Seeger foi uma figura seminal da música norte-americana; ele estava com 94 anos
David Browne Publicado em 28/01/2014, às 11h31 - Atualizado às 13h20
Morreu aos 94 anos Pete Seeger, figura seminal da música norte-americana, que manteve a música folk viva e influenciou gerações de músicos, de Bob Dylan a Bruce Springsteen. Ele morreu na última segunda, 27, em Nova York, de causas naturais, de acordo com que o neto dele confirmou ao jornal The New York Times.
Como artista solo, compositor, intérprete e integrante da lendária banda de folk The Weavers, Seeger levou músicas tradicionais e politizadas ao mainstream ao longo de seus 70 anos de carreira. Ele compôs ou ajudou a compor "If I Had a Hammer" (um hit do Peter, Paul and Mary) e "Where Have All the Flowers Gone?" (que ficou famosa com o Kingston Trio). O Byrds chegou ao primeiro lugar das paradas com "Turn! Turn! Turn!", que Seeger adaptou do Livro de Eclesiastes e transformou em música. Nas mãos de Seeger, canções de Cuba ("Guantanamera") e da África do Sul ("Wimoweh") se tornaram standards adorados no mundo todo, e "We Shall Overcome", uma música gospel tradicional que Seeger tinha ouvido no começo da carreira, se tornou parte do repertório regular dele e presença constante em manifestações pelos direitos civis nas décadas seguintes.
Apesar de Seeger nunca ter conseguindo entrar nos primeiros 40 lugares da parada por conta própria, o top 40 nunca foi uma indicação do impacto impressionante que tinha. Sua enorme influência na música nunca foi tão óbvia quanto no show que comemorou seus 90 anos, no Madison Square Garden (Nova York), em 2009. Entre os que compareceram para prestar homenagem a ele estavam Springsteen, Joan Baez, John Mellencamp, Dave Matthews, Emmylou Harris, Tom Morello, Ben Harper e Billy Bragg. "A história da vida de Pete é a história da música mudando o mundo”, disse Tom Morello para a Rolling Stone