O filme foi indicado ao Oscar em oito categorias e estreia nesta quinta, 23
Paulo Cavalcanti Publicado em 22/02/2017, às 14h33 - Atualizado às 21h36
Moonlight – Sob a Luz do Luar é uma bela experiência cinematográfica. Embora não seja tão revolucionário, transgressor ou militante quanto tem sido vendido, o longa dirigido por Barry Jenkins tem inúmeros méritos. No começo do ano, ele despontava como o possível grande vencedor do Oscar, mas o sucesso de La La Land – Cantando Estações se consolidou e o musical acabou se transformando em mini-fenômeno. Agora, é o favorito para levar o maior número de estatuetas no próximo domingo, 26. De qualquer forma, Moonlight – Sob a Luz do Luar não deve ser descartado e ainda pode surpreender. Dentre as categorias em que foi indicado estão as de Melhor Filme, Melhor Diretor (Jenkins), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali), Melhor Atriz Coadjuvante (Naomie Harris), Melhor Edição, Melhor Cinematografia e Melhor Trilha Sonora.
Atenção, pode conter spoilers
O filme é dividido em três partes que têm a mesma duração e idêntico peso dramático. No primeiro, chamado "Pequeno", encontramos uma criança negra habitante da parte pobre de Miami chamada Chiron (Alex Hibbert). Logo no começo, ele é perseguido por outros garotos e acaba se refugiando em uma boca de fumo. Lá conhece o traficante Juan (Ali), que o leva para a casa. Ao lado da namorada Teresa (Janelle Monáe), Juan tenta quebrar o silêncio do menino. Juan descobre que Paula (Naomie Harris), a mãe do garoto, é viciada em crack e que ela obtém a droga justamente pelas mãos dos empregados do próprio Juan. Chiron não consegue se entrosar com outros garotos por ser muito sensível; Juan e Teresa, com muita paciência, conseguem fazer com que ele se abra um pouco.
A segunda parte, "Chiron", se passa alguns anos depois. Interpretado por Ashton Sanders, o personagem agora é um adolescente desconfiado e ainda com poucos amigos. Ele tem um único companheiros, Kevin (Jharrel Jerome). Chiron ainda tem problemas com a mãe e passa boa parte do tempo com Teresa – logo é revelado que Juan havia morrido tempos atrás, embora não sejam fornecidos detalhes sobre o que aconteceu. Em uma noite de luar, Chiron e Kevin começam a falar sobre a vida e relacionamentos e, ao lado do amigo, ele desperta para o sexo. Chiron tenta levar a vida do jeito que dá, mas é atormentado por Terrel (Patrick Decile), o valentão local que zomba da sexualidade dele. Depois de ser surrado no pátio da escola, Chiron se desforra de Terel de forma espetacular. Ele é expulso da escola e enviado para um reformatório em Atlanta.
No terceiro segmento, chamado "Preto", Chiron (Trevante Rhodes) mora em Atlanta e não é mais o garoto tímido e fracote dos tempos de Miami. Ele é um traficante bem-sucedido e malhado, que desfila em um carrão e exibe correntes e dentes de ouro. Fica claro que ele se inspirou em Juan, a única figura paterna que teve, e que por trás da aparência "gangsta" ele ainda é solitário e retraído. Inesperadamente, um dia ele recebe uma ligação de Kevin (agora interpretado por André Holland). Kevin também teve problemas com a lei passou um tempo no reformatório. Ele se casou, separou e tem um filho pequeno, que é a coisa mais importante para ele e que o mantém na linha. O jovem dirige um pequeno restaurante e quer que Chiron vá conhecer o local. O protagonista ruma para Miami e, ao lado de Kevin, embarca em uma noite de reminiscências, um encontro que será decisivo afetivamente para ambos.
Moonlight – Sob a Luz do Luar não é um drama de cunho social ou um tratado sobre questões raciais. O filme se passa em Miami, na época da chamada “guerra das drogas”, mas isso também não transparece; não vemos sequer um policial em cena. Excetuando o momento em que Chiron se vinga de Terrel, praticamente não tem violência. Moonlight é poético, naturalista e, em alguns momentos, tem até um tom bíblico. Quase todos os personagens são nobres. A mensagem é a de busca pela empatia, aceitação, a procura por uma identidade afetiva e sexual e os limites da amizade. Em suas três "encarnações", Chiron é uma figura de poucas palavras, contemplativa e meditativa.
É uma pena que, no campo masculino, somente Mahershala Ali tenha sido indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. A participação dele é marcante, mas o tempo do ator em cena é relativamente pequeno. Alex Hibbert e Trevante Rhodes também mereciam uma indicação. Moonlight – Sob a Luz do Luar já vale por todas as grandes interpretações dos atores que vivem Chiron, além de Naomie Harris e da surpreendente atuação da cantora Janelle Monáe.
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