Eagles of Death Metal - Jean-Nicolas Guillo/AP

Em São Paulo durante o Lollapalooza, integrantes do Eagles of Death Metal gravam com banda independente brasileira

Jesse Hughes e Dave Catching tocaram no estúdio da Combover e registraram algumas faixas com o grupo

Gabriel Nunes Publicado em 26/03/2016, às 10h56 - Atualizado às 13h08

Muita gente já deve ter tido um sonho que começa mais ou menos assim: você dá de cara com uma de suas bandas preferidas tomando uma cerveja no bar e convida os integrantes para uma jam session no seu estúdio. Aí, como é sonho, eles acabam gravando um som com a sua banda. Parece loucura do inconsciente, mas aconteceu de verdade com Carlos Eduardo Freitas, vocalista da banda paulistana Combover, que teve o inusitado privilégio de fazer um som com Jesse Hughes e Dave Catching, do grupo californiano de stoner rock Eagles of Death Metal.

O golpe de sorte aconteceu quando Freitas ensaiava com sua banda no estúdio Aurora, em Pinheiros, do qual também é um dos sócios. Assim que soube que os integrantes do Eagles of Death Metal bebiam em um bar ao lado, não pensou duas vezes em passar por lá. “Trocamos uma ideia com os caras. Acabamos comentando que tínhamos um estúdio e que estávamos gravando um álbum. Eles ficaram bastante entusiasmados e interessados em conhecer o lugar e tocar com a gente”, conta o músico, que utiliza a alcunha "Don Carlón" frente ao Combover – o nome do grupo faz uma alusão ao típico penteado usado para disfarçar a calvície.

Impressionados com o som do grupo brasileiro, Hughes e Catching chegaram a gravar com eles a faixa "Comic Sans", que fará parte do novo disco do Combover. Intitulado Bomcover e com previsão de lançamento para 1 de abril, o álbum é uma regravação do primeiro trabalho da banda, lançado originalmente em 2013, agora contando com diversas participações especiais, de Adriano Cintra a Juninho Bill, além dos rapazes do EODM.

Embora quatro meses já tenham se passado desde o atentado que deixou cerca de 90 mortos na casa de shows parisiense Bataclan, os músicos do Eagles ainda se mostram perturbados pelo ocorrido. “É um assunto muito delicado para eles", conta Freitas. "O Jesse disse que desde o incidente ele tem pesadelos à noite. O pessoal da banda ainda sofre muito por causa dessa história, alguns estão até fazendo terapia. Mas pela amizade que nasceu desse encontro, a gente acabou nem tocando muito nesse tema.”

Para o o líder do Combover, o inusitado encontro não rendeu apenas um intercâmbio musical, mas também um sentimento recíproco de respeito e admiração entre as bandas. Dias depois, Jesse Hughes apareceria tocando no Cine Joia usando uma camiseta do trio brasileiro. “Ficamos muito impressionados com a simplicidade dos caras. Eles não tinham obrigação de estar ali, mas toparam mesmo assim, de boa vontade”, reflete Freitas. “Eles se divertem muito, tanto no palco quanto no estúdio. E isso é mais ou menos o que a gente tenta fazer como músicos: tirar um pouco de sarro sem soar pretensioso ou arrogante.”

Entusiasmados com uma turnê europeia que começa também em abril, os integrantes do Combover acreditam que o encontro pode servir de propulsor para novas oportunidades – e possíveis reencontros com os ídolos-agora-amigos: “Eles falaram que pretendem voltar pra cá o quanto antes, e que quando isso acontecer, vamos abrir o show deles", diz Freitas. "Vai ser a realização de um sonho."

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