Elogiado pela crítica, álbum terá 250 unidades a venda pelo site Catarse
Camilla Millan Publicado em 18/12/2019, às 18h20
"Sinto que nesse trabalho eu cheguei a resultados que buscava há muito tempo na feitura de um disco,” explica Maurício Pereira sobre o disco Outono no Sudeste, lançado em 2018 e agora disponível em vinil pela pré-venda no site Catarse.
De sonoridade dialógica entre instrumentos e gêneros musicais dos mais variados, o álbum produzido por Gustavo Ruiz combina poesia, palavras faladas, narração de futebol e o cotidiano da cidade quase como Pereira fosse um eterno flâneur de São Paulo.
Elogiado, Outono no Sudeste - 7º álbum da carreira de Pereira - foi avaliado pela Rolling Stone Brasil da seguinte forma: “Prevalece, no disco, o Pereira mais sentimental e de roupagem jazzy (...), mas, mesmo nesse registro sofisticado, ele não deixa de inserir imagens poéticas divertidas e inusitadas”.
E as avaliações positivas também são feitas pelo próprio músico, que elogia o disco: "Quer saber, o Outono me deixou bem feliz. O trabalho com o Gustavo abriu muita possibilidade; a banda se soltou e abraçou lindamente a poesia. Isso me ajudou a cantar melhor, eu respirei essas canções”.
Foram colocadas à venda 250 versões em vinil transparente do álbum. E 30 exemplares deles terão uma nova arte criada pela artista Biba Rigo, a mesma autora da capa original do disco. Além disso, quem adquirir o LP receberá o vinil em casa com assinatura e dedicatória exclusiva. Também haverá um lote de 140 camisetas reproduzindo a capa, e os valores de compra dos itens variam de R$ 180 a R$ 550.
Para ajudar a entender a particularidade de Outono no Sudeste, Pereira detalhou o processo criativo do álbum em um faixa a faixa muito especial; confira:
"Quem me pediu essa letra foi o Morris Picciotto. Ele me falou pra ler um Murilo Rubião, ver como batia, e escrever. Encontrei uma melancolia irmã da minha (pelo menos era no dia em que eu escrevi a letra). Impossibilidades, incapacidades, indisponibilidades. Morris musicou e botou palavras a mais, e deu um trampo fazer todas elas caberem na canção. E fui experimentando junto com a banda. O ponto de partida do arranjo foi a frase de guitarra do Tonho que abre a música, o contraponto para ele é o bombardino do Amilcar. "The Empty Boat”, daquele disco branco do Caetano, ajudou a banda a entrar no emocional; ouvir Frank Zappa ajudou a lidar com o palavrório nos tempos quebrados."
"Devo ter escrito essa letra numa dessas noites que você não dorme e o ouvido ouve tudo o que acontece na cidade durante a noite. Fiz e deixei na gaveta. Um dia o Arthur de Faria, parceiraço, fuçou a tal gaveta, amou a letra. Voltou com umas frases, uns motes, e a gente foi encaixando a letra. Muito trabalho com a banda pra chegar nesse arranjo, muito baseado no coletivo, que fechou com os palpites e provocações do Gustavo, já no estúdio, na hora de gravar."
"Essa é antiga, tanto que é uma carta, né? Pensei como uma poesia, quase um haicai. Musicar poesia faz a gente fugir um pouco da estrutura habitual duma canção, que costuma ter partes, refrão, versos, com uma métrica mais padrão, mais quadrada. Aí eu quis notas longas, pra que a banda soasse como essas bandas do interior que acompanham procissão, já ouviram? E fizemos assim. A onda indiana veio dumas experiências do Gustavo com uma tabla eletrônica que a irmã dele, a Tulipa, trouxe da Índia. A Índia encaixou completamente na retreta…"
"Eu tinha pronta essa canção bem singela, sobre algum tipo de reencontro (ou encontro, sei lá), e cismei que ela tinha que ser um candombe. E fui paulistanizando um candombe com a banda. Já no estúdio (aconteceu um bocado de coisa nesse estúdio…) o Gustavo propôs ideias que libertavam pequenos segredos escondidos no arranjo. Tem guitarra com um quê de chula na mão do Tonho; tem sopro com um quê de salsa no bombardino do Amilcar; piano acústico conversando com piano elétrico na mão do Pedro; Biel desmontou a clave e achou o suingue. Aí ficou mais fácil de cantar ela levinho, com a ajuda do vocal delicado do meu filho Chico."
"Parceria antiga com o Skowa, eu queria ter gravado antes, mas na hora h outras canções sempre passavam na frente. Uma letra que pra mim tem o barulho agudo de cacos quebrando dentro da gente. Letrei, harmonizei, achei riff pros metais; Skowão groovou, dividiu. Nos ensaios a banda achou a pegada e no estúdio o Gustavo ainda provocou a gente pra achar a conversa entre a guitarra, o piano elétrico e bombardino. Destaque pra a cozinha classuda de Biel mais Henrique e pro coral dos meus pereirinhas: Chico, Manuela e o Timzão, que no final ainda abriu um belo naipe de voz com aquele falsete inconfundível que ele tem."
