Em show neste domingo, 2, rainha do pop estreou a turnê MDNA no Brasil
Tatiana Contreiras, do Rio de Janeiro Publicado em 03/12/2012, às 08h18 - Atualizado às 08h43
Uma religião cuja líder é uma autoproclamada periguete. Se alguém visse apenas as imagens do show de Madonna neste domingo, 2, no longínquo Parque dos Atletas – a primeira apresentação, aliás, da turnê MDNA no Brasil –, teria exatamente esta impressão. Em suas quase duas horas no palco (depois de outras três de atraso, um pouco demais para um domingo à noite), a rainha do pop fez e aconteceu, apesar de alguns momentos mornos. Profissional? Sim, um bocado, a despeito da longa espera pela qual fez o público passar. Carismática? Idem. Mais à vontade do que em sua última passagem pelo Rio, em 2008, na tour do álbum Hard Candy, Madonna empolgou os mais de 65 mil espectadores na maior parte do show com seus sucessos do passado, a participação do filho adolescente da cantora, Rocco, uma breve, porém eficaz provocação a Lady Gaga e, ainda, hits do presente – prova de que seus seguidores continuam se renovando.
Depois da malfadada apresentação do duo de DJs brasileiros Felguk – que recebeu a árdua missão e substituir Will.I.Am, do Black Eyed Peas, cancelado na última hora –, Madonna entrou em cena para apresentar sua ópera pop. No primeiro (e mais encadeado) ato, ela encarna uma pistoleira mercenária que mata seu próprio amante e é perseguida até em um motel de beira de estrada, onde não sobra corpo sobre corpo. Abrindo a cena, “Girl Gone Wild”, com trechos de “Material Girl”. No entanto, é antes disso que a entrada triunfal, com um pé no religioso, se anuncia: com uma cruz com as iniciais MDNA no telão, o trio francês de música basca Kalacan entoa alguns cânticos. Do alto de um oratório, com um quê de papisa, surge a cantora. Ainda neste segmento, vieram “Revolver” e Gang Bang”. E o primeiro sucesso das antigas: “Papa Don’t Preach”, acompanhada com carinho pela ala mais anos 80 do público.
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A forma física da cantora chama a atenção. Com um fôlego de matar muita jovenzinha de inveja, aos 54 anos Madonna dança como sempre. A voz, claro, é poupada em muitos momentos – ainda existe alguma cantora pop que dispense bases pré-gravadas? No entanto, ela compensa em outras canções. Em alta, a nova jurada do reality “American Idol”, Nicki Minaj (que participa do vídeo de “Give Me All Your Luvin’” ao lado de MIA), faz uma participação no telão como uma freira sexy em “I Don’t Give a...”. Antes, Madonna já havia sido acorrentada e carregada para uma breve sessão de slackline durante “Hung Up”.
Após um breve interlúdio ao som de “Heartbeat” – senha para a troca de figurino, mais uma de várias –, a cantora retorna com o visual meio cheerleader, meio banda de escola para um dos pontos altos e mais animados de sua apresentação: “Express Yourself”, com direito à tal provocação a Lady Gaga. Depois de emendar um trecho de “Born this Way” (vale lembrar que, à época do lançamento da música, muitos disseram que Gaga copiou “Express Yourself” sem muita cerimônia), ela seguiu com “She’s Not Me”. Nada melhor que uma picuinha pop para animar um show... No último dia 9, Gaga subiu ao mesmo palco, no mesmo local.
“Están prontos?”, perguntou Madonna, logo após um breve interlúdio com hits de outrora, como “Into the Groove” – o mashup frustrou os fãs desta fase, como era de se esperar, por ter sido breve e não ter deixado o povo extravasar seu lado karaokê. “Eu sei que vocês gostam de samba e de percussão, então agora vou cantar músicas mais antigas”, disse a estrela. De volta à cena, os rapazes do Kalacan a acompanharam em “Open Your Heart”, o momento fofurinha da noite: fãs levantaram balões em forma de coração, e Rocco mostrou que puxou à mãe no quesito dança. O calor no Parque dos Atletas – repleto de mosquitos, que não deram folga em momento algum – também foi sentido por ela. “Preciso sentar para respirar. Muito, muito caliente”, disse, antes de contar que é sempre ótimo vir ao Brasil e de engatar um discurso sobre paz mundial, lembrando os mortos em guerras civis, na Palestina, no Irã e nas favelas. Ao incitar uma revolução, veio a gafe: “Están listos?”, perguntou, em bom espanhol. Uma leve vaia, uma reclamação – “Merda!” –, e o show segue: “Estão prontos?”. Ufa. Depois de uma versão apenas em vídeo de “Justify my Love”, é a vez de “Vogue”, com releituras fashion como o famoso espartilho criado por Jean Paul Gaultier em outros tempos. O público, claro, vibra.
A ação segue para um bordel. Após um mix de “Candy Shop”, “Erotica” e “Human Nature” (canção que, na Sticky & Sweet Tour, de 2008, tinha a participação de Britney Spears no telão), o momento de revelação: nas costas de Madonna, que tira a camisa e seu corpete, está gravado um singelo “Peri” – pouco depois, o “guete” se revelaria, compondo a palavra pela qual a cantora foi gentilmente saudada pelos cariocas. A cada show, uma palavra diferente é estampada em seu corpo de forma temporária – e até o presidente norte-americano Barack Obama, como dizer, já passou por aquelas carnes (desta forma, claro). “Eu sou periguete? Então, quero dedicar esta música para todas as periguetes do mundo. Uma periguete inspira outras”, disse, parecendo se divertir com a piada. De lingerie preta, sem celulites e com a depilação aparentemente em dia, ela puxou uma melancólica e um pouco frustrante adaptação de “Like a Virgin”, em uma pegada cabaré. Detalhe: com notas de dólares no corpete para sua representação da profissão mais antiga do mundo, ainda recebeu de um fã R$ 10. Como recompensa, chupou o dedo do sujeito.
“Love Spent”, mais um momento dramático, prenuncia mais um interlúdio. “I’m Addicted” e “I’m a Sinner” – esta última, com um medley de mantras indianos – vieram em seguida. Como no show de 2008, que lotou o estádio do Maracanã mesmo debaixo de chuva, o melhor ficou para o final: “Like a Prayer”, de longe o momento mais emocionante de um show milimetricamente pensado, produzido e executado. Neste momento Madonna soltou a voz. Sem playback. E com um coral. A noite ainda terminaria com um mashup de “Celebration” e “Give it 2 Me”, antes do caos na saída do público. A lista dos hits que ficaram de fora do set list da turnê é grande: “Music”, “Ray of light” e “4 Minutes” não mereciam ser confinadas em um mashup. “La Isla Bonita”, para citar outra fase da cantora, também não foi lembrada. Todas fizeram falta. Mas, pelo menos, vigor não faltou.
Madonna ainda se apresenta em São Paulo (4 e 5/12, Estádio do Morumbi) e Porto Alegre (9/12, Estádio Olímpico).
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