Sam Rivers e Fred Durst no show do Limp Bizkit em São Paulo - Stephan Solon/Divulgação

Limp Bizkit revive amor platônico dos fãs

Passagem da banda pelo Brasil comove o público com show repleto de hits na última terça, 26, em São Paulo

Por Bruno Raphael Publicado em 27/07/2011, às 11h58 - Atualizado em 02/08/2013, às 19h14

"Vocês são uns filhos da puta malucos." Essa foi uma das primeiras frases ditas pelo vocalista do Limp Bizkit, Fred Durst, durante a apresentação da banda na última terça, 26, em São Paulo. Qualquer um que estivesse alheio ao fato de ser apenas o segundo show da banda no Brasil (o primeiro foi no Rio de Janeiro, no último dia 23), após 16 anos de carreira, deixaria se levar normalmente pela presença do grupo no palco. Mas, para os fãs de verdade, que ainda compravam CDs quando o Limp Bizkit surgiu, lá pelos idos de 1997, o dia 26 de julho marcou uma data sagrada, o encontro com o amor platônico mantido desde a virada do século passado.

E, como em todo amor platônico, a ansiedade tomava conta. Eram pouco mais de 22h quando as luzes se apagaram na Via Funchal. Gritos histéricos, em sua maioria de homens, ressoavam por todas as paredes. Podia-se contar poucas mulheres na plateia: boa parte estava acompanhada de seus namorados que, animados, tiravam as camisas e gritavam palavrões aos ouvidos dos amigos.

Então, sorrateiramente, um homem se esgueirou pelo canto do palco. Estava pintado de branco e grafite, e usava uma proteção no rosto. Os novos gritos do público não deixaram dúvidas: era Wes Borland, o guitarrista teatral do Limp Bizkit. Se arrastando, ele chegou ao meio do palco, fez sinal de silêncio para o público, que respondeu com gritos relutantes, quase como se quisessem impressionar o ídolo de alguma forma. Ao fundo era possível ouvir "Introbra", do último disco da banda, Gold Cobra, lançado no fim do mês passado. De repente, Borland empunhou a guitarra e iniciou os pesados riffs iniciais de "Hot Dog". As cortinas se abriram e Fred Durst e o resto da banda esbravejaram os primeiros versos da canção. Quase como em uma passeata de uma seita religiosa, todos ali presentes começaram a pular com as mãos para o alto. Começava ali algo mais forte que um show para muitos - era a concretização final de um sonho adolescente.

Para mostrar que o amor que sente pelos fãs é recíproco, a primeira atitude de Durst foi mostrar o dedo médio em direção à plateia, que retribuiu. As rodas de bate-cabeça mais pareciam uma cena retirada do filme Clube da Luta. Ao começo de cada canção, era como se amigos virassem gladiadores, num duelo de cotoveladas que sempre resultava em um indivíduo suado quase desmaiando ao fim de cada música. Mas para Fred Durst o caos é diversão, e isso se provou quando ele chamou os membros da pista comum para entrar na área VIP da Via Funchal. "Vocês precisam arrumar essa merda, é o Limp Bizkit aqui", disse Durst, peitando toda a infraestrutura do local. Centenas pularam as grades e se aproximaram mais do ídolo, e mais gritos histéricos ecoaram ao som de "My Generation".

"Dezesseis anos para vir para cá. Conversando com vocês pela internet, lembro que disse, 'Ok, vamos ver o que vocês podem mostrar'. E vocês são os melhores", falou Fred Durst, antes de arranhar em português um "Obrigado, te amo". "My Way" continuou o ritmo de hits do show, que só parou quando o DJ Lethal decidiu discotecar com "Seven Nation Army", dos White Stripes, e "Song 2", do Blur, enquanto Durst distribuía cervejas ao público. "Vocês são todos animais", disse o vocalista, carinhoso à sua maneira. "Eu não acho que os seguranças gostem mais da gente."

Se aproximando do fim da apresentação, "Nookie" deixou ainda mais nostálgicos alguns fãs. Homens com cerca de 30 anos pareciam voltar a ter 15. As poucas mulheres se esquivavam dos amigos, dos namorados ou de estranhos que, vez ou outra, caíam no chão de repente. Ao final da canção, Fred Durst subiu na bateria de John Otto e de lá se despediu.

Na volta para o bis, Durst dedicou "Behind Blue Eyes", cover do The Who, aos fãs: "Esta não é para mim, é para vocês". Celulares e isqueiros subiram ao ar durante o refrão da canção, que deu lugar ao peso de "Take a Look Around", uma das mais famosas do Limp Bizkit. Logo após veio "Faith", e o vocalista chamou ao palco todas as mulheres presentes e, por instantes, o lugar realmente pareceu ser o único reduto feminino do recinto.

Democrático, Durst deixou a cargo do público escolher a penúltima música a ser tocada pela banda. Na dúvida entre "Pollution" e "Counterfeit", o Limp Bizkit começou a tocar a primeira, mas após perceber o apelo do público, o vocalista pediu para o grupo tocar a segunda opção. "Rollin' (Air Raid Vehicle)" levou o mosh pit ao seu nível máximo, com praticamente todo o público do lugar a pular e se agitar. Para quem é ou foi fã da banda, mesmo que só a tenha ouvido novamente nesse show, após guardar os discos na gaveta por dez anos, foi um momento único.

Se depender de Fred Durst, a celebração deve se repetir com mais frequência, já que ele prometeu voltar outras vezes ao país a partir de agora.

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