Após liderar as paradas e se destacar no Grammy, banda retorna ao Brasil e a incluir “Hold On” nos setlists
Lucas Brêda Publicado em 11/03/2016, às 14h07 - Atualizado em 14/03/2016, às 12h12
“Lembro que estava muito quente, e eu vi o Queens of the Stone Age [risos], foi bacana”, recorda Steve Johnson, baterista do Alabama Shakes, sobre a primeira vez que tocou no Brasil, no Lollapalooza 2013. “A plateia era completamente histérica”. Depois de três anos, a banda volta ao festival subindo algumas posições no line-up, com status de uma das principais atrações. “Quero muito voltar. Faz tempo que não tocamos aí e algumas coisas evoluíram”, diz.
Quando diz que “algumas coisas evoluíram”, Johnson fala do elogiado e mais recente disco do Alabama Shakes, Sound & Color (2015), que aprofunda a sonoridade soul e roqueira da estreia (Boys & Girls) em groove e experimentalismo. “Há diferentes pressões quando você está em estúdio”, conta Johnson sobre as gravações. “Acho que tivemos liberdade. Não houve medo de tentar. Quando conseguimos algo que parecia bom, apostamos nisso.”
O álbum não só levou o Alabama Shakes ao primeiro lugar das paradas nos Estados Unidos e no Canadá (ficou em 6º no Reino Unido), como rendeu o grupo uma posição de destaque no Grammy deste ano. A banda ganhou os gramofones de Melhor Álbum Alternativo (batendo, por exemplo, o Tame Impala) e Melhor Engenharia de Som de Disco Não Clássico, e o single “Don’t Wanna Fight” faturou Melhor Música de Rock e Melhor Performance de Rock, totalizando quatro prêmios na cerimônia.
Sound & Color pode ser visto como sequência e expansão primeiro álbum, Boys & Girls, de 2012, que os trouxe ao Lollapalooza Brasil do ano seguinte. “Começamos a fazer umas demos enquanto estávamos na turnê”, conta o baterista. “E Brittany [Howard, vocalista] compôs outras músicas e nos mostrou quando fomos gravar. Então foi uma mistura de músicas feitas na primeira turnê – quando tivemos tempo para fazer jams – e outras que Brittany fez sozinha e nós as trabalhamos em estúdio.”
Johnson explica o processo de criação do Alabama Shakes, particularmente intenso nas sessões do mais recente trabalho. “Na maioria das vezes, Brittany tinha uma melodia ou uma ideia na cabeça, e nós meio que nos encaixamos nisso. Outras vezes começou com um riff ou uma jam em que todo mundo foi entrando no ritmo – e depois Brittany colocou as letras.”
“Algumas vezes, acrescentamos muito mais detalhes – que vão além da composição ou da gravação demo”, conta ele, atentando para os timbres e produção, uma das principais diferenças entre os dois discos da banda. “Costumávamos gravar uma base, com o groove e os vocais, para ter uma ideia do que ela queria. Depois começávamos a trabalhar [nos arranjos].”
A evolução foi tão espontânea e significativa que até o maior hit do grupo até então, “Hold On” passou a soar limitada para eles – e foi retirado do repertório dos shows na atual turnê. “Tocamos muito, muito, na primeira turnê”, admite o baterista. “Em toda rádio ou TV que íamos, era sempre ‘Hold On’. Não vou subir ao palco e tocar só porque querem ouvir. Quero que eles me sintam sentindo a música. Sem forçar as coisas.”
Depois de meses a fio do Alabama Shakes na estrada, a canção voltou a ser frequente nos repertórios – e deve ser tocada no show da banda no Lollapalooza Brasil, no próximo domingo, 13, às 16h45, no palco Onix. “Não é que nós gostamos ou desgostamos de tocá-la”, comenta Johnson. “Tem muita emoção por trás daquela música. Mas tem muitas outras músicas que gostamos de tocar e que podem chamar a atenção das pessoas como ‘Hold On’. Para tocarmos, temos que estar sentindo aquilo.”
Quando fala com paixão de subir ao palco, Johnson revela um pouco da personalidade simplória, de fala embebida no sotaque do interior sulista norte-americano, e que ainda mora na pequena cidade de Athens (no Alabama, cuja população não chega a 30 mil habitantes). Mesmo integrando uma das bandas mais celebradas da música atual, e depois de discos e turnês bem sucedidos.
