Acompanhado por uma banda, músico nova-iorquinho priorizou hits em vez de se basear em seu último disco, o calmo Wait for Me
Por Bruna Veloso Publicado em 26/04/2010, às 12h41
Se você o conhecesse apenas por fotos, diria se tratar de um nerd caseiro, interessado mais nos últimos lançamentos do mundo dos games que na vida noturna de Nova York. Mas Moby é a prova de que não, não se deve julgar pelas aparências. O franzino músico, um dos nomes mundiais mais fortes da música eletrônica no mainstream, mostrou, nesta sexta, 23, em São Paulo, que apesar do jeito emotivo e do visual antiparty, ainda tem muito a festejar.
Mas o público de 5,5 mil pessoas no Credicard Hall teve de esperar mais de 40 minutos após a apresentação da banda Copacabana Club e dos DJs do 2Headz para celebrar ao som do norte-americano. Uma rápida queda de energia na casa de espetáculos pouco antes das 23h, enquanto um roadie estava na bateria, colaborou para o atraso. Com o público já impaciente, ao som gravado de "A Seated Night", a banda de Moby aparece aos poucos no palco, meia hora depois: uma violinista oriental, a ótima cantora jamaicana que faz boa parte dos vocais no show, a baixista de Porto Alegre, a tecladista que lembra KT Tunstall no visual e no tom rouco e o baterista, careca como o músico nova-iorquino. Moby é o último a surgir, com uma guitarra em punho. É a deixa para o hit "Extreme Ways", uma pérola de sua obra, popularizada na trilha do filme Identidade Bourne.
A turnê trazida ao Brasil faz parte da divulgação de Wait for Me, disco lançado pelo cantor, produtor, instrumentista e DJ em 2009. Mais orquestral e quase depressivo, o álbum teve apenas três músicas no setlist (além da já citada "A Seated Night", "Mistake" e "Pale Horses"). Moby sabia que o público, que o vê como um expoente da música eletrônica "inteligente", esperava por uma apresentação energética. E assim foi: correndo sempre de um canto a outro do palco, Moby passeou por toda sua carreira - apenas as faixas de Animal Rights, de 1996, ficaram de fora.
Ao vivo, apesar da participação da banda, o repertório não soa tão orgânico quanto de outros artistas eletro que se valem de instrumentos para incrementar as pick-ups, como o Groove Armada, por exemplo. O peso das bases pré-gravadas faz com que não haja a sensação de que estamos diante de uma banda - a exceção fica por conta da cantora, que mostra o nível de sua potência em "Why Does My Heart Feels So Bad?" (tente cantar o verso "these open doors" repetidamente, como na versão de estúdio, para ter uma noção da dificuldade da execução ao vivo). Há momentos em que o show se transforma em uma grande balada, como em "Disco Lies", "Lift Me Up" e "Feeling So Real", de levada drum'n'bass, apresentada no final do show.
Vestido inteiramente de preto, mas animado como se estivesse em uma rave, Moby largava a guitarra modelo SG para tocar conga em faixas como "In My Heart" e "Go", dedicada ao DJ brasileiro Carlos Soul Slinger e "a todos os artistas de música eletrônica do Brasil". Foi Slinger que trouxe Moby pela primeira vez ao país, em 1993, para a rave L&M Music, considerada a primeira realizada em solo tupiniquim. Apesar de atualmente interessado em fazer músicas orquestrais e "atmosféricas", como indicou em entrevista à edição de abril da Rolling Stone, Moby não deixa de lado a cultura club que o tornou famoso.
Hits como "Bodyrock" e "Porcelain" (ambas do fenômeno comercial Play, de 1999) mostravam o máximo da animação do público, aparentemente composto em grande parte por homens e mulheres a partir dos 25 anos. Em "We Are All Made of Stars", outro sucesso, Moby comanda uma guitarra mais suingada que na versão de estúdio, mesmo cantando de forma muito similar à faixa lançada no disco 18, de 2002. Apesar de não ser um grande vocalista (ele mesmo admite), é impossível duvidar da qualidade do músico como compositor e instrumentista - ao vivo ele mostra seus dotes na guitarra e nas congas, mas em estúdio é ele quem toca praticamente todos os instrumentos.
A veia roqueira aparece nas versões de "Walk on the Wild Side" ("cover de um dos meus músicos favoritos [Lou Reed]") e "Whole Lotta Love" (do Led Zeppelin, com direito a solo e Moby esfregando as cordas da guitarra no pedestal), além da levada blues de "Honey". Para terminar, depois de todos saírem do palco, Moby volta, sozinho, ao som da pertubadora "Thousand", seguindo as batidas da música com socos no ar. A faixa, creditada à época de seu lançamento como o mais "rápido" single lançado até então, em 1993 (como o nome explica, são mil batidas por minuto) terminou o show por volta da 1h de sábado, 24, com gosto de festa - e, para não desanimar os pagantes, a noite foi esticada com o set do Killer On the Dance Floor.
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