Festival teve sua segunda edição realizada em São Paulo no último sábado, 13, com Slayer, Linkin Park, Rob Zombie, Red Fang, entre outros
Paulo Cavalcanti
Publicado em 14/05/2017, às 16h06 - Atualizado em 28/07/2017, às 15h52A proposta do Maximus Festival é juntar inúmeras vertentes do rock pesado, incluindo aí não apenas o metal tradicional, mas também outras facetas do gênero, como o nu metal, e até mesmo colocando no pacote artistas de punk e hardcore. A segunda edição do festival foi realizada no último sábado, 13, no Autódromo de Interlagos, a partir das 13h. Foram mais de uma dúzia de atrações em três palcos, denominados Maximus (o principal), Rockatansky e Thunderdome.
O festival funcionou por diversos motivos. O pessoal não foi lá para ver as bandas. Boa parte da área do Autódromo, que muita gente conhece e frequenta por causa do festival Lollapalooza, se transformou em um parque temático, com tendas de workshop de instrumentos e lojas vendendo vários produtos e serviços. Muitos ambientes lúdicos, como um castelo fantasmam estavam espalhados pelo local. A decoração de várias partes do lugar lembrava capas de álbuns do Iron Maiden e a parte mais exótica (ou sinistra) era um matagal onde foi construído um "cemitério" com cruzes recordando todos os grandes astros do pop/rock que se foram. Em meio a ícones de capetas, fantasmas e caveiras, Lemmy Kilmister, David Bowie, Jim Morrison, diversos Ramones, John Lennon, Amy Winehouse e outros foram lembrados. Assim, tinha muita para ver e fazer por lá.
No começo, o público do Maximus era apenas mediano, em termos de quantidade, mas foi aumentando conforme as atrações principais foram se apresentando. No total, segundo a produção, mais de 40 mil pessoas estiveram presentes. Apesar de terem dado bons shows, Ghost e Rob Zombie, que se apresentaram por volta das 16h, foram prejudicados pelo horário. Eles fazem apresentações teatrais e o sol a pino e a temperatura de quase 30 graus não ajudaram os artistas a desenvolver plenamente suas criações sonoras sombrias. Um boa surpresa no palco Rockatansky foi a banda de hardcore melódico Fiver Finger Death Punch. Os músicos de Las Vegas tocaram pela primeira vez no Brasil e demonstraram entusiasmo em estar aqui.
Conforme a tarde foi virando noite e a temperatura foi baixando, tudo ficou mais adequado. A espera pelo Slayer no palco principal, o Maximus, já era intensa. A banda veio tantas vezes ao Brasil que já é possível traçar cada movimento que fazem, mas para os fãs isso não importa. O quarteto veterano do thrash metal, em seus primórdios, era o arauto da podridão, das guerras e do ataque aos valores do cristianismo. Mas agora, chegando à meia idade, por incrível que pareça, os músicos estão adquirindo um estranho caráter benigno. O cantor e baixista Tom Araya, agora com uma barba grisalha e com muitos quilos a mais, está cada vez mais se assemelhando a um profeta bíblico ou a um Papai Noel barulhento.
A apresentação do Slayer, iniciada às 18h20, foi marcada pela porrada e rapidez de sempre. Se alguém ainda reclama da falta do falecido guitarrista Jeff Hanneman e da ausência do baterista Dave Lombardo, é melhor revisitar seus conceitos. Os substitutos Gary Holt e Paul Bostaph dão conta do recado com enorme desenvoltura e técnica. Após uma sequência devastadora com "Repentless", "Disciple", "Postmortem" e "Hate Worldwide", Araya foi ao microfone e, sorridente, gritou em bom português: "E aí, galera de São Paulo, estão se divertindo?" Mais velhos e sábios, eles estavam lá apenas para entreter e não para polemizar. O final foi, como sempre, memorável, com a banda atacando as clássicas e devastadoras "Raining Blood", "Black Magic" e "Angel of Death".
O Prophets of Rage, o atual projeto militante do guitarrista Tom Morello e do rapper Chuck D (Public Enemy), foi a atração seguinte do Rockatansky. Os integrantes entraram em cena às 19h40 com os punhos cerrados para o alto e olhando para baixo, imitando a postura dos antigos Panteras Negras. Ele são excelentes músicos, especialmente o baixista Tim Commerford, ex-Audioslave. Mas o pulsante som deles não é original; apenas copiam as maravilhas sonoras criadas outrora pelo Public Enemy e o Red Hot Chili Peppers. O repertório teve muitas faixas do Rage Against The Machine com palavras de ordem no meio como "poder ao povo" e "vamos resistir". A execução de velhos e eficientes hinos revolucionários como "Fight The Power" (Public Enemy) e "Kick out The Jams" (MC5), assim como "Seven Nation Army", do White Stripes, pelo menos quebrou a monotonia.
Usando um boné do MST, Morello jogou para a torcida. Mas mesmo para quem não gosta do discurso e da postura dele, o músico já não desperta repulsa, apenas preguiça. Assim como na apresentação realizada na última terça, 9, na Audio Club, o artista usou a guitarra como instrumento de militância. Em várias ocasiões, virou o instrumento para mostrar o cartaz com os dizeres "Fora Temer" e, assim, tentar puxar um coro (que se mostrou desanimado) do público.
A certa altura, a retórica populista do Prophets of Rage se tornou cansativa e o público começou a se dispersar. A multidão foi se concentrar no palco Maximus para ver o Linkin Park, que iria fechar o evento. O grupo foi a escolha certa para ser headliner. A banda californiana, que surgiu em 1996 e se consagrou em 2000 com Hybrid Theory , ficou marcada por canções de aspecto radiofônico com batidas e refrãos fáceis. Boa parte do público, que agora era imenso, foi para lá somente para vê-los. E não tinha apenas trintões nostálgicos pelos dias áureos do nu metal. Um pessoal mais jovem também estava presente para cantar junto.
Às 21h em ponto, os músicos do Linkin Park já começaram a agitar e em pouco tempo o vocalista Chester Bennington, o rapper Mike Shinoda e seus companheiros já estavam com o publico brasileiro nas mãos. Bennington falou que a ideia ali era lembrar os hits e mostrar algumas canções novas do álbum One More Light, que será lançado no próximo dia 17. A banda antecipou "Heavy", o single do próximo disco, que é uma das coisas mais pop que já fez. "Battle Symphony", outra faixa pop do novo trabalho, também foi mostrada na ocasião.
Não faltaram os muitos hits que pautaram trajetória da trupe e a execução deles foi impecável. Os músicos do Linkin Park enfileiraram as esperadas "Breaking the Habit", "One Step Closer", "Faint", "Somewhere I Belong", "In the End" e "Crawling", que ganhou uma versão mais lenta e "fofa" ao piano. A banda encerrou com a sempre impactante "Bleed It Out", de Minutes to Midnight (2007). Depois de cerca de uma hora e meia de um show profissional e certeiro, misturando metal, pop e música eletrônica, o Linkin Park saiu novamente consagrado dos palcos brasileiros.