Fundador do Lollapalooza diz não ver diferença entre os mercados brasileiro e norte-americano
Paulo Terron Publicado em 31/03/2013, às 15h00
Deitado em uma poltrona da sala presidencial do Jockey Club de São Paulo, Perry Farrell, fundador do Lollapalooza, sonha com uma festa sem fim. “No ano que vem, queremos ter mais acesso ao Jockey Club”, diz, apontando para uma gigantesca mesa de madeira do ambiente, cercada por pinturas dos homens que presidiram a instituição ao longo das décadas. “Os anciões têm de permitir! Neste ano só conseguimos liberar esta sala para dar entrevistas, mas quero fazer um banquete aqui, uma grande festa para as atrações principais, para pessoas que eu queira impressionar e divertir.”
Entre os sonhos e a realidade, Farrell explicou para a Rolling Stone Brasil quais são os desafios e as vontades da edição brasileira do festival nos próximos anos, além de analisar a crise do mercado de shows.
Você já se sente em casa aqui no Lollapalooza Brasil?
Ainda não. Mas vou ser sincero com você, é o que você quer, não? Na noite passada [no primeiro dia do evento, na sexta-feira] estava frio e eu não estava com roupas apropriadas e senti como se não conhecesse este lugar de forma alguma, me senti longe de casa – ia chover, havia umas nuvens negras gigantescas. Eu estava vestindo shorts e pensando “é verão!”. Não é. E aí anoiteceu, eu tomei algumas caipirinhas... Comecei a me sentir entre amigos. E hoje já está sol, então ninguém está se sentindo como se houvesse um peso sobre as nossas cabeças, deu para andar mais [pelo festival].
Deve haver algumas coisas que você aprendeu com o Lollapalooza Brasil no ano passado e aplicou neste para melhorar o evento. Quais são elas?
Te digo isto: a GEO, nossa copromotora, é muito boa em produção. À parte da produção cabe a infraestrutura: palcos, áreas dos artistas, o funcionamento de tudo, dos banheiros, coisas assim. Eles fazem ótimo trabalho nisso. Nesse sentido, não teve muito problema. É fácil entrar e sair [do Jockey Club]... No ano passado, tivemos problemas com as entradas. E acabou sendo: “Meu deus, foi porque vendemos 80 mil entradas em apenas um dia”. Quando você tem 80 mil pessoas tentando comprar ingressos, não me importa se você é o Paul McCartney - vai dar problema. Como eu soube disso tudo? Todo mundo tuitou me dizendo que eu era um cuzão. [risos] Mas não é minha culpa! Esse foi o nosso grande aprendizado em relação ao ano passado. No ano que vem, queremos evoluir. E muito de qualquer evolução, acredite se quiser, tem a ver com dinheiro. Quero integrar os artistas plásticos underground de São Paulo ao festival. Acho que eles podem contribuir muito com a festa. Os Gêmeos? Aqueles caras? Escuto falar deles há anos. Agora precisamos de arte, e ela virá. Mas como diria meu pai: “Vivemos em mundo fodido”. Essas coisas só funcionam se você tem dinheiro para pagar por elas. Estamos indo nessa direção. Tivemos um bom ano, e vai melhorar a cada ano.
Você está ciente da crise envolvendo o mercado de shows no Brasil? Os artistas cobram cada vez mais caro para tocar aqui, inviabilizando os eventos. Como isso afeta o Lollapalooza Brasil?
É um mundo fodido, meu filho! É assim que é. Sempre vai ser assim. O lado bom do capitalismo e da democracia é que você pode ser o que quiser. O lado ruim é que dá origem a corrupção e ganância. Aqui no Brasil é igual a como é nos Estados Unidos. Eu lido com isso há 23 anos. Nos anos 90, foi o que quase me tirou do negócio. Os artistas diziam: “Quero isto, se você não me der, eu faço sozinho”. Para ser sincero com você, foi por isso que o Lollapalooza desapareceu por uns três ou quatro anos. Não quero que você ache que não me sinto mal, que não tenho compaixão por vocês [do Brasil]. É preciso encontrar um modo para que as pessoas consigam comprar as entradas e possamos pagar esses cachês monstruosos. Eu gostaria de dizer que não são os artistas, são os empresários – mas são os artistas também. Os artistas poderiam dizer “não explorem tanto assim”. Mas não o fazem, na maior parte do tempo não o fazem. Claro que eles não o fazem porque é assim que eles se sustentam hoje, não é vendendo discos. A vida deles é baseada, equilibrada, no Lollapalooza, Glastonbury, Reading... Então, como fazer? Bom, sem ter Os Gêmeos criado arte para você, e usando isso para pagar o Pearl Jam. É uma troca. Gostaríamos – mas acho que não conseguiremos – de ter um balanço bonito no ano que vem, para conseguirmos pagar as bandas e os artistas plásticos. É um sonho.
O Lollapalooza Brasil está garantido para os próximos anos?
Na minha mente, consigo ver que o festival, neste ano, está “pegando”. Não digo isso relacionado a nada político ou do ponto de vista de negócios, mas sim dos frequentadores. O que vejo nos olhos e na linguagem corporal deles é que estão sentindo a música do modo que nós sentimos nos Estados Unidos. É isso que vejo. Não sei se continuaremos no Jockey Club, não tenho como dizer. Agora há pouco eu estava falando sobre o segredo de se fazer uma boa festa. A receita é fácil, mas a execução, não. Primeiro, você precisa de um ambiente legal, como quando você vai comprar uma casa. Aí, você toca música que seja ótima. Com música ruim, você só atrai inteligência ruim, burrice. Com música boa, profunda, você alimenta os inteligentes, os grandes pensadores. E eles amam a sua festa. É assim que eu faço. São Paulo é muito legal, até se parece um pouco com Chicago. Mas tem um estilo diferente. No Lollapalooza, nosso objetivo agora é identificar esse estilo para nos integrarmos à cidade, inclusive pedindo ajuda [da prefeitura]. Porque há muito talento aqui em São Paulo. É o que vamos fazer, temos algumas ideias muito boas.
Morre Andy Paley, compositor da trilha sonora de Bob Esponja, aos 72 anos
Viola Davis receberá o prêmio Cecil B. DeMille do Globo de Ouro
Jeff Goldblum toca música de Wicked no piano em estação de trem de Londres
Jaqueta de couro usada por Olivia Newton-John em Grease será leiloada
Anne Hathaway estrelará adaptação cinematográfica de Verity de Colleen Hoover
Selena Gomez fala sobre esconder sua identidade antes das audições