Cantora relembrou hits de sua carreira solo e do Fugees, grupo do qual fez parte, em show no Credicard Hall nesta terça, 7
Por Patrícia Colombo Publicado em 08/09/2010, às 13h36
Touca amarela e cachecol verde: foi ostentando adereços homenageando o Brasil que Lauryn Hill deu seus primeiros passos em direção ao palco para sua apresentação em São Paulo, na noite desta terça, 7, no Credicard Hall. Não fossem as duas horas de atraso, a entrada da cantora poderia ter sido celebrada com mais empolgação por parte do público que lotava o local. Compondo o setlist com faixas do respeitado álbum solo The Miseducation Of Lauryn Hill (1998), hits de seu ex-grupo Fugees e clássico dos anos 50, Hill realizou show que começou de forma irregular, mas que se firmou da metade para o final, consequentemente animando a plateia.
Às 21h30, ainda acontecia a apresentação do grupo Red, responsável pela abertura - show este que só se encerrou às 22 horas. Após mais 60 minutos de espera, entraram os integrantes que formam a banda de Hill o que, não óbvio, empolgou a casa. Porém, mal sabiam os fãs que só dali a meia hora a cantora daria as caras no palco. No lugar de Lauryn Hill, a enganada básica era realizada pelo DJ da cantora, com a execução de faixas de hip hop tocadas com frequência nas emissoras FM. Entre um hit chiclete e outro, era comum ver algumas pessoas olhando incessantemente para o relógio ou vaiando. O ponteiro marcava 23h30 quando Lauryn Hill enfim surgiu diante do público.
A última passagem da cantora pelo país aconteceu em 2007, em apresentações marcadas não pelo conhecido talento vocal de Hill, mas por inúmeras reclamações relacionadas à qualidade das performances. Dessa vez, ela abriu o show com "Lost Ones", faixa de The Miseducation.... "Vocês são muito especiais", ela disse ao público, entre sorrisos e queixas (com gestos) a respeito do som. Apesar da disposição da cantora, a faixa não animou tanto, nem a que veio em seguida, "When It Hurts So Bad". O som, de fato, estava ruim e embolado, mas a apresentação seguia.
"Ex-Factor" foi o primeiro hit tocado que a maiora das pessoas conheciam. Apesar de uma cansativa versão prolongada, a faixa acabou arrancando aplausos. "Zimbabwe", sua homenagem ao sogro Bob Marley (Lauryn é casada com Rohan, filho do mito jamaicano), temperou o show com a pegada do reggae. "To Zion", "War in the Mind" (faixa do MTV Unplugged), "Forgive Them Father" deram sequência ao hip hop que, ao vivo, com a presença da banda, misturou-se ao rock (muitas vezes este até prevalecia), acompanhado das rimas rapidíssimas de Hill. Até o momento, a apresentação aparentava se arrastar um pouco - não que a cantora não estivesse se esforçando, uma vez que se mostrou comunicativa e disposta durante todo show. Talvez o motivo fosse a ordem das faixas ou as versões mais esticadas e com algumas experimentações que, pela qualidade sonora ruim, saíram prejudicadas.
Contudo, a situação se inverteu a partir de "How Many Mics", clássico do Fugees, cuja batida fez parte da plateia tirar os pés do chão. A partir dali, o show parecia outro, mais animado, firme. A porção balada ficou por conta da linda "I Only Have Eyes For You", popularizada no final dos anos 50 pelo grupo The Flamingos. "Querem uma faixa antiga?", perguntou ela, antes de dar início à canção. Hill emendou "Zealots" (do Fugees, que conta com a própria versão do Flamingos como sample), que trouxe o rap de volta. O gênero se fixou para valer com "Fu-Gee-La" (acompanhada no refrão com famosos gritinhos "Uh La La La", imitados pelo coro dos presentes) e "Ready or Not", ambas também do Fugees. Hill parecia se apoiar nas backings vocals nas notas mais agudas, porém, sua voz segue com a deliciosa rouquidão característica, e, apesar de falhas aqui e ali, ainda consegue segurar a bronca chegando a impressionar - como ocorreu no hit "Killing Me Softly", primeiramente executado em uma versão alternativa, que não agradou tanto, sendo repetido em seguida na forma como é conhecida (e aí sim, bastante aplaudida pelo público).
No bis, Lauryn manteve a firmeza ao escolher duas faixas de peso: "Turn Your Lights Down Low" (iniciada com uma gravação tocada pelo DJ, e com cantora e banda entrando durante a primeira parte da canção) e "Doo Wop (That Thing)", um dos hinos da black music nos anos 90. Em uma apresentação que não teve o mais glorioso dos inícios, mas que se encerrou lá em cima, não é bobagem dizer que Lauryn Hill parece estar, aos poucos, a caminho de seu retorno como a cantora que acumulou fãs ao redor do globo na década passada (mesmo com o possível fato da roupagem mais pesada ao vivo não ter agradado alguns ouvidos). Ou isso, ou o público de São Paulo teve sorte. Preferimos crer na primeira opção.
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