A artista se aventura por cantos inéditos e latentes da própria discografia enquanto explora a cultura e sonoridade americana
Julia Harumi Morita | @the_harumi Publicado em 19/03/2021, às 09h40
No dia do lançamento de Norman Fucking Rockwell! (2019), Lana Del Rey anunciou que não queria fazer pausas e que já trabalhava no sucessor do aclamado disco, pois não tinha terminado de encontrar “pequenas melodias especiais”.
Inicialmente chamado de White Hot Forever, a cantora afirmou que o projeto provavelmente seria lançado sem anúncios prévios entre agosto e setembro de 2020. Como sabemos, os planos mudaram - não só os de Lana, mas de toda a indústria da música.
No último mês de maio, a artista revelou que o disco se chamaria Chemtrails Over The Country Club e, em novembro, anunciou que o lançamento do disco seria adiado em 16 semanas por causa da produção de discos de vinil, a qual seria retomada apenas no dia 5 de março.
Após empecilhos e adiamentos, o sétimo disco de estúdio de Lana foi disponibilizado nas plataformas digitais nesta sexta, 19, pela Interscope Records e Polydor Records. A artista se juntou novamente a Jack Antonoff para escrever ou produzir as 11 canções do projeto, as quais também contaram com a participação de Rick Nowels e Nikki Lane - claro, sem contar a versão de "For Free", composta por Joni Mitchell.
Chemtrails Over The Country Club é um disco familiar aos ouvidos daqueles que acompanham o trabalho de Lana ao longo dos anos. Ele conta com elementos característicos do universo literário da cantora: os diamantes, as referências artísticas, as localizações espalhadas pelos Estados Unidos junto com a estética vintage ensolarada.
Os primeiros singles do álbum, "Let Me Love You Like A Woman" e "Chemtrails Over The Country Club", poderiam muito bem ser canções extras em Norman Fucking Rockwell, ambas com pianos marcantes e camadas de vocais agudos.
Porém o disco não se resume à variações de antigas composições, como "Wild At Heart", que remete à "How To Disappear". Agora, Lana cita White Stripes, Kings of Leon e Tammy Wynette, e vai de Los Angeles para Arkansas e Louisiana.
Para abrir o disco, a cantora surge com vocais sussurrados, falhos e forçados para relembrar os verões da adolescência em que trabalhou como garçonete, descritos para a Rolling Stone EUA em 2014.
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Em "Tulsa Jesus Freak", por exemplo, a artista revisita sonoridades de discos anteriores e acrescenta sintetizadores inesperados, os quais distorcem o canto angelical dela.
Mas é em "Wild At Heart" que Lana começa a transitar do indie pop e do soft rock para o folk com guitarras e percussões marcantes. Duas faixas depois, a artista imerge no gênero musical, oscilando para o country também, em "Yosemite" e "Breaking Up Slowly" - é preciso destacar os vocais vibrantes de Nikki Lane na última canção citada.
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O flerte refrescante com outros estilos também reflete na letra, a qual se afasta levemente do característico drama e glamour das composições da artista sem perder o brilho e a magia singular dela. "Romper lentamente é uma coisa difícil de fazer /Eu amo apenas você e isso está me deixando triste /Então não me mande flores como você sempre faz /É difícil estar sozinha, mas é a coisa certa a fazer," a artista canta em "Breaking Up Slowly".
Os grandes destaques do álbum são "Dark But Just A Game" e "Dance Til We Die". Lana explora guitarras melancólicas, batidas eletrônicas, notas de pianos soltas, cordas, saxofones com viradas revigorantes.
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Ela reflete sobre a fama, anuncia que vai fazer um cover de Joni Mitchell e, na próxima faixa, cumpre a tarefa ao lado de Weyes Blood e Zella Day. Mais uma vez, Lana confirma a excelência dela como compositora.
Um ano e meio depois de declarar que queria encontrar “pequenas melodias especiais”, Lana nos apresenta aos resultados dessa busca artística, na qual se aventurou por cantos inéditos e latentes da própria discografia, e explorou a cultura e sonoridade americana. Direcionado ao country e folk, o retorno da cantora é marcado por experimentos sutis, bucólicos e sublimes.
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