O Flaming Lips trouxe sua sonoridade psicodélica para o palco Cidade Jardim - Carolina Vianna

Lollapalooza 2013: a festa estranha com gente esquisita do Flaming Lips

Com show anticlimático – porém cheio de climas –, banda veterana quase não fez questão de agradar a um público apático

Pablo Miyazawa Publicado em 29/03/2013, às 21h35 - Atualizado em 02/04/2013, às 19h38

Havia certa expectativa ao redor do show do Flaming Lips nesta sexta, primeiro dia do festival Lollapalooza Brasil. Em 2005, a banda de Oklahoma liderada pelo provocador Wayne Coyne fez uma aparição memorável e típica no Festival Claro Q é Rock. Houve figurantes vestidos de bichos de pelúcia pulando no palco em “Race for the Prize”; houve a famigerada bola plástica transparente que envolveu o vocalista e foi arremessada na plateia (talvez um momento dos mais tocantes já proporcionados por uma banda ao vivo); houve o maior hit do Flaming Lips, “She Don’t Use Jelly” (1993). Quem esperava algo parecido dessa vez, entretanto, ficou no mínimo decepcionado.

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”Esquisito” pode ser uma boa definição para o evento que o Flaming Lips proporcionou no palco Cidade Jardim. Mesmo os fãs mais ardorosos das loucuras estilísticas de Coyne (e eles estavam na plateia, apesar de poucos e pulverizados na multidão) talvez tenham achado que algo não estava no lugar. A culpa pode ter sido da própria banda, ou mais exatamente do repertório escolhido. A maior parte do setlist foi baseada em The Terror, álbum que tem data marcada de lançamento para daqui duas semanas. Não foi esse apenas o motivo para a alienação do público durante a primeira metade da apresentação de quase uma hora e meia: as músicas de The Terror não funcionam ao vivo. São arrastadas, atonais e nem um pouco cantaroláveis – a banda parecia ignorar o fato de que não apenas o público não conhecia as músicas tocadas, como não estava exatamente aproveitando a experiência de maneira positiva.

Coney fez a parte dele para aprimorar o clima de estranheza no ar. Estático no meio do palco, vestido com um conjunto de calça e sobretudo verde-brilhantes (que ele definiu como “azul”), com as unhas pintadas de tons florescentes e cercado por esferas prateadas, ele foi o maestro do caos melódico e estético proporcionado pelo Flaming Lips, e responsável pelas cenas e frases bizarras que certamente perturbarão o sono dos mais sensíveis. Durante a maior parte do tempo, carregou no colo um bebê de brinquedo com tubos transparentes interligados simulando um cordão umbilical avantajado, que emanavam jorros de luz coloridos e repetidos. Vez ou outra, o vocalista beijava, ninava ou falava algo no ouvido do boneco. De tão bizarra, a cena não fazia nenhum sentido para quem assistia e pouco acrescentava à música produzida no palco. Pequenos polos de fãs de carteirinha puxavam coros de “Flaming Lips!” entre cada silêncio, mas estes não progrediam. "Viemos de Oklahoma e queremos sair hoje à noite e fazer algo nessa cidade louca!", Coyne gritou, sem causar muito alarde.

Na segunda metade, a banda trouxe a performance para um ambiente mais familiar – faixas de Yoshimi Battles the Pink Robots (2002), um dos mais bem sucedidos da carreira do grupo, que foi a base da primeira apresentação de 2005. Após “Are You a Hypnotist??”, Coyne exprimiu onde estavam os pensamentos dele naquele instante: “Este é um dos únicos lugares onde você vê um avião voando enquanto se canta!”, exclamou, olhando para o céu paulistano cinzento. Daí, polemizou, não deixando claro se a ideia era ser sem noção ou se fazer de louco. “Não seria muito maluco se o avião caísse na cidade enquanto a gente estivesse tocando?” Não houve vaias, muito menos aplausos. A questão parecia incomodar Coyne, que repetiu a indagação após “One More Robot”, quando sugeriu que os passageiros de outro avião passante poderiam observar as luzes do festival lá do alto. “Olhem lá, acenem!”. Em seguida, emendou mais dois “hits”: “Yoshimi Battles the Pink Robots Pt. 1” e “Do You Realize??”, na qual alterou o verso final para uma frase de relativo mau gosto: “Você está ligado / que em algum lugar / pessoas vão morrer / em um acidente de avião?”.

O público jamais reclamou ou mostrou tédio explicitamente, mas também não entrou no jogo experimentalista-psicodélico do Flaming Lips. Faltou a bolha plástica, os bichinhos empolgados, mais hits e, talvez, uma apresentação mais amigável, de acordo com o que se espera de um festival tão diversificado. Talvez não tenha sido a escolha mais adequada para o palco principal de um evento da amplitude do Lollapalooza. Ou talvez não fosse o show mais adequado para o festival como um todo. De qualquer modo, ali não funcionou.

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