Vídeo, lançado com exclusividade pela Rolling Stone Brasil, foi gravado no Japão e apresenta a estética dos vídeos de karaokês
Pedro Antunes Publicado em 29/01/2019, às 10h06
Na distância, as amizades definham. Melancolicamente, as notificações de mensagens de WhatsApp minguam. As ligações não atendidas e jamais retornadas rareiam. Sobra pouco. A lembrança de outros tempos, no máximo. Bons tempos eram aqueles, das noitadas nos botecos, nas tardes de papo.
"A morte lenta da amizade dói, amigo, como dói", canta Matheus Torreão, artista recifense, que escolheu a canção "A Morte da Amizade" como single do seu álbum de estreia (cujo título é tão longo e explicativo que vou usá-lo mais adiante no texto).
A canção, criada com humor e uma dose de cinismo, como conta Torreão, ganhou nova importância ao ser recebida pelo público, que a entendeu (com razão!) como uma entristecida despedida de um laço entre dois amigos. Afrouxou-se e eles seguiram por caminhos distantes.
O videoclipe, lançado com exclusividade pela Rolling Stone Brasil, propõe um mergulho no sentimento de solidão e distância. E coloca seu personagem, o eu-lírico, interpretado pelo próprio Torreão, no outro lado do planeta. Como é possível ver no frame do vídeo, abaixo:
Ancorado por uma estética sonora que costura o calor pop tropicalista com elementos da música japonesa, o vídeo dirigido por Isabel Falcão vê Torreão no Japão, numa cultura distante da sua, meio perdido, meio encontrado.
Assista ao clipe de A Morte da Amizade:
O título disco de estreia de Matheus Torreão, lançado em 2018, é bastante (e exaustivamente) auto-explicativo, vamos lá:
Disco de Estreia de um Jovem Recifense que Venceu um Reality Show, Mudou-se para a República Independente da Bossa Nova, Fez um Mestrado Acadêmico Decididamente Irrelevante, Teve seu Instável Talento para Comédia Contratado pela Indústria do Sitcom e Usou Todo o Dinheiro que Ganhou Até Aqui para Gravar Nove Canções.
E é bem isso. No Recife, Torreão integrava a banda A Caravana do Delírio, com a qual gravou dois EPs. Em 2010, o rapaz participou do programa do canal Multishow Geleia do Rock (o tal reality show do título do disco).
No Rio de Janeiro, lançou um compacto chamado Compacto (hahaha!), caiu nas graças da "indústria do sitcom", participou do Especial de Todo Ano, da Clarice Falcão, feito para a Netflix, e também é roteirista e compositor da série Mr. Brau, da TV Globo.
Produzido por Guilherme Lirio e Pedro Dias Carneiro, o álbum, chamado de agora em diante de Disco de Estreia…, traz nove canções, como seu título indica. São discutidos, entre elas, as aproximações e os distanciamentos no mundo contemporâneo, de relações artificiais e difíceis de manter.
"A Morte da Amizade" cresceu até se tornar o single e ganhar um videoclipe (na imagem acima). Divertido, embora transpire um sentimento de frustração e descolamento, o vídeo apresenta as peripécias de Torreão no Japão, entre cenários lindos e coloridos, tudo dentro de uma estética comum dos vídeos de karaokê.
Ele explica que deu à diretora a referência do filme Encontros e Desencontros, de Sofia Coppola, lançado em 2003.
"Disse pra Isabel: 'Quero a melancolia de Bill Murray e o sex appeal de Scarlett Johansson'", relembra Torreão, ao citar os protagonistas do filme de Coppola.
Dono de uma auto-ironia divertida de se ver, Torreão percebou que o resultado foi diferente do sugerido. Ainda bem.
"Vendo o resultado final, acho que o acabei ficando com a melancolia de Scarlett Johansson e o sex appeal de Bill Murray, o que é ainda melhor."
Ouça o disco de estreia de Matheus Torreão:
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