"Fim de tarde, hora do rush, Paulista com Consolação (uma região interessante de SP, um território livre: ali você é quem e o que você quiser). Talvez o meu olhar estivesse – distraidamente – mais ligado do que de costume, e um pedaço da minha mente filmou duas mulheres de bengalas em diferentes situações num espaço curto de tempo e me devolveu essa letra, que a querida barbatuque Lu Horta musicou superdelicadamente. Eu quis quebrar um pouco essa delicadeza e propus pra a banda um reggae duro, e a gente trabalhou nisso. Gustavo propôs quebrar a minha quebra mexendo na levada habitual do reggae, e a canção chegou nessa onda mais pop. Também aqui tem o coro dos pereirinhas cantando as paulistanas de bengalas."
"Uma vez fui tocar na antiga Casa de Francisca, ali nos Jardins. Acabando a passagem de som saí pra dar uma volta no bairro, respirar um pouco daquele ar sujo e seco do outono paulistano, e sem querer dei com um por de sol e nascer de lua absurdos atrás do quartel do Ibirapuera. Na bagunça do fim de tarde na calçada me bateu uma nostalgia intensa da alma masculina – tosca, direta – e essa letra se apresentou quase que debochando da minha cara. O feeling pedia uma balada arrastada e mandei a letra pro Daniel Szafran (meu parceiraço do “Mergulhar na Surpresa” e outros carnavais), que me devolveu essa balada enfumaçada, que a banda abraçou lenta e lindamente."
Meu parceiro nessa música, o Edson Natale, além de um baita músico, é o cara que cuida da música no Itaú Cultural há tempos, produzindo shows e um monte de troca de ideias sobre música, produção, mercado, linguagem, etc e tal. Um dia – devia ser na época em que as pessoas começaram a baixar música loucamente pela internet – eu disse pra ele que a música tinha virado uma commodity igual soja ou minério de ferro, bati no peito e gritei “não me incommodity!” Ele me disse que aquilo era um refrão, falou pra eu fazer a letra e dar pra ele musicar. E fizemos. Experimentamos um monte de levadas nos ensaios, até que alguma coisa paraense caiu do céu e clareou a nossa estrada. Pereirada no vocal novamente."
"Fiz essa letra pro primeiro disco da Rhaissa Bittar, que me parecia um disco de operetas pop. Na minha opereta acabei viajando numas histórias que a minha mãe me contou. Uma: que de vez em quando ela era escalada pra segurar vela no namoro de algum irmão mais velho, tipo, pra garantir que a donzela ia voltar donzela pra casa, sabe como é? Outra: que um programaço de domingo das famílias italianas do Belenzinho era pegar o trem da Cantareira pra fazer piquenique no Horto Florestal. Juntei tudo, botei orégano em cima e deu nessa história aí, que a banda temperou com um samba levemente maroto e paulistano."
"Eu adoro futebol. Mas o futebol como ele é hoje, veloz, racional, às vezes me enche um pouco o saco. Não sou nostálgico, mas sinto falta de um pouco de fuleiragem, sonho, molecagem. Então um dia – um pouco antes do famoso 7 a 1 – catei um groove do Tonho Penhasco e viajei em cima dele. Pensei no Tião, parceiro clássico do Rivelino no meio campo do Corinthians. Bola no chão, olhar no infinito, cadência, respiro. No arranjo, um toque precioso do Gustavo: a bateria do Biel e o baixo do Henrique é que iam conduzir o groove, deixando espaço vazio pra a conversa do piano do Pedro com o violão do Tonho. Nos coros, novamente os pereirinhas (e de quebra ainda matei a vontade de fazer uma locução de futebol nos moldes do mestre Fiori Gigliotti)."
"'Maldita Rodoviária' não tem mistério nenhum: é dor de corno e raiva, rancor e bola pra frente. Temperados com rhythm and blues. Já escrevi pensando num groove com uma harmonia azeda, um naipe ardido (Amílcar no trompete, eu no sax soprano), Pedro descendo a mão no rhodes e no hammond, Tonho descendo a mão na guitarra. Biel básico na bateria e Henrique levando um baixo a la Sly Stone. A banda achou o clima nos ensaios, Gustavo depurou no estúdio."
"Quando eu escrevi essa eu devia estar com o coração apertado. Muita fúria, muita delicadeza. E muita solidão. Embora tenha muita figura poética, basicamente é papo reto. A partir da frase inicial do Tonho na guitarra fomos construindo o arranjo da banda, cheio de frases, climas e dinâmicas. Destaque pro trompete quente do Amilcar e uma canja do Gustavo na lap steel guitar."
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