Festival que une música e skate voltou à capital mineira neste sábado, 18, com boa organização
Ana Clara Matta, de Belo Horizonte Publicado em 19/10/2014, às 11h31 - Atualizado às 11h58
Em um momento fugaz da tarde quente e seca que abrigou a segunda edição do Circuito Banco do Brasil em Belo Horizonte, neste sábado, 18, Jorge Du Peixe repetiu o verso de Chico Science como palavras de ordem: “Que eu me organizando posso desorganizar”. Era apenas mais um trecho de música, no show afiadíssimo que o Nação Zumbi realizou na capital mineira, mas pode facilmente se tornar um resumo de algo maior - da própria arte envolvida em um festival de rock.
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Apenas uma boa organização (de notas em uma música ou de elementos em um grande evento) permite que a desorganização típica do rock, a iconoclastia dele, flua de maneira prazerosa. O Circuito Banco do Brasil foi um festival bem organizado, no qual cinco bandas e milhares de fãs de todas as idades possíveis trocavam canções sobre o instinto desobediente da juventude, do rock e da contracultura.
O público que juntou toda a sua coragem e enfrentou o sol de 14h na Esplanada do Mineirão foi presenteado com uma exibição de gala de alguns dos melhores skatistas da modalidade street style no país. Campeões mundiais como Kelvin Hoefler, Ferrugem, Gugu e Piolho fizeram seus shows particulares, formando um line-up paralelo invejável, para o pequeno público presente. O DJ da competição seguia as instruções dos atletas, o que resultou em uma vibrante mistura de hip-hop, hard rock e punk saindo das caixas de som.
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Vencedores do concurso VOZPRATODOS, os cariocas do Stereophant tiveram a honra de inaugurar o palco do festival, diante de uma boa quantidade de fãs da principal atração da noite, o Linkin Park, já grudados na grade. Suas influências estavam à flor da pele - o baixo remetia à tradição do metal, o post-hardcore pontuava em algumas oscilações bruscas de ritmo, as letras de caráter social e os trejeitos do vocalista apontavam para a direção de Zack De La Rocha, do Rage Against The Machine. A sensação, porém, é de que os elementos nunca eram somados para a produção de algo maior ou mais original - apenas sobrepostos, empilhados.
Essa produção de algo maior a partir de elementos anteriores é a essência da banda que ganhou o palco na sequência. Especialmente quando recorria aos hits de Chico Science, a Nação Zumbi provou que a sonoridade do está mais atual do que nunca, com a ajuda de uma seção rítmica invejável e arrepiante.
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O choque da plateia mais jovem era palpável no exato momento em que o Titãs subiu ao palco, com todos os integrantes mascarados, agressivos, com o peso dos vocais e da guitarra e as letras diretas de inspiração punk – elementos que, apesar de velhos conhecidos da banda nos anos 1980, permaneceram dormentes por um longo período nas décadas mais recentes. Parte da turnê do novo álbum Nheengatu, o Titãs chegou com um show altamente político, explosivo, que passeou por faixas subversivas como “Polícia” e o cover de “Aluga-se”, de Raul Seixas, até culminar em “Vossa Excelência”, usada pelo público presente, formado por partidários dos dois lados das eleições de 2014, como catarse, em altíssimo som, de toda a raiva e frustração apenas destilada nas redes sociais.
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Se a grande maioria do público aguardava a última banda da noite, alguns fãs, destoando em estilo da multidão e trocando as camisetas pretas por coroas de flores (desorganizando o padrão estético da noite), esperava ansiosamente pela entrada de Brendon Urie e seu Panic! at the Disco. A desobediência do Panic! surgia na contraposição de trechos em áudio de propagandas e filmes moralistas dos Estados Unidos nos anos 1950 e as letras densas, violentas e sensuais da banda.
O Panic! at the Disco provou em Belo Horizonte que sua nova formação funciona perfeitamente – a qualidade da performance, porém, foi apagada pela monotonia da setlist, que praticamente ignorou as duas primeiras roupagens do trifásico grupo norte-americano, e focou grande parcela da apresentação em músicas dos dois últimos álbuns de Urie e companhia. Pouca variação oferecida por uma banda incrivelmente variada e uma conexão reduzida com o público (salvos os fãs presentes) pela sua relutância em abraçar os hits do passado.
Essa relutância voltaria a surgir apenas como um pequeno soluço na apresentação do Linkin Park – a retirada da clássica, e favorita dos fãs, “Crawling”, do roteiro. Outra ausência era a do guitarrista Brad Delson, indisposto. E da canção “Castle of Glass”, incluída no setlist mas cancelada após um problema nos sintetizadores de Mike Shinoda. Mas não era a decepção que pautava o clima dos fãs após o show e, sim, a euforia que acompanha uma grande apresentação.
Shinoda era o mestre de cerimônias e maestro da banda, coordenando um concerto complexo, cheio de medleys, fusões e trocas de instrumentos. Uma tempestade de elementos sintéticos interrompida, a cada refrão, por algo puramente orgânico: o alcance vocal de Chester Bennington e sua química com a audiência, que cantava, pulava e respondia a todo e qualquer comando dos ídolos.
Rob Bourdon foi o destaque da noite, em um ponto de vista crítico e nas conversas ouvidas após o show. Um gigante essencial ao funcionamento do show do Linkin Park, e um raro caso do baterista que rouba a cena. Joe Hahn permanecia impassível, metodicamente comandando as pick-ups da banda que tornou a teoria híbrida de rock, hip-hop e eletrônico uma realidade prática.
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Chester Bennington gritava para a plateia os versos de “One Step Closer”, single do primeiro álbum do Linkin Park. “Shut up when I'm talking to you”, ele bradava, mas apesar desse grito de cale-se, a multidão apenas retribuía o verso no mesmo volume. Uma espécie simbólica e catártica de desobediência. É o rock, que após ter seu palco organizado, chega para desorganizar.
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