Filme narra os encontros e desencontros de um casal numa cidade caótica, mas estranhamente poética; o filme é exibido nesta quinta e no sábado
André Rodrigues, do Rio, para o site da RS Publicado em 27/09/2007, às 17h07 - Atualizado em 05/11/2007, às 19h21
Nem só de Tropa de Elite se faz um cinema nacional. O filme de José Padilha sobre policiais do Bope tem recheado de polêmica o Festival do Rio. De um lado, colunistas e críticos detonam um possível lado fascista da trama. De outro, uma multidão de defensores se dizem felizes com o resultado final e celebram os aspectos "hollywoodianos" dos personagens.
Enquanto isso, outros filmes brasileiros tentam provocar algum barulho nas exibições da competição Première Brasil, que este ano apresenta nove ficções e dez documentários.
A Via Láctea, de Lina Chamie, entra na jogada a partir de hoje. Bem recebido no último Festival de Cannes, o filme narra os encontros e desencontros de um casal em São Paulo, uma cidade barulhenta, violenta, mas estranhamente poética.
Marco Ricca (que nesta semana vive um bom momento na TV com a audiência da novela Paraíso Tropical) interpreta Heitor, um professor de literatura enciumado que corre atrás do prejuízo, já que está prestes a perder a namorada Júlia (Alice Braga, atualmente filmando O Ensaio Sobre a Cegueira e com a promessa de virar estrela de Hollywood).
Na aparência, A Via Láctea se estrutura a partir dessa pressa de Heitor, que pretende chegar à casa de Júlia para reconquistar a sua paixão. Ao se enfiar no caos paulistano, com ruas congestionadas, a garoa fina e mendigos nos faróis, ele repassa os seus sentimentos em relação ao amor - e à vida.
Em alguns flashbacks, entendemos como o casal se conheceu (durante peça de Zé Celso, no teatro Oficina, em mais um registro de locais tipicamente paulistanos), quais foram as juras de amor e como o medo da traição se instalou na mente de Heitor.
Então... "Quando saía de casa/ percebeu que a chuva soletrava/ uma palavra sem nexo/ na pedra da calçada/ não percebeu/ que percebia/ que a chuva que chovia/ não chovia/ na rua onde andava/ era a chuva que trazia/ de dentro de sua casa/ era a chuva que molhava/ seu silêncio molhado/ na pedra que carregava"; poemas como este, de Mário Chamie, invadem as seqüências, alteram nossa perspectiva sobre a linearidade da trama e jogam pistas sobre outros sentidos almejados pelas imagens.
Aos poucos, saímos do território do real e nos estabelecemos num mundo onírico, cheio de outros significados e representações. Os marcos de São Paulo - como a avenida Paulista - ganham belas intervenções poéticas (principalmente por meio de um cuidadoso trabalho de som e edição). O caos da mente aflita de Heitor passa a ser organizado a partir de elementos abstratos e metafóricos. Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade se juntam a Gilberto Gil, música clássica e Tom e Jerry, formando um caudaloso jogo de significados.
As dúvidas surgem: será que realmente Heitor está em seu carro? Será que ele existe? Será que Júlia ainda estará à espera dele? Assim, A Via Láctea comprova que o belo pode surgir de qualquer canto, até mesmo do caos do asfalto. Será?
A Via Láctea, de Lina Chamie
Quinta-feira, 27/9, às 21h15
Palácio 1
Rua do Passeio, 38, Centro
Ingresso: R$13
Informações: (21) 3221-9292
Sábado, 29/9, às 14h e 19h
Leblon 1
Av. Ataulfo de Paiva, 391, Leblon
Ingresso: R$14
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