"Ele não tinha certeza se poderia cantar. Mas um pouco depois, acabamos gravando", relembra o companheiro de Beastie Boys
David Fricke Publicado em 23/05/2012, às 11h40 - Atualizado em 24/05/2012, às 11h02
"Do jeito mais bonito possível, ele enganou a todos nós. Nunca realmente considerou que morrer de câncer era uma opção, de verdade. Por causa disso, não consideramos que essa era uma opção", disse Michael Diamond sobre a Adam Yauch, amigo dele e parceiro de Beastie Boys por mais 30 anos. "Eu acreditei, até a última semana, que Adam ia voltar de algum jeito", Diamond confessou, em entrevista depois da morte de Yauch (também conhecido como MCA), ocorrida em 4 de maio. Sentado na cozinha de sua casa no Brooklyn, a apenas seis quarteirões de onde Adam cresceu, Mike D relembrou o companheiro e o otimismo com o qual ele lidou com o câncer durante três anos.
Relembre a carreira de Adam Yauch em fotos.
Yauch sempre teve um espírito lutador?
Ele tinha essa resistência e essa fé antes de descobrir o budismo. A mãe dele contou que isso já estava lá. Não importa o quão maluca pudesse ser uma ideia, ele tinha a habilidade de seguir em frente com as coisas em que acreditava. Como a capa de Paul's Boutique: “Uma foto em 360 graus? Você não consegue fazer uma câmera rodar assim”. Ele pesquisou e achou uma que podia fazer isso. Era uma coisa inerente a ele.
Como rapper, Yauch tinha uma voz de barítono única. Ele soava mais como um cantor de soul.
Mesmo quando estávamos fazendo as nossas primeiras gravações de hip-hop, quando tínhamos 19 e 20 anos, ele soava como homem de 40 anos. Ele era como um Bobby Womack do rap.
Yauch era um MC talentoso. Era o fluxo dele, mais do que letras específicas, que primeiro deixou Adam [Horovitz] e eu embasbacados. No começo, nós estávamos no estúdio, maravilhados com o modo como Yauch fazia parecer fácil. Horovitz e eu talvez estivéssemos com um pouco de ciúmes. E o Rick [Rubin] disse para mim: “Não, isso é bom. Esse é o ponto onde Yauch está. Você parece estar dando duro. Você é o rapper trabalhador [risos]”. Eu ainda não tenho certeza do que tirar disso.
Qual foi sua primeira impressão sobre Yauch quando vocês se conheceram ainda adolescentes?
Adam me ensinou como fazer meus próprios emblemas [de bandas punk], como falsificar entradas para shows. E depois que ele, [o guitarrista original do Beastie Boys] John Barry e eu vimos o Black Flag no Peppermint Lounge, Yauch disse: “Vamos começar uma banda, e vocês dois estão nela”. Foi a mesma energia que permitiu que ele abrisse uma produtora de filmes própria, a Oscilloscope – a habilidade de querer muito que alguma coisa acontecesse.
O que é um exemplo disso no disco Licensed to Ill?
A gente estava tocando um Roland Tr-808 Drum Machine. A gente fez uma batida, e Yauch disse: “Gostaria de ver como fica ao contrário”. Run, do Run D.M.C., estava lá. Yauch gravou o beat, botou em uma outra fita, inverteu – isso é antes da era do sample digital. A faixa invertida basicamente virou "Paul Revere". Yauch viu uma coisa que não conseguíamos ver.
Ele comentou o fato de ter tido experiências com ácido na época de Paul’s Boutique.
Yauch estava começando uma viagem interior na mente. Nós estávamos jogando um monte de samples uns nos outros, e Yauch definitivamente impulsionou isso. A experiência com ácido deu a ele a habilidade de enxergar: “Wow, isso é ótimo – aperte play em tudo ao mesmo tempo”. Yauch era ótimo em não ter medo.
A personalidade dele mudou depois que ele tornou budista?
Ele abandonou a banda por meses no inverno para praticar snowboarding. Aí, não era mais snowboarding. Ele sumia por dois meses para ter ensinamentos com Dalai Lama em Dharamsala. Ele gradualmente incorporou isso à música.
Mas ele nunca foi dogmático a respeito. Ele dizia: “Você deveria ver esses monges. Eles amam fazer piadas um com o outro”. Quando estávamos destruindo carros no vídeo de “Sabotage”, era a mesma coisa. A diferença é que estávamos com bigodes e perucas.
O quanto de música vocês fizeram nas últimas sessões de gravação, no outono passado?
Yauch nos instigou para isso. Só poderia vir dele, em termos de onde ele estava com o tratamento. Eram coisas que tínhamos escrito ou demos, e houve novas ideias. Ele não tinha certeza se poderia cantar. Mas um pouco depois, acabamos gravando os vocais. E ele estava bem.
Você consegue se imaginar fazendo música sem ele?
Eu consigo ver a música. Não sei sobre um formato de banda. Mas Yauch iria genuinamente querer que tentássemos qualquer coisa doida que quiséssemos.
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