Tributo a Celso Blues Boy no festival - Cezar Fernandes/Divulgação

Léo Gandelman e tributo a Celso Blues Boy marcam os dois primeiros dias do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival

Evento gratuito, que ocorre até o próximo domingo, 2 de junho, ainda teve apresentações de Lancaster, John Primer e outros

Antônio do Amaral Rocha, de Rio das Ostras Publicado em 31/05/2013, às 17h57 - Atualizado às 18h14

O Festival de Jazz e Blues de Rio das Ostras teve a abertura na última quarta, 29, com a apresentação da Orquestra Kuarup de Sopros e Cordas, formada por ex-alunos da escola de música da cidade. Dirigidos pelo maestro Nando Carneiro, os artistas tocaram clássicos da música brasileira com a participação do flautista David Ganc. No repertório, temas de Jobim e Baden Powell. Normalmente este show serve como esquenta para as novidades reservadas ao palco principal do festival, o Costazul. Neste ano, merece destaque a melhoria nas instalações neste espaço, especialmente o piso que foi totalmente recoberto com placas de plástico de material reciclado para evitar a lama que incomodou em anos anteriores.

Dando sequência à programação, subiu ao palco a Big Banda 190. O grupo, formado por 18 músicos da polícia militar do Rio de Janeiro, encontrou surpreendente aceitação do público, tocando temas clássicos do jazz e e do repertório brasileiro com destaque para “Inviting”, “Retalhos”, do maestro Cipó, e “Melancia”, de Rique Pantoja.

No terceiro show da noite de quarta o blues deu as caras. O frontman é o guitarrista Lancaster, um competente bluezeiro que traz a marca dos mestres tradicionais do gênero, como T-Bone Walker, Muddy Waters e B.B. King. Lancaster tocou com um quinteto, onde se destacou o órgão Hammond de Flávio Naves, escudado pela guitarra de Thiago Cerveira, pelo baixo de Izal de Oliveira e pela bateria de André Machado. O repertório veio do disco Blues Journey.

John Primer & The Real Deal Blues Band foi a última atração desta primeira noite. Sabendo que precisaria agradar, Primer, que já teve passagem pela banda de Muddy Waters, não se arriscou a fazer repertório desconhecido e tocou só clássicos do blues, acompanhado por Russel Green (gaita), Melvin Smith (baixo) e Jason Ferguson (bateria). O que se sobressai é a extrema simplicidade de Primer, trajado com roupas simples e um chapéu, sem enfeites e firulas, algo não muito comum entre os bluesmen. O que importa para ele é a música e a busca da interação com a plateia. E não foi diferente. Depois de uma hora e meia de show, voltou para o bis e tocou durante mais 15 minutos. E às duas horas da manhã, o público de certa de 15 mil pessoas aos poucos foi esvaziando o renovado espaço do palco Costazul.

No quinta-feira, 30, Primer iniciou a maratona repetindo o show da noite anterior no palco da Lagoa de Iriry. Este espaço, que é um anfiteatro ao ar livre, permite uma integração maior entre o artista e a plateia. E o show energético e de pura alegria de Primer foi aplaudido por cerca de cinco mil pessoas. O público que frequenta o espaço da Lagoa do Iriry merece um comentário à parte: meninas bonitas, queimadas de sol, casais com filhos pequenos, velhos hippies e neo-hippies compõem uma audiência sui generis, totalmente diferente da plateia dos outros palcos do evento.

A programação continuou no palco da Praia da Tartaruga com um dos shows mais esperados de toda esta edição. Este palco é montado sobre uma pedra que, literalmente, invade o mar. E desta vez, o espaço se mostrou pequeno pela grandiosidade da atração, ninguém menos que o baixista Stanley Clark, sinônimo de jazz-fusion elevado à décima potência. Stanley se mostrou carismático, falando com a plateia o tempo todo, tocando seu baixo elétrico como instrumento solo enquanto revezava com o baixo acústico, com o mesmo virtuosismo na fusão de jazz, funk, rock e R&B. Neste show, Stanley chegou a usar o corpo do baixo acústico como caixa de madeira para uma batucada enquanto a mão esquerda continuava nas cordas, transformando o contrabaixo em um instrumento percussivo. A resposta da plateia foi imediata. Stanley conquistou corações e mentes com sua performance magnética e confirmou o que já era esperado.

Mas mais emoções ainda estavam reservadas para segunda noite. E elas vieram com o show do violonista Diego Figueiredo, que no Brasil é conhecido por poucos. E quem perde com isso é o próprio público brasileiro, como se pôde ver nesta apresentação de Figueiredo, que veio acompanhado de Gabriel Grossi (gaita), Robertinho Silva (bateria), Eduardo Machado (baixo) e Alexandre Pio (teclado). O violonista, que disputou com Yamandú Costa o prêmio Visa de 2001 e ficou em segundo lugar, faz carreira vitoriosa no exterior e tem na bagagem 20 CDs em dez anos de carreira. Com um violão ovation com cordas de nylon, ele fez uma apresentação performática. Os solos vigorosos transformaram temas conhecidos em algo totalmente diferente do que se convencionou, dando nova dimensão às músicas. Foi assim com “Amor em Paz” (Tom Jobim), “Canto de Ossanha” (Baden Powell) e “Disparada” (Geraldo Vandré), além de “Malagueña”, emendada com “La Cumparsita”. E não bastasse o desempenho eletrizante, Diego Figueiredo fez ainda um coro de vinte mil vozes cantar “Carinhoso”, de Pixinguinha, sob seu acompanhamento ao violão, e ainda um “Parabéns” a Robertinho Silva, que completava 72 anos. Terminou de forma apoteótica executando um medley de baiões de Gonzaga.

A festa continuou com o saxofonista Léo Gandelman, que trouxe o guitarrista/baixista Charlie Hunter em uma banda que ainda contava com o baterista Renato Massa, o trombonista Serginho Trombone e o percussionista norte-americano, radicado no Brasil, Frank Colón. Léo fez parte do repertório do disco Vip Vop (Very Importante People e Very Ordinary People), e em certo momento perguntou se a plateia saberia o significado de “Laia, ladaia, sabatana de Maria”. Ele disse que também não sabia, mas que essa frase faz parte de “Reza”, uma das músicas mais importantes do repertório de Edu Lobo. E foi a deixa para executá-la. Até este dia, ele foi o único músico que ousou descer até o meio da plateia, uma prática muito comum entre os blueseiros, e passeou pelo longo espaço repetindo o refrão de “Reza” no sax tenor. De volta ao palco, Léo, com plateia ganha, ainda criou o refrão “A música é...”, meio samba repetido à exaustão simulando enquanto ele apresentava a banda.

A noite foi encerrada com o Tributo a Celso Blues Boy (foto), programado como uma homenagem ao lendário blueseiro morto em 2012, dois meses após ter participado da décima edição do festival. No palco, a banda que acompanhava Celso, mais o guitarrista Big Joe Manfra, o gaitista Jefferson Gonçalves e os vocais de Ivo Pessoa. Tinha tudo para ser uma festa com o emocional nas alturas – e foi. Celso era lembrado a todo o momento com projeções de fotos no telão e mesmo performances registradas em vídeo. O show foi uma releitura de parte do repertório de Celso, dos discos Marginal Blues, Quando a Noite Cai, Por um Monte de Cerveja, entre outros, e terminou apoteoticamente com “Aumenta que Isso Aí É Rock and Roll”.

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