Guitarrista e cantor que inspirou toda uma geração de músicos passou décadas batalhando contra a diabetes
Rolling Stone EUA Publicado em 15/05/2015, às 10h15 - Atualizado às 12h23
O lendário guitarrista e cantor B.B. King, que ajudou a popularizar o blues elétrico – tocando para diversas plateias por mais de seis décadas – morreu na última quinta, 14, em Las Vegas, nos Estados Unidos. Ele tinha 89 anos.
Como um garoto, aos 87 anos em 2012, B.B. King fez show memorável em São Paulo. Relembre aqui.
King, que foi diagnosticado com diabetes há cerca de 30 anos, foi hospitalizado no mês passado devido a uma desidratação. No último mês de outubro, ele foi forçado a cancelar oito datas de shows por desidratação e exaustão. O advogado dele, Brent Bryson, confirmou a morte à agência de notícias Associated Press na madrugada desta sexta, 15.
Blues e muito charme: B.B. King encantou São Paulo em 2010. Relembre aqui.
Já perto dos 90 anos, King fazia turnês de até um ano inteiro pelo mundo, na posição inigualável de embaixador do blues. Seu estilo indelével – uivos vocais roucos junto a ressonantes vibratos de uma nota na guitarra batizada de Lucille – definiram o gênero. Ele ganhou 15 prêmios Grammy e foi introduzido ao Hall da Fama do Rock and Roll em 1987.
“Ele é, sem dúvidas, o mais importante artista que veio do blues em todos os temoos”, escreveu Eric Clapton em sua biografia de 2008. “E o homem mais humilde e genuíno que você gostaria de conhecer. Em termos de dimensão ou estatura, acredito que se Robert Johnson fosse reencarnado, ele seria, provavelmente, B.B. King.”
De Eric Clapton a Buddy Guy, todos do estilo imitaram B.B. King.
King não fez nada pequeno. Seus excessos incluíam comida, mulheres (ele supostamente tem 15 filhos com 15 mulheres diferentes) e apostas (ele se mudou para Las Vegas em 1975). Seu som também era grande: falando sobre “When Love Comes to Town”, dueto de 1988 de King com o U2, Bono lembra-se: “Entreguei absolutamente tudo que eu tinha naquele grito no começo da música. E então B.B. King abriu a boca dele e eu me senti como uma criança. Aprendemos e absorvemos, mas quanto mais tentávamos parecer com B.B. king, menos convincentes éramos.”
Abaixo, uma foto de King em São Paulo, em 2012.
Trajetória
Ele nasceu Riley B. King em Itta Bena, no Mississippi, em 16 de setembro de 1925. Seu jovens pais se divorciaram quando ele tinha cinco anos de idade e sua mãe morreu quando ele tinha nove, deixando-o para ser criado pela avó materna.
King largou a escola no começo do colegial (mas estudou vigorosamente matemática e línguas até mais velho) e passou a viver colhendo algodão por um centavo a cada meio quilo e cantando músicas gospel em uma esquina do local.
Ele se casou aos 17 anos. “Acho que estava em busca de amor, porque eu nunca tive ninguém que eu acreditasse que realmente me amava”, disse ele à Rolling Stone EUA em 1998. Foi o primeiro de dois casamentos que deram errado. “Desde o começo da minha infância tive problemas em tentar me abrir. Por favor, abra-me. Olhe lá dentro! Porque eu não consigo. Não sei como fazer isso.”
Em 1948, King vivia em Memphis, trabalhando como um motorista de trator, quando ele fez um show no programa de rádio local de Sonny Boy Williamson. Aquilo o levou a um trabalho em uma casa de show popular da cidade, tocando por seis noites na semana, ganhando US$ 12 por noite.
Em Memphis, ele conheceu artistas como Louis Jordan e T-Bone Walker, com os quais ele ouviu o som de uma guitarra elétrica pela primeira vez na vida. “T-Bone tinha, para mim, aquela sonoridade de ser estar no paraíso”, disse ele.
King teve seu primeiro hit no topo das paradas em 1951, com “3 O’ Clock Blues”. Outras dezenas de hits alcançaram tal posição, incluindo “You Upset Me Baby”, de 1954, e “Sweet Sixteen”, de 1959.
Nos anos 1960, o sucesso das bandas britânicas influenciadas pelo blues ajudou a ampliar o apelo a King. Ele começou a tocar para plateias brancas de rock com gente como os Rolling Stones e Eric Clapton. Nessa época, a sonoridade dele começou a mudar.
Quando a Rolling Stone incluiu King entre os 100 Maiores Guitarristas, Billy Gibbons do ZZ Top disse: “Houve um momento de virada, mais ou menos na época de Live at the Regal [de 1965], quando seu som assumiu uma personalidade que hoje é intocável – este timbre arredondado, no qual o captador de cima e o de baixo estão fora de fase.”
Ele acrescentou: “E B.B. ainda toca com um amplificador Gibson que não é produzido há muito tempo. Seu som vem dessa combinação. É simplesmente B.B”. Algumas das melhores gravações de King são os discos ao vivo, incluindo Live in Japan e Live at Cook County Jail, que mostra sua entrega magistral e carisma de showman das antigas.
Já no fim dos anos 1960, King mudou-se para Nova York e começou a trabalhar com o empresário Sid Seidenberg, que o ajudou a reduzir seus hábitos de aposta e o colocou no estúdio com grandes produtores. Os hits que se seguiram incluem “Paid the Cost to Be the Boss” (1968), “Why I Sing the Blues” (1969) e “Thrill Is Gone” (gravada originalmente em 1951 por Roy Hawkins), que rendeu um Grammy a ele em 1970.
Na década de 1970, King também gravou discos com o amigo de longa data Bobby Bland: Together for the First Time...Live (1973) e Together Again...Live (1976), e a canção “To Know You Is to Love You”, de 1973, produzida por Stevie Wonder.
Em 1988, ele gravou “When Love Comes To Town” para o disco do U2 Rattle and Hum. Bono depois lembrou uma história das sessões de estúdio: “Quando estávamos trabalhando, estávamos mostrando a ele os acordes e ele disse: ‘Senhores, não faço acordes. Faço isso [referindo-se a seu estilo de solar]’. Há uma lição naquilo. Ele é, como Keith Richards descreve, um perito.”
Em 1991, o B.B. King’s Blues Club abriu em Memphis. Em pouco tempo, ele teria clubes por todo o país. Ele continuou tendo sucesso comercial até mais tarde em sua carreira. Em 2000, Riding With the King, álbum gravado com Eric Clapton, chegou ao topo das paradas norte-americanas de blues e vendeu mais de 2 milhões de cópias.
King era também um entretenedor fora do palco, frequentemente fazendo encontros, no quais ele conversava com os fãs e “crianças da guitarra”, como ele os chamava, por horas. Ele também era ávido leitor e entusiasta da internet que uma vez ensinou um jovem repórter como transferir vinil para mp3. “Deus, não sei como eu vivia sem isso!”, disse ele sobre o computador.
“Estou mais lento”, disse ele à RS EUA em 2013. “Conforme você fica mais mais velho, seus dedos às vezes incham. Mas eu faltei 18 dias em 65 anos. Alguns caras simplesmente escapam. Nunca fiz isso. Se tenho um show agendado, vou lá e toco.
Ele acrescentou: “As plateias me tratam pelo meu último nome. Quando subo ao palco as pessoas normalmente ficam de pé, sendo que eu nunca pedi isso a eles, mas eles fazem. Eles se levantam e não sabem o quanto eu gosto disso.”
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