Conhecido como Paulinho pelos mais próximos e uma enciclopédia musical ambulante, ele atualmente era colaborador da 'Rolling Stone Brasil'
Pedro Antunes, Editor Publicado em 26/02/2019, às 19h11
"Tito is cool", escreveu Paulo Cavalcanti, por mensagem de texto, em 11 de fevereiro. Avisava que havia acabado de desligar o telefone e encerrar uma entrevista com um dos irmãos de Michael Jackson. Ao fazê-lo, citou a animação Beavis and Butt-head, sucesso da MTV dos anos 1990.
Paulinho ou PC, como era chamado por todos, dos mais chegados aos colegas virtuais de trocas de e-mails, era assim, mesmo. Enfileirava referências, entre sorrisos apressados e despedidas súbitas.
E, desse jeito, foi embora um dos grandes do jornalismo. De novo.
Morreu nesta terça-feira, 26, o jornalista Paulo Cavalcanti. Ele tinha 56 anos e foi vítima de uma parada cardíaca. Jornalista, ele foieditor-assistente da Rolling Stone Brasil e, desde setembro, passou a ser colaborador do site da marca.
Ainda na noite de domingo, 24, Paulo se queixou de dores no peito com um dos irmãos mais novos, Ricardo. Pediu para ser levado ao Hospital do Mandaqui, localizado na Zona Norte de São Paulo. Ainda no carro, a caminho do hospital, sofreu o primeiro infarto.
Já internado, seu quadro clínico foi considerado grave pelo corpo médico do hospital. "Seu coração estava debilitado", lembra Ricardo. Por volta das 6h desta terça-feira, o irmão recebeu uma chamada do Hospital. Ao chegar lá, foi informado que Paulo havia morrido.
Ainda não há informaçõres sobre velório e enterro.
Paulinho nasceu Paulo Alderaban Lopes Cavalcanti, em São Paulo, em 1962. Tinha um irmão e uma irmã e era o mais velho dos três. Filho de jornalista, seguiu a profissão do pai. Gabava-se das histórias vividas nos tempos do jornal Notícias Populares, também conhecido como NP, periódico que funcionou até 2001.
Ali, trabalhou ao lado de outros maiorais do jornalismo cultural, assim como ele. Lá trabalharam nomes como André Barcinski, Álvaro Pereira Júnior, Sergio Martins, Lucio Ribeiro, Ivan Finotti, Thiago Ney, Eduardo Tirone, Thales de Menezes, entre outros.
(Paulo Cavalcanti e os integrantes do Queen e Paul Rodgers, à esq., então vocalista da banda)
Dentre eles, Paulinho era a enciclopédia ambulante. Dane-se a Wikipedia, o Google, a internet. Jornalista old school como o Paulo Cavalcanti gostava de ter tudo na memória, que era das boas.
Lembrava-se de datas de lançamentos de discos, formações, bandas. Três minutos de prosa nunca eram só três. Viravam facilmente cinco, dez, vinte minutos. Era uma aula, era uma farra.
Por anos, recusou-se a ter um aparelho celular, veja só. Item esse só adquirido no fim da vida. Com ele, dava notícias com frequência, sempre animado com o novo trabalho. Além de se manter como colaborador da Rolling Stone Brasil, PC trabalhava com Barcinski em um documentário sobre a história do pop brasileiro.
Em uma das últimas conversas, Paulinho contava das rotinas de gravações em externas, bastante extenuantes, mas celebrava que o trabalho pesado só voltaria em março. Até lá, estava animado para voltar a escrever para a Rolling Stone Brasil.
No tempo de trabalho na Rolling Stone, chegava na redação costumeiramente com pressa, sempre com algo debaixo do braço - na maioria das vezes, trazia uma pasta de couro surrada e de cor já desgastada. Sentava diante o seu computador e, com um fone de ouvido, disparava o som para dentro de si.
Era com a música que Paulinho parecia estar mais confortável. Como se a frequência das ondas sonoras ajudasse a colocar ordem nos pensamentos rápidos dele. Era fácil vê-lo batendo mãos e pés, como se tocasse uma bateria imaginária - vai saber o que se passava dentro da cachola dele quando isso acontecia.
Nos shows, era visto acompanhado de algum colega jornalista, normalmente, nomes como José Flávio Júnior e Sérgio Martins. "Você ouviu que aqui eles estão fazendo uma referência a...", dizia Paulinho a quem estivesse do seu lado, com a mão sobre a boca, como se contasse um segredo de estado.
Tinha um coração gentil e enorme a partir do momento que decidia deixá-lo entrar e mantê-lo ali. Deu, por exemplo, a algumas dezenas de jovens aspirantes de jornalismo a primeira chance de assinarem um texto pela Rolling Stone Brasil. Até o fim da revista, cuja última edição saiu em setembro de 2018, ele era o responsável por editar os guias de CDs, livros, filmes, DVDs. Era uma honra receber uma mensagem dele pedindo por uma crítica de disco para a RS.
Em 20 de janeiro, mandou seu último e-mail para a RS Brasil. Escreveu, sempre como se corresse contra o tempo: "Pedro, beleza? Em um hiato aqui, bateu inspiração e fiz isso rapidinho. Pode render, esses temas estranhos estão em alta, vai saber. Já falamos de outras coisas! Abraços!". Em anexo vinha um arquivo com uma lista de canções que burlaram a censura.
Foi também um ótimo editor para se ter ao lado. Acompanhou todas as transformações da Rolling Stone Brasil, com ao trabalhar para os editores-chefes Ricardo Cruz, Pablo Miyazawa, Bruna Veloso, Stella Rodrigues. Na minha vez no cargo, depois de ter sido seu repórter, restou-me tê-lo como colaborador e não mais como uma figura diária.
Paulo Cavalcanti se foi rápido, sem se despedir direito, como o fez tantas vezes em vida, depois de algum show, exibição de filme ou fechamento de revista. Resta essa homenagem póstuma.
"Paulinho was cool".
(Abaixo, você encontra alguns dos textos mais recentes do Paulo Cavalcanti publicados pela Rolling Stone Brasil)
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