Marina and the Diamonds no Lollapalooza 2016 - Lucas Guarnieri

Lollapalooza 2016: Eminem enfileira hits em dia marcado pela diversidade

Tame Impala, Mumford & Sons, Marina and the Diamonds, Die Antwoord e Bad Religion também tocaram no primeiro dia do festival

Lucas Brêda/José Flávio Jr. Publicado em 13/03/2016, às 00h26 - Atualizado em 14/03/2016, às 03h07

O primeiro dia de Lollapalooza Brasil 2016 reforçou o caráter eclético do festival. Com escalações ligadas ao gênero “alternativo”, o festival conseguiu abrir espaço para artistas que, a princípio, não dividiriam as mesmas plateias. Neste sábado, 12, o público de São Paulo presenciou do pop de Marina and The Diamonds ao hardcore do Matanza, passando pela psicodelia do Tame Impala, o folk do Mumford & Sons e, principalmente, o hip-hop do headliner Eminem.

O rapper de Detroit foi o último – e a única atração do gênero – a se apresentar no palco principal do evento, saindo sob fogos de artifício e aplausos incessantes pouco depois das 23h. O show, com 1h30 de duração, foi uma verdadeira coletânea de hits de proporções mundiais, com Eminem rimando com a agilidade habitual entre os refrães conhecidos até por quem não tem familiaridade com a obra dele.

Sem um novo álbum para promover – há quase três anos ele não lança um disco de inéditas –, Eminem causou euforia muito mais pela força de sua imagem do que pela presença no noticiário (ou novas canções em rotação nas rádios). E especialmente no Lolla 2016 a imagem dele foi venerada como a de nenhum artista que tocou ao longo do dia: fosse quando ele falava com a plateia, corria de um lado para o outro ou fazia qualquer tipo de gesto, era sempre respondido com gritos frenéticos e fanáticos.

Acompanhado pelo rapper Mr. Porter, ele só parou de cantar quando o som mecânico gravado reproduziu as vozes de nomes como Rihanna, The Weeknd e Steven Tyler, entre outros, com quem o rapper assina suas faixas. Isso porque ele praticamente eliminou os espaços entre as performances (exceto quando falou com o público), fazendo o show inteiro parecer um grande medley de tudo de popular que ele já produziu. E o resultado foi de eficiência rara, oferecendo poucas – ou quase nenhuma – oportunidades de distração para os fãs.

A sequência da segunda parte da apresentação foi particularmente matadora, do remix de “The Hills” (The Weeknd) ao encerramento com “Lose Yourself”. Ele emendou “Airplanes Pt. II”, “Stan”, “Sing For The Moment” (com os celulares acesos para cima), “Like Toy Soldiers”, “Forever”, “Love The Way You Lie” (“dedicada às garotas”), “Berzerk”, “Cinderella Man”, “The Monster”, “My Name Is”, “The Real Slim Shady”, “Whitout Me” e “Not Afraid”.

Se quando Eminem começou a cantar o público ainda se posicionava de maneira lenta em frente ao palco Skol, ao fim do show era quase impossível caminhar em alguns pontos do local. O rapper pode não estar no momento mais criativo ou relevante da carreira, mas não se pode subestimar o dono de um repertório invejável, carregado de versos e melodias vastamente conhecidos.

Estreia “surpreendente”

Marcus Mumford, vocalista do Mumford & Sons, não fazia ideia da idolatria que sua banda receberia no Brasil. Durante o show da banda, último do palco Onix, ele chamou uma menina da plateia – Isabel – e pediu para ela traduzir algumas frases, para que o público pudesse entendê-lo claramente. “Este é o melhor show de nossas vidas”, disse ele/ela. “O Brasil é o nosso país favorito – e esse é o nosso primeiro show aqui.”

Mumford – e os outros integrantes do grupo de folk britânico – ficaram impressionados com a recepção participativa dos brasileiros, e deixaram clara esta sensação de surpresa durante toda a apresentação. O Mumford & Sons já tem três discos na bagagem, dos quais dois são calcados no folk rústico e assobiável – sem bateria ou sons processados –, enquanto o mais recente, Wilder Mind (2015), traz a banda experimentando baladas com guitarras, teclados e bateria.

A diferença na direção da carreira fica ainda mais óbvia em cima do palco. Parecem duas bandas: uma quando eles estão com os instrumentos acústicos e outra quando tocam plugados. A distância é sentida, também, pela montagem do setlist em pequenos conjuntos de faixas semelhantes esteticamente. Eles iniciaram com bandolim e banjo, tocando “Babel”, “Little Lion Man” e “Below My Feet”, e pegaram as guitarras para a sequência “Snake Eyes”, “Tompkins Square Park” e “Believe” (todas de Wilder Mind).

Para a fração do público mais próxima ao palco, a diferença foi quase imperceptível, uma vez que eles acompanharam cantando quase tudo que saiu da boca de Mumford. Nas posições mais periféricas, as mudanças provocaram conversas paralelas durante as faixas “elétricas”, com parte da plateia parecendo entediada e à espera da próxima canção de um dos primeiros álbuns.

Os fãs mais antigos ficaram agradecidos com uma das sequências promovidas pelo grupo – certamente a mais animada –, com três canções do álbum de estreia do Mumford & Sons, Sigh No More (2009). O quarteto apresentou “Awake My Soul”, “The Cave” e “Roll Away Your Stone”. Mas o momento de maior frenesi foi na penúltima performance do show: o hit “I Will Wait”, de Babel (2012), que encheu de energia o morro à frente do palco Onix, preenchido pelo público até o talo.

Inéditos e galeses

Quem fechou o palco Axe foi Marina And The Diamonds. Acompanhada por seus quatro músicos, a cantora do País de Gales matou a vontade dos fãs que esperavam vê-la desde o Lolla 2015, quando o show foi cancelado em cima da hora. Marina dividiu a apresentação em três partes – e usou um figurino para cada, sempre valorizando seu corpo cheio de curvas. Dedicou 15 minutos ao disco de estreia, meia hora aos hits do segundo álbum (Electra Heart) e meia hora ao recente Froot. "How to Be a Heartbreaker" e "Primadonna", do segundo, causaram comoção, fazendo com que a galesa reconhecesse estar chocada por sua aceitação no Brasil.

Antes dela, outra atração inédita por aqui ocupou o Axe. O trio sul-africano Die Antwoord mostrou seus raps eletrônicos para uma audiência menor e menos devota que a de Marina, mas ainda assim participativa. Tanto que, na segunda música do roteiro, acolheu feliz o MC Ninja, pousando de um arriscado stage dive. "Pitbull Terrier" e outros singles de destaque do grupo preencheram o setlist. Eles só vacilaram em não incluir "Rich Bitch" na apresentação, faixa que se tornou célebre por aqui ao sonorizar o viral do "Rei do Camarote".

O palco Axe ainda teve outra banda estreante (e galesa) no país: o trio indie The Joy Formidable, que arrematou sua performance vespertina com a canção assinatura "Whirring" e seus quase dez minutos de barulho.

Letargia pop

Quando lançou o disco Currents, em 2015, o Tame Impala certamente perdeu alguns dos fãs mais ferrenhos dos dois primeiros álbuns da banda. Mas foi graças ao mais recente trabalho que a banda conseguiu atingir um público de proporções mundiais – a ponto de comandar o maior palco do Lollapalooza no começo da noite. Com uma plateia numerosa e interessada, eles fizeram uma apresentação de “massa” tão improvável quanto a sonoridade lisérgica dos discos sugere.

Chegou a ser cômico notar a vontade do público de participar das performances – fosse batendo palmas, gritando, acendo luzes ou levantando os braços –, mesmo que as músicas não sugerissem tal entusiasmo. O cenário foi de uma hipnose coletiva, reforçada pelo palco quase completamente escuro – com um telão colorido, exibindo imagens psicodélicas – e as performances arrastadas, incrementadas e de profundidade paradoxal à trivialidade da atmosfera de “diversão” promovida pelo festival.

Kevin Parker e companhia priorizaram Currents, que ofereceu seis das doze faixas apresentadas por eles entre as 18h35 e as 19h50 desde sábado, 12. Foram elas “Let It Happen” (improvável hit de quase oito minutos que abriu os trabalhos), “The Moment”, “Yes I’m Changing”, “The Less I Know the Better”, “Eventually” e “New Person, Same Old Mistakes” (regravada por Rihanna no mais recente álbum dela, Anti).

Das mais antigas a mais cantada foi “Feels Like We Only Go Backwards”, que teve o refrão repetido hipnoticamente por Parker e pela plateia, “Elephant” – que, ao vivo, fica ainda mais contundente –, “Mind Mischief”, “It is Not Meant to Be”, “Alter Ego” e “Apocalypse Dreams”. Os fãs mais ferrenhos podem até torcer o nariz, mas o Tame Impala conseguiu fazer a psicodelia ser surpreendentemente pop – pelo menos no show do Lollapalooza Brasil 2016.

Punk sério e veterano

Com o Bad Religion, não há espaço para enrolação. As músicas rápidas e curtas se sucederam em uma sequência quase claustrofóbica: ao fim dos primeiros dez minutos de show, eles já estavam na quarta canção. Enquanto algumas bandas não chegaram a 15 faixas no setlist, os norte-americanos dispararam as duas dezenas de músicas tocadas, uma atrás da outra, quase sem parar.

Apesar da sonoridade jovial e energética, os integrantes do Bad Religion já são cinquentões e, no palco, não fingem passar outra imagem: foram sérios e concentrados no oficio, dando a impressão de estarem realmente querendo dizer cada palavra (ou acorde) do que as letras ácidas e (às vezes) pessimistas sugerem.

“Tem espaço suficiente na grama lá atrás, mas não aqui na frente – é onde a ação acontece”, disse o vocalista do grupo, Greg Graffin, descrevendo com precisão o clima e a presença de público no show do Bad Religion. A apresentação aconteceu ainda à tarde, no palco Skol, e contou com performances das faixas “21st Century (Digital Boy)”, “Sinister Rouge”, “Come Join Us”, “Fuck You”, “New America”, “Do What You Want”, “Delirium of Disorder”, “Suffer”, “New Dark Ages”, “Prove It”, “Can’t Stop It”, “Atomic Garden”, “Los Angeles is Burning”, “Punk Rock Song”, “You” e o hit derradeiro, “American Jesus”.

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