Lula, o Filho do Brasil, que estreia nesta sexta, 1, é produto de massa acima da média
Por Antônio do Amaral Rocha
Publicado em 30/12/2009, às 17h51Até agora as manifestações da "crítica" demonstraram preconceito. Há quem diga que não viu e não gostou. Outros, que se trata de uma antecipação do embate eleitoral. Na verdade, até agora não se leu uma crítica isenta sobre o filme Lula, o Filho do Brasil. O que se viu e se leu, em sua grande maioria, são manifestações partidárias, uma discussão totalmente fora de lugar, embutidas em notícias que tentam desqualificar um produto da cultura de massa, bem acima da média. E é assim, e somente assim, que deve ser visto Lula, o Filho do Brasil, dirigido por Fábio Barreto, baseado no livro homônimo de Denise Paraná.
Tamanha polêmica acontece pelo fato de o personagem ser quem é. E como produto da cultura de massa o filme é uma narrativa épica, uma dramaturgia sobre a vida de um Fabiano (personagem de Vidas Secas, de Graciliano Ramos) que deu certo, que venceu como retirante, torneiro mecânico, líder sindical e... presidente da República. Mas não se vê nada de Cinema Novo e seus retirantes. Bastam algumas sequências da família no caminhão pau-de-arara para se ter a compreensão do que se quer mostrar. E, nessa perspectiva, o filme é bem realizado, sem a pretensão de ser revolucionário na maneira de contar uma história - a narrativa é convencional - e aproveita o que já se sabe sobre narrar com imagens. Em alguns momentos lembra televisão, em cenas abertas é cinema. As sequências são bem pontuadas pela trilha sonora, assinada por Antônio Pinto e Jacques Morelenbaum, que tem a função de aumentar o clima emocional, além de hits populares nas vozes de Nana Caymmi, Tim Maia, Altemar Dutra, Luiz Gonzaga, entre outros.
Em Lula, o Filho do Brasil, as cenas de multidões são bem dirigidas e apresentam uma recriação factual das famosas assembleias acontecidas no Estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo. Há o uso dos recursos imagéticos já convencionados no cinema, como se filmar de baixo para cima, o que realça a figura heróica do personagem, ou a de colocar o personagem principal em primeiro plano e a multidão levemente fora de foco. O subtexto que perpassa os textos já publicados sobre o filme quer dar um peso que ele não tem.
A narrativa, que termina em 1980, não trata em momento algum da vida partidária, da fundação do PT. Fala, isto sim, da relação perversa do capital versus trabalho, de uma remuneração salarial mais justa, das prisões arbitrárias, da repressão policial, das reinvidicações da classe metalúrgica e da "pelegagem" no meio sindical. Sim, pois a primeira diretoria de que Luiz Inácio Lula da Silva participou nos Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo era pelega e o sindicato não era mais que um clube que tratava de colônia de férias, do que, propriamente, reinvidicações salariais.
Glória Pires, a mãe-coragem
Em outro aspecto que tem a ver com a dramaturgia dos personagens, há que se destacar o papel de Dona Lindu, a venerada mãe-coragem de Lula, responsável direta por sua formação (Glória Pires numa interpretação destacada, talvez a melhor de sua carreira), que bem poderia dar um subtítulo à narrativa: Lula, o filho da Dona Lindu.
Lula, o Filho do Brasil relata a vida de um homem comum em formação, que ao assimilar novos valores (sociais e políticos) percorrerá um longo caminho e não abrirá mão de seu destino.