“Hoje em dia eu passo muito mais tempo checando minha caixa de entrada do e-mail do que eu fazia antes”, ri ele. “Mas continuo tentando fazer as mesmas coisas que eu sempre fiz. Não tem muito para se distrair em Athens, então passamos muito tempo nadando, jogando basquete, andando de moto, um tempo com minha família. Sei lá, quando estou lá, só tenho essa sensação de estar em casa.”
Conheça a origem de “Don’t Wanna Fight”, faixa do Alabama Shakes eleita Melhor Música de Rock no Grammy 2016
No dia 15 de fevereiro aconteceu a premiação do Grammy 2016, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Além de Kendrick Lamar – maior vencedor, com cinco prêmios – e de Taylor Swift – que ganhou em Álbum do Ano –, um dos destaques da cerimônia foi o Alabama Shakes, cujo single “Don’t Wanna Fight” faturou o prêmio de Melhor Música de Rock.
“Don’t Wanna Fight” foi lançada em fevereiro do ano passado – há pouco mais de um ano –, dois meses antes de o disco Sound & Color chegar às lojas. O single hoje beira as 7 milhões de visualizações apenas no vídeo oficial do YouTube (são mais quase 2,3 milhões no registro de um ao vivo no lendário Studio A, do Capitol Records), e foi a primeira amostra da renovação do Alabama Shakes, que aprofundou a sonoridade soul do primeiro álbum (Boys & Girls de 2012) com experimentalismos, timbres espaciais e um groove de precisão quase cirúrgica.
“[A vocalista] Brittany [Howard] tinha o riff – ‘tã tã tã tã’ – e nós começamos a improvisar em cima daquilo”, conta o baterista do Alabama Shakes, Steve Johnson, recriando as notas iniciais da canção com a boca. “O ritmo da bateria foi a parte mais difícil de fazer: tinha que ser simples, mas ao mesmo tempo incrível. Nós travamos nisso por um tempo. Até que uma vez, fizemos um ritmo com influência de música latina, algo assim. Então, tiramos elementos daquele ritmo e colocamos em ‘Don’t Wanna Fight’ – e aquilo fez muito sentido. Então, Brittany foi colocar os vocais.”
“No começo, a melodia até que ficou boa, mas estava parecido com alguma outra coisa, sabe? Algo que já tínhamos ouvido anteriormente. Muito parecido com algo que já existe”, acrescentou Johnson, sem esconder a admiração pela vocalista da banda, recriando os passos da consolidação de “Don’t Wanna Fight”. “Então, ela voltou e fez algo com os vocais – colocou uma melodia, fraseado ou alguma coisa diferente.”
No single, os vocais são introduzidos por Brittany – por volta do segundo 38 da canção – com um grunhido seco e carregado de tensão, que é liberada no segundo seguinte, quando a voz dela engradece e começa a entoar o primeiro verso da faixa. “E, quando ela fez isso, sabíamos que aquilo era explosivo”, confessou o baterista. “Diferente de qualquer coisa que nós esperávamos. E isso é um pouco da história dessa música.”
“Don’t Wanna Fight” não só rendeu dois prêmios Grammy ao Alabama Shakes, como foi a faixa apresentada pela banda na premiação. Sem a mesma duração ou produção de outras performances da cerimônia – como as de Lady Gaga, Kendrick Lamar, Taylor Swift ou Justin Bieber, por exemplo –, a apresentação de Brittany e companhia foi segura e direta e, mesmo assim, foi uma das mais apreciadas da premiação (veja a performance abaixo).
No evento regular do Grammy 2016, o Alabama Shakes recebeu apenas um gramofone (os outros foram entregues na pré-cerimônia, realizada horas antes), o de Melhor Performance de Rock. Líder do grupo, Brittany assumiu o microfone para agradecer, mantendo a humildade e admitindo: “Quando começamos, estávamos no colegial. Fazíamos [música] por diversão, não para ganhar prêmios ou [ter] reconhecimento”. “Muito obrigado”, acrescentou ela. “Prometo que vamos continuar crescendo.”
Assista abaixo.
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