Desde a reafirmação de piadas com assédio até a inclusão forçada de personagens não brancos ou homossexuais, o filme parece em desacordo com o momento de reivindicações sociais
Clara Guimarães Publicado em 01/08/2020, às 15h00
O primeiro filme da Barraca do Beijo, lançado em 2018, fez muito sucesso entre os adolescentes. O motivo? O longa apresenta jovens bonitos em uma escola privada vivendo histórias de romances e amizades, como explica a sinopse da Netflix: "O primeiro beijo de Elle (Joey King) vira um romance proibido com o cara mais gato da escola, mas acaba colocando em risco a relação com seu melhor amigo".
Vendo quão bem a fórmula funcionou, o streaming lançou a sequência do filme no dia 24 de julho, adicionando apenas alguns personagens para mexer com o casal protagonista, e já até confirmou a produção de um terceiro filme.
Portanto, embora seja impossível argumentar sobre o sucesso que é Barraca do Beijo, é importante prestar atenção em alguns detalhes bem problemáticos do longa, que ficam mascarados sob o clichê de romance adolescente.
Por isso, a Rolling Stone Brasil separou 6 questões de Barraca do Beijo 2 que devem ser problematizadas e discutidas.
Quem assistiu ao primeiro filme sabe muito bem sobre o quão problemático foi o incidente da saia curta. Logo na primeira cena, Elle percebe que não tem nenhuma parte de baixo limpa do uniforme escolar e precisa usar uma saia antiga extremamente pequena.
O filme trata a mini saia como uma piada, até mesmo quando Elle é assediada por um colega de classe, que apalpa a bunda da menina sem consentimento no meio da escola. O garoto não é punido, mas a protagonista é levada para a diretoria.
Porém, se julgávamos que a piada tinha ficado no passado, o novo filme decepciona e mostra de novo a saia curta como algo cômico nos primeiros minutos.
Tuppen (Joshua Daniel Eady) é o colega que assediou Elle no primeiro filme, mas pasme: não só ela ainda é amiga dele, como todos o adoram. Ele é tratado como um ícone sexy da escola e em nenhum momento é responsabilizado pelos atos.
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O primeiro filme recebeu muitas críticas sobre ser muito branco e heterossexual. Por isso, no novo longa, os produtores incluíram uma diversidade maior. O problema é que, quando a motivação não é realmente a inclusão, ficamos apenas com um estereótipo forçado.
Em Barraca do Beijo 2, existe um plot sobre um colega de sala de Elle que está apaixonado por outro garoto. Toda a história é apresentada de uma forma meio desajeitada. Os dois não têm nenhuma outra característica além da orientação sexual e só aparecem em três curtas cenas.
A história dos dois garotos fica muito deslocada, já que não tem nenhuma relação com o plot principal e, se não parecesse forçado antes, a cena final do beijo dos dois com toda escola aplaudindo é artificialmente desconfortável.
Outra inclusão que parece forçada foi a de personagens não-brancos. Barraca do Beijo 2 apresenta Marco Pena (Taylor Zakhar) e Chloe Whinthrop (Maisie Richardson-Sellers) para criar tensão no relacionamento principal, mas eles também não têm uma história própria desenvolvida.
Marco e Chloe funcionam como personagens secundários que podem até tentar seduzir o principal, mas sabemos que eles não têm nenhuma chance.
A rivalidade feminina e a insegurança de Elle são os principais motivos para os problemas no relacionamento com Noah (Jacob Elordi). A garota entra nas redes sociais e fica incomodada pelo namorado ter uma amiga mulher na faculdade. Ela, então, se compara, se despreza e decide que não gosta de Chloe antes mesmo de a conhecer.
Elle também tem alguns outros comportamentos bem problemáticos no relacionamento, como bisbilhotar o celular de Noah em segredo, mentir sobre o porquê está chateada e cobrar o namorado por ter uma amiga mulher - tudo isso enquanto tem encontros com Marco.
As garotas OMG não aparecem muito nesse segundo filme de Barraca do Beijo, mas quando aparecem é para falar de um garoto ou reforçar as inseguranças de Elle.
O filme trata as personagens femininas como obcecadas por homens. Um exemplo é quando Elle descreve de muitas maneiras como o novo aluno Marco é sexy. Ou, por exemplo, quando em uma competição esportiva, Marco e Tuppen (sim, o assediador) tiram a camiseta e ganham o jogo, porque todas as meninas perdem a concentração.
O segundo filme diminuiu muito a sexualização de Elle, mas essa ainda é uma questão que precisa ser discutida. Com o incidente da saia curta, o primeiro longa já abre expondo Elle - que, devemos lembrar, está no ensino médio. Mas não para por aí. O primeiro longa usava qualquer desculpa para mostrar Elle sem camiseta.
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Em uma festa, depois de ficar bêbada, a garota faz um striptease em cima da mesa. Em outro momento, depois de uma guerra de tinta, a garota entra sem querer no banheiro masculino para se limpar. Sem qualquer hesitação, ela tira a camiseta e é surpreendida por vários garotos aplaudindo (e tirando fotos dela). Porém, a personagem não parece incomodada e se exibe para os outros garotos para provocar o interesse romântico, Noah.
Enquanto o segundo filme reduziu muito a sexualização de Elle, ainda existem cenas como a piada com a saia curta ou uma desnecessária inclusão da garota tirando uma nude para enviar ao namorado, que poderiam ter sido repensadas.
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