. Tudo está muito ligado, trilha, composição”.
Cita por exemplo, o fato de ter sido recrutada por Cyndi Lauper para participar da turnê Memphis Blues, que passou pelo Brasil em 2011.
“Tive a oportunidade de conviver com ela, fiz shows em vários lugares do mundo. Acabei levando toda essa musicalidade brasileira, dos ritmos, principalmente da cultura afro-baiana."
Também relembra das parcerias com Elba Ramalho e Geraldo Azevedo, que a influenciaram como artista. “No novo trabalho, faço algumas passagens, chegando ao Nordeste. Temos essas riquezas absurdas que são: Luiz Gonzaga, Nelson do Pandeiro e Dorival Caymmi. Está tudo no meu show, está tudo ali na minha cabeça, tudo na minha essência.”
Candomblé e Nordeste
A percussionista revela que teve uma outra ajudinha para compreender melhor o ritmo. “Tive uma referência muito forte quando comecei a tocar, quando formei a minha primeira banda. Foi a neta da mãe Menina do Cantua que me apresentou ao universo da música afro, de toda riqueza. A minha entrada no mundo da percussão foi nesta época, quando tinha 17, 18 anos.”
Com a percussão originária do Candomblé, a artista ressalta que em seus shows tem posse da figura do ogã, o homem que toca tambor e se comunica com os orixás. “Sou aquela figura ali no centro. Tenho dois músicos que me acompanham nesse show, que gravaram comigo o disco, eles são minhas asas."
A morena afirma que a vivência na Bahia foi crucial em sua existência. “Toda a nossa música, nossa riqueza, vem da cultura afro. Na Bahia isso é muito forte, tive esse contato natural, vivendo na cidade, andando, escutando, é o som e o sabor.”
Documentário e novo trabalho
Para celebrar o grande momento do empoderamento feminino na música, Lan participou do projeto Escuta As Minas, que traz diferentes gêneros musicais para amplificar as vozes de artistas femininas no país. O projeto reúne nomes como Karol Conká, Elza Soares, Maiara & Maraísa, Mulamba e Mart’nália.
“Muito honrada em estar ao lado dessas manas, amigas, deusas. Elza Soares, deusa maior. Orgulhosa de estar fazendo parte disso porque fui pioneira como mulher na percussão, na bateria. Hoje vejo que ajudei muitas meninas. Pavimentei a estrada por onde passam muitas mulheres.”
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