O diretor responsável pela franquia Transformers mantém as explosões, mas agora com base em fatos reais
Paulo Cavalcanti Publicado em 18/02/2016, às 13h28 - Atualizado às 14h00
Os filmes do diretor e produtor Michael Bay não se notabilizam por terem roteiros elaborados ou por caracterizações marcantes, mas certamente eles têm mais explosões e barulho do que as produções da concorrência. Pelo menos em 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi, que estreia nesta quinta, 18, Bay soube usar esse seu lado com eficácia. O filme é baseado em fatos reais e o cineasta procurou ser ater aos acontecimentos, dando ao longa um caráter documental.
O roteiro de Chuck Hogan segue o livro homônimo de Mitchell Zuckoff, que relata um polêmico incidente ocorrido em 2012, na Líbia. Depois da queda sangrenta do ditador Muammar al-Gaddafi em 2011, os Estados Unidos mantiveram uma presença diplomática precária em meio ao caos de um país que funcionava praticamente sem um governo central. Um dos notáveis que mais acreditavam em soluções pacíficas era o embaixador Christopher Stevens (interpretado por Matt Letscher). Mas os radicais líbios não queriam saber da presença dos norte-americanos, por mais bem intencionados que eles dissessem ser. No dia 11 de setembro de 2012, justamente no aniversário de 11 anos do ataque às torres gêmeas em Nova York, militantes islâmicos atacaram o consulado norte-americano na cidade de Benghazi, que era considerado um dos locais mais perigosos do mundo. Eles agiram com extrema violência e brutalidade, incendiando o prédio da representação dos Estados Unidos. A ação deles causou a morte de quatro norte-americanos, entre eles o embaixador Stevens e Sean Smith (vivido por Christopher Dingli), um oficial do governo.
A ação do filme se move rapidamente do consulado para um anexo da CIA próximo ao local, onde seis membros do GRS, um esquadrão de defesa formado por ex-membros do corpo de elite das forças armadas, defendem a base de um novo ataque, ainda mais extremo e com um contingente muito maior de rebeldes. Os atores James Badge Dale, John Krasinski, Dominic Fumusa, Pablo Schreiber, Max Martini e David Denman vivem os seis operadores paramilitares que tentam dar um jeito na situação.
Dentro da unidade estão inúmeros empregados do governo norte-americano, que buscam conseguir ajuda externa e apoio tático. No entanto, o auxílio parece não vir, atrapalhado pela burocracia das autoridades líbias. Enquanto isso, da mesma forma como ocorreu na célebre batalha do Álamo (Texas, 1836), um minguado número de combatentes dos Estados Unidos tenta conter um exército inimigo que só aumenta e se mostra cada vez mais disposto ao tudo ou nada. Depois de 13 horas angustiantes e sangrentas, o socorro chega e os norte-americanos finalmente são levados para fora do país, mas chocados e traumatizados. Dois dos seis combatentes do GRS são mortos e um deles volta para a casa horrivelmente mutilado.
13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi não vai fazer com que aqueles que odeiam o cinema de Bay mudem de opinião sobre o a visão artística do diretor. Mas é claro que este é um filme muito mais eloquente e mais envolvente do que Pearl Harbor ou toda a série Transformers. Assim como foi em Falcão Negro em Perigo, de Ridley Scott (cuja desastrada operação mostrada na trama, passada na Somália, é citada em 13 Horas), a intenção de Bay é jogar o espectador por quase duas horas e meia no meio do caos, desespero, mortandade e confusão de uma situação de guerra. Nisso, Bay cumpre a tarefa com extrema eficiência e realismo. Ele utiliza câmera de mão e cenas em planos sequência para criar uma sensação vertiginosa e desconcertante de paranoia e insegurança. Bay não toca na questão política do incidente. Até hoje a culpa pelo fiasco é colocada nas costas do presidente Barack Obama e de Hillary Clinton, que na época era Secretária de Estado. Ambos são acusados de terem subestimado a situação na Líbia e de terem feito corpo mole em relação ao que acontecia lá.
13 Horas é um filme patriótico, mas sem patriotada. Os combatentes não fazem discursos a favor dos Estados Unidos e nem contra os inimigos com os quais estão lidando. Eles só querem cumprir a missão, sair de um país destroçado cuja linguagem e costumes eles não entendem e tentar voltar para casa. Com muito sangue e violência – e mortes e mutilações sendo mostradas de forma explícita –, 13 Horas deve ser evitado por almas sensíveis. Ainda assim, o longa deve interessar àqueles que seguem os rumos da política externa norte-americana e seus eventuais desastres militares.
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