- Liga da Justiça de Zack Snyder (Foto: Divulgação/HBO Max)

Liga da Justiça de Zack Snyder é um épico de super-heróis e carta de amor aos personagens da DC [REVIEW]

Com diversas polêmicas na pré-produção e filmagens, longa finalmente viu a luz do dia - para alegria dos fãs

Felipe Grutter (@felipegrutter) Publicado em 18/03/2021, às 14h00

Aleluia. Talvez seja essa palavra responsável por definir o lançamento de Liga da Justiça de Zack Snyder nesta quinta, 18. O épico de quatro horas da DC passou por várias polêmicas durante pré-produção e filmagens, mas, depois de muita luta dos fãs, finalmente viu a luz do dia. Snyder Cut é, sim, uma conquista dos fãs.

Dividido em seis capítulos e um epílogo, conta com algumas cenas de Liga da Justiça (2017), refilmada quase completamente por Joss Whedon (Os Vingadores e Era de Ultron). Agora, foram adicionadas novas camadas aos personagens, mitologia do Universo Estendido DC (DCEU) e cenas responsáveis por complementar as de 2017.

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Como é o tal do Snyder Cut? (Sem spoilers)

A trama do Snyder Cut é semelhante à Liga da Justiça (2017). Batman (Ben Affleck) está ciente de um terrível ataque alienígena e, motivado pelo sacrifício de Superman (Henry Cavill), parte com Mulher-Maravilha (Gal Gadot) na busca de guerreiros poderosos - são Flash (Ezra Miller), Aquaman (Jason Momoa) e Ciborgue (Ray Fisher) - para enfrentar a ameaça e salvar toda humanidade. Paralelamente, o vilão Lobo da Estepe (Ciarán Hinds) busca pelas três Caixas Maternas, artefatos alienígenas poderosos na Terra.

Mesmo com estrutura narrativa similar, Liga da Justiça de Zack Snyder fez um trabalho muito superior para contar essa história. Por exemplo: as motivações de Lobo da Estepe são muito mais claras (e diferentes) e toda submissão dele com o “chefe” Darkseid (cortado completamente em 2017), um dos maiores vilões da DC, ficou complexa. O vilão também está ameaçador com o visual mais assustador e longe de algo humanoide.

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Diferente de O Homem de Aço e Batman vs Superman (BvS), Snyder Cut parece mais um blockbuster (mesmo com quatro horas de duração). O roteiro não tomou tantas iniciativas diferenciadas e polêmicas. Maioria dos acontecimentos segue uma linha mais previsível.

Os personagens principais também ganharam mais complexidade. Flash, antes mero alívio cômico com alguns traumas familiares pouco aprofundados, saiu do papel de palhaço completo. Barry Allen teve mais espaço para mostrar a magnitude dos poderes e se aproximar do público, principalmente depois da cena com Iris West (Kiersey Clemons) - mas continua como ponto de humor.

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O principal destaque é Victor Stone/Ciborgue, coração do filme. Em 2017, todo background e motivações do personagem, se não cortadas, ficaram em segundo plano. Snyder Cut mostrou todo conflito dele na transformação de um cara normal para super-humano e relação com os pais, Elinore (Karen Bryson) e Silas Stone (Joe Morton). A atuação de Ray Fisher é de cair o queixo e surpreende por esse ser o primeiro longa dele.

Batman, Mulher-Maravilha e Aquaman cumprem as devidas funções no roteiro e não se destacam tanto quanto os outros heróis, mas nas cenas de ação se saíram muito bem. Uma das maiores surpresas foi o Coringa de Jared Leto. Polêmico e odiado por fãs e críticos em Esquadrão Suicida (2016), o Palhaço Príncipe do Crime tem um diálogo tenso e de arrepiar com Bruce Wayne.

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Aspectos técnicos

Como todo filme de Zack Snyder, Liga da Justiça é um espetáculo visual, especialmente quando Flash entra em ação: raios azuis e câmera lenta predominam na tela.

Além disso, as cenas de ação melhoravam cada vez mais. Com ótimos cortes e posicionamentos de câmera, Snyder transmitiu senso de grandiosidade e trouxe momentos de tirar o fôlego. Destaque para a batalha da humanidade; velhos deuses, amazonas e atlantes contra Darkseid nos primórdios do planeta Terra.

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O diretor encaixou esses vários personagens e acontecimentos na tela de maneira orgânica. Nada pareceu apressado ou desnecessário. Afinal, não teria como apresentar novos heróis - como Ciborgue e Flash - e introduzir uma invasão alienígena de escala épica em apenas duas horas, como, infelizmente, aconteceu em 2017.

Vale notar a ótima trilha sonora de Tom Holkenborg, conhecido como Junkie XL. As canções de Holkenborg deixaram as filmagens de Zack Snyder ainda mais épicas, especialmente nas cenas de ação frenéticas. Os temas dos heróis e vilões parecem algo mítico, digno de um deus. É a maneira como são retratados pelo próprio diretor, no roteiro de Chris Terrio e nos posicionamentos de câmera.

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Assim como Snyder, Junkie XL foi substituído no corte de 2017. Quem entrou no lugar foi Danny Elfman, responsável por trilhas icônicas para Batman (1989), O Estranho Mundo de Jack (1993) e Edward Mãos de Tesoura (1990). Tom Holkenborg retornou para finalizar o trabalho no Snyder Cut.


Depois de vencerem a “guerra” e conquistarem o Snyder Cut, fãs do diretor pedem para Warner restaurar o universo cinematográfico encabeçado pelo cineasta, enquanto o estúdio segue outra linha editorial. Isso é notável pelos próximos projetos e os lançados recentemente, como Shazam! (2019), Mulher-Maravilha 1984 (2020), The Batman, Coringa (2019), entre outros.

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Fãs sugeriram continuação da Liga da Justiça de Zack Snyder como revista em quadrinhos ou animação, porque uma versão live-action custaria bastante dinheiro. Nada foi confirmado pelo cineasta ou Warner/HBO Max. Recentemente, planos originais de Snyder para as sequências vazaram na internet (mas o cineasta descartou as ideias e fez outro roteiro).

Até o momento, Zack Snyder disse que esse seria o último longa dele com personagens da DC. Se realmente for uma realidade, Liga da Justiça é uma despedida muito satisfatória, mesmo com ganchos deixados ao final da produção. É uma épica carta de amor aos personagens.

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Ascensão e queda de Zack Snyder (e ascensão de novo?)

Como diretor, Zack Snyder começou com curtas e clipes de música. Porém, em 2004, tudo mudou. Trouxe aos cinemas Madrugada dos Mortos, remake do clássico Despertar dos Mortos, dirigido por George A. Romero. A produção de baixo orçamento foi sucesso de público e crítica, e o cineasta começou a chamar atenção em Hollywood.

Depois, adaptou 300, inspirado nas HQs de Frank Miller, para as telonas. Mais um grande acerto de Snyder. Começou a se aventurar com super-heróis em 2009, com Watchmen: O Filme. Então, com o sucesso dos filmes de herói da Marvel/Disney, a Warner Bros. responsabilizou o diretor em dar vida aos heróis da DC Comics e criar o próprio universo cinematográfico compartilhado. Como artista autoral, Zack Snyder queria fazer do próprio jeito.

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Com os heróis da DC, dirigiu O Homem de Aço (2013), estrelado por Henry Cavill. Não saiu como esperado: teve reações mistas da crítica, mas boa bilheteria. Tudo mudaria com a estreia do polêmico Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016).

Quando BvS chegou aos cinemas, as opiniões se dividiam entre “amei” e “odiei.” Snyder colocou a interpretação e visão dele sobre os personagens: Superman (Henry Cavill) sofria diversas pressões da sociedade e era perseguido por Batman (Ben Affleck) - assim como também o perseguia. Para as tensões aumentarem, homem-morcego assassinava os inimigos (diferente do modus operandi dos quadrinhos, onde jamais mata) e Clark Kent morreu nas mãos de Apocalipse.

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Foi uma decepção para Warner. O estúdio esperava arrecadar algo na casa do bilhão de dólares, mas a bilheteria ficou perto dos US$ 800 milhões - principalmente por ter dois dos maiores ícones da cultura pop no elenco. Além disso, difere-se bastante das produções predominantes da Marvel, as quais contam com narrativas mais leves e palpáveis ao público infantil - e ambas abordagens são ótimas.

Como o capitalismo gira o mundo, a Warner passou a ter, de certa forma, um pé atrás com Zack Snyder na direção, e começou a interferir no trabalho dele em Liga da Justiça, continuação de BvS. Como o próprio cineasta disse à Vanity Fair, o estúdio pedia por mais humor no roteiro, reescrito em partes por Joss Whedon na época. Snyder lutava para manter a própria identidade, mas tudo ficou mais difícil após grande tragédia familiar.

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Autumn Snyder, filha dele, tirou a própria vida em 12 de março de 2017, aos 20. Desmotivado no trabalho, Snyder decidiu se afastar de Liga da Justiça - e Whedon foi escolhido pela empresa para completar o trabalho. O diretor dedicou Snyder Cut para Autumn.

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Por conta da substituição e vontade da Warner, várias cenas foram cortadas e adicionaram momentos constrangedores e problemáticos, como Flash (Ezra Miller) caindo de cara nos seios de Mulher-Maravilha (Gal Gadot).

Em 16 de novembro de 2017, Liga da Justiça estreou e foi um enorme fracasso de público e crítica. Alguns anos depois, Ray Fisher, o Ciborgue, relatou atitudes abusivas e tóxicas de Whedon e dos produtores Geoff Johns, Jon Berg e Walter Hamada.

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Depois do lançamento, fãs começaram a pedir para Warner lançar a versão de Zack Snyder de Liga da Justiça. No Twitter, @MoviesThatMaher, fã de Snyder e DC, iniciou o movimento com a hashtag #ReleaseTheSnyderCut em 21 de novembro de 2017.

#releasethesnydercut

— Movies That Maher w The Viking (@MoviesThatMaher) November 21, 2017

Paralelamente aos pedidos, fãs do diretor criaram uma campanha em tributo à Autumn para arrecadar dinheiro para American Foundation for Suicide Prevention (AFSP), ONG estadunidense com foco em prevenção do suicídio. Iniciativa tem apoio de toda família Snyder.

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Muitos não acreditavam na existência do Snyder Cut, mas em maio de 2020, HBO Max o anunciou oficialmente, para alegria dos fãs. Ainda bem.

O filme estreou nesta quinta, 18, por meio de aluguel digital no Brasil. Com personagens complexos, trilha sonora fantástica e espetáculo visual, Snyder Cut é uma das melhores produções do gênero e uma redenção para Zack Snyder.

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+++ LAGUM: 'BUSCAMOS SER GENUÍNOS' | ENTREVISTA | ROLLING STONE BRASIL

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