A cantora dinamarquesa se apresenta no festival no domingo, 26, e na segunda-feira, 27, no Cine Joia
Gabriel Nunes Publicado em 22/03/2017, às 19h55 - Atualizado às 20h53
As referências musicais de MØ oscilam entre extremos. De um lado, o amor de longa data pelo pop radiofônico do grupo Spice Girls e da cantora Cher. Do outro, a paixão arrebatadora pelas guitarras densas e dissonantes de nomes como Sonic Youth e Black Flag. Embora hoje em dia a sonoridade dela esteja mais próxima de um pop minimalista, calcado em batidas eletrônicas cadenciadas, do que de um noise rock expansivo, atravessado por acordes agressivos e desarmônicos, a dinamarquesa não traz qualquer reticência em relação à formação musical punk.
Antes de adotar a alcunha artística MØ – e conquistar mais de um bilhão de visualizações no YouTube com o hit “Lean On”, parceria dela com Major Lazer e DJ Snake –, Karen Ørsted costumava cantar ao lado de Josefine Struckmann em uma banda chamada MOR. Fortemente influenciada por Peaches e Bikini Kill, a dupla se apresentava em pequenos bares esfumaçados, vociferando ao microfone canções como “Fisse I Dit Fjæs”, cuja tradução para o português soaria mais ou menos como “Boceta na Sua Cara”.
“Todas as letras eram extremamente politizadas, cada faixa era um ‘tapa na cara da sociedade’”, relembra a cantora, que, nessa época, viveu em Christiania, uma comunidade autogestionada e independente localizada em Copenhague. Apesar de, na época, estar imersa na cultura punk dinamarquesa, MØ trazia latente em si – diretamente dos recôncavos da infância – o sonho de se tornar uma estrela pop. “Ainda adorava música pop, mas sempre em segredo. Nessa cena quem gosta de pop não pode ser considerado legal [risos]. Mas esse é um estilo musical com o qual eu sempre tive uma conexão muito forte, principalmente depois dos meus nove anos, quando decidi ser uma popstar”, brinca a cantora.
No entanto, entre 2012 e 2013, MØ decidiu explorar sua veia mais introspectiva, até então pouco abordada nas canções dela. Deixando de lado o espírito combativo, a intérprete passou a escrever “músicas de amor”, como ela singelamente define o punhado de faixas que integraria o debute No Mythologies to Follow, de 2014. “Sei lá, queria baixar um pouco a guarda. É importante falar sobre esses assuntos, mas eu queria também cantar coisas mais pessoais, mais íntimas.”
Em relação ao sucessor do primeiro disco – ainda sem título –, a cantora revela ter se deparado com alguns contratempos ao longo do processo de composição. “Está levando mais tempo [para ficar pronto] do que eu imaginava. Mas a cada dia que passa, sinto que estou chegando perto de terminá-lo”, diz, sem conter o riso. “Foi difícil pra caralho chegar a um conceito final e tornar palpável tudo que eu estava sentindo. As músicas soam muito diferentes. Eu evoluí, mas ainda assim sinto como se fosse meu antigo eu que está cantando ali, não sei se consigo me expressar corretamente.” Apesar da dificuldade em definir o conceito central do trabalho, MØ antecipa que o segundo LP da carreira refletirá nas entrelinhas o engajamento político dos tempos do MOR, mas com uma abordagem mais branda, não tão “preto no branco”, conforme revela.
“O método que eu uso para incluir mensagens políticas nas músicas hoje em dia não funciona do jeito que eu fazia antigamente”, declara a cantora, que ainda se diz preocupada com o crescimento de movimentos fascistas e de extrema direita no seu país. “Antes eu estava sempre gritando ‘foda-se isso, foda-se aquilo, foda-se a sociedade!’, mas hoje em dia as coisas não funcionam mais dessa forma. Quero apresentar uma visão íntima, bem minha, de tudo o que vem acontecendo.”
MØ, que sobe ao palco do Lollapalooza Brasil 2017 neste domingo, 26, não esconde o gosto por festivais – seja como espectadora, ou então como uma das principais atrações. “O que gosto nos festivais é que parece que as pessoas estão de férias. As pessoas passeiam pela grama, relaxam, curtem um som, écomo se um sentimento de alívio muito grande rondasse todo o lugar. E quando subo ao palco, porra! É uma relação muito louca, uma energia muito especial que estabeleço com a plateia.”
A cantora ainda se apresenta no Cine Joia, em São Paulo, na segunda-feira, 27.
MØ e Glass Animals em São Paulo
27 de março (segunda), às 21h
Cine Joia | Praça Carlos Gomes, 82 (próximo a estação Liberdade do Metrô)
Ingressos: R$220 (há meia-entrada)
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