Saiba como foi a segunda edição mineira do evento da plataforma MECA, que também teve shows de Luiza Lian e Tássia Reis, entre outros
Lucas Brêda, de Brumadinho Publicado em 11/07/2017, às 09h31 - Atualizado às 13h20
O cenário privilegiado do mais importante centro de arte contemporâneo do país, o Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG), recebeu a segunda edição do festival MECA no local, chamado MECAInhotim, que aconteceu no último fim de semana (do dia 7 ao 9), com um dia a mais que no ano passado. A edição mineira do festival da plataforma – que há sete anos promove shows, tendo trazido ao Brasil nomes como AlunaGeorge, Charlie XCX e Two Door Cinema Club – funciona uma expansão das ideias anteriores da marca, agora com maior foco na experiência (uma tendência atual neste tipo de evento).
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Estimado em mais de 9 mil durante os três dias, o público foi bastante parecido com os dos festivais anteriores: jovens adultos antenados (em música, moda, publicidade, design), criativamente vestidos, atuantes em artes e comunicação e majoritariamente de classe alta (o passaporte para os três dias custou entre R$ 390 e uma cerveja Stella em long neck custou R$ 12). Desta vez, eles ficaram desde a manhã entre as instalações do museu e as atividades como workshops e palestras e, durante a noite, espalhados pelos bares e palcos do MECA. Havia tanto um ar de conferência quanto de festa.
No Inhotim, o MECA também ficou com cara brasileira. Um dos ícones máximos de status cult da nossa música, Jorge Ben Jor, foi atração principal, em sequência a outro peso pesado da edição de 2016, Caetano Veloso. Como Liniker no ano passado, Karol Conka cumpriu o papel de maior representante da nova geração no line-up. Mas o singelo palco secundário, do TNT, também reuniu nomes ascendentes como Luiza Lian e Tássia Reis – também uma interessante “batalha de passinho” – na região da entrada do Instituto. A veia indie nacional foi marcada pelas atrações do selo paulistano Balaclava Records (que levou Moons, Ventre, Terno Rei), Lumen Craft, Lia Paris e a dupla Balako. Entre as atrações internacionais, o nome mais importante foi o DJ espanhol Pional, sendo que outro DJ, Joakim, cancelou de última hora a performance.
Quem ficou hospedado no camping pôde vivenciar integralmente o festival, o que amplificou ainda mais a promoção de encontros e deu caráter de reunião ao evento. Na prática, um público suficientemente homogêneo estava ali não (só) pelos shows, não (só) pelas atividades, mas para coexistir naquele ambiente. Além disso, o fato de o Inhotim ser afastado do cenário urbano serviu à proposta de “exclusividade” do MECA – “a maior menor plataforma do mundo” –, provendo um clima reservado, com iluminação baixa e colorida e os “labirintos” formados pelos jardins botânicos do local. Até mesmo o palco principal não tinha a pretensão de ser grandioso, pelo contrário, ficou charmoso e acolhedor em um gramado rodeado por árvores.
Exceção a Karol Conka, Jorge Ben Jor (e os DJs), os shows foram recebidos tanto com indiferença quanto com curiosidade. A sexta-feira, por exemplo, teve programação exclusivamente noturna e a amostra da Balaclava. O Moons, de Belo Horizonte, mostrou o folk denso e delicado para uma plateia basicamente quieta, sentada nas cangas espalhadas pelo gramado. A empolgação da noite até foi, aos poucos, se sobrepondo às baixíssimas temperaturas. Primeiro com a melancolia ironicamente adequada do Terno Rei e, depois, com o vigor do Ventre. Mas a plateia só se levantou mesmo para dançar quando os produtores Diogo Strausz e Rodrigo Peirão comandaram o projeto de DJs Balako, já no fim do dia.
Abaixo, veja a nossa lista de shows mais interessantes que vimos no MECAInhotim 2017.
Tássia Reis (palco TNT)
O primeiro disco da cantora e rapper paulista, Outra Esfera (2016) já é suficiente para gerar uma expectativa grande em torno de qualquer show dela neste momento. Mas quando tocadas no palco, as canções ganham outros atributos: ficam mais melódicas e viajadas, com um groove leve forjado pela banda (incluindo até metais) da cantora. Tássia também é espontânea e desenrolada, e ganhou de imediato o pequeno (e de curadoria esperta) palco TNT. Atentando para a farta lua cheia da noite de domingo, 9, ela começou com as baladas (“Não é Proibido”, “Desapegada”) e foi aumentando gradativamente a temperatura, passando por “Semana Vem” e “Da Lama / Afrontamento” e encerrando com a arrojada “Ouça-Me”. “Eu sou exceção, mas todos são resistência – inclusivo os que já se foram”, comentou Tássia. No público do MECA, a frase teve pouco reflexo, mas não deixou de abastecer o discurso sustentado pela cantora.
Luiza Lian (palco TNT)
Outra atração do palco TNT, Luiza Lian cantou no sábado. A apresentação foi focada no recém-lançado álbum Oyá Tempo (2017) e reflete o momento da artista, certamente uma das mais originais que passaram pelo MECAInhotim no fim de semana. Acompanhada apenas por Charles Tixier nas programações, ela deu ainda mais intensidade à abordagem do trabalho atual: uma música essencialmente brasileira – nas letras e vocais – que é naturalmente sintética. Em “Oyá Tempo”, Luiza soa como uma Maria Bethânia dissolvida em autotune; em “Cadeira”, ela evoca Gal Costa, caótica e dramaticamente; e tudo soa sinistramente contagiante como as rimas do refrão de “Tucum”. Ela não arrastou uma multidão, mas certamente deixou alguns interessados de boquiabertos enquanto se entretinham com os estandes de marcas na região do TNT..
Terno Rei
Apesar de ter acontecido no palco principal, o show do Terno Rei também teve a mesma cara dos anteriores: pouca gente conhecia a obra do quarteto paulistano, que baseou o repertório em Essa Noite Bateu Com Um Sonho (2016), segundo e mais representativo disco do grupo. As performances suaves, entretanto, caíram (de maneira completamente inesperada) como uma luva no frio do começo da noite de sexta, quando o clima de festa ainda não havia sido instalado. As guitarras brilhosas fizeram ressoar a poesia introspectiva do vocalista e baixista, Ale Sater, e a vegetação e o lago do Inhotim pareciam ser o único ambiente possível para se ouvir Terno Rei aquela noite.
Karol Conka
Nome em maior destaque atualmente de todo o line-up, Karol Conka soube entender onde estava. Para o público do MECA, o discurso de autoconfiança ao qual ela é atrelada soaria desconexo – e possivelmente batido. A rapper curitibana, então, comandou uma apresentação descontraída, que abrangeu as pérolas de Batuk Freak (2013) e os singles recentes, incluindo a parceria com MC Carol (“100% Feminista”) e uma mescla das faixas dela com o Boss in Drama. A recente “Lalá”, hilária e afiada provocação feminina acerca do sexo oral, previsivelmente gerou rebuliço e a cantora ainda chegou a formar dois casais que se beijaram no palco ao som de “Wild Thoughts” (hit recém-lançado de DJ Khaled com Rihanna e Bryson Tiller). Política mesmo só a presença contundente de Karol, cuja figura magnética já fala tão alto quanto a própria dialética.
Jorge Ben Jor
Sem “oi”, “boa noite” ou parada para tomar água. No Inhotim, Jorge Ben Jor foi um devoto do groove que não cessou um minuto de emendar hits e embalos para a plateia, na ocasião em que ela ficou mais acesa de todo o evento. O ícone de obra cravada no inconsciente popular da música popular brasileira fechou o sábado, dia mais lotado do MECA, tocando por mais de 2h seguidas, com um bônus de 15 minutos para o bis (de “Umbabarauma”, “Taj Mahal”, “Fio Maravilha” e “A Banda do Zé Pretinho”). Atuando como maestro de uma orquestra sem roteiro, Ben Jor foi diluindo um hit no outro (“Santa Clara Clareou” virou “Zazueira” que virou “A Minha Menina”) com a maior fluidez e sem deixar cair a ginga. O conhecido cancioneiro até fez a plateia soltar a voz: “Aqui está frio, mas eu fiquei arrepiado foi com essa energia de vocês”, disse, no único momento de diálogo com a plateia. Ben Jor, que não costuma aparecer em programas de TV e raramente dá entrevistas, pode estar preso de maneira definitiva no próprio passado, mas não sustenta um show apenas em sua imagem: é ao som que ele dedica o suor.
*O jornalista viajou a convite da TNT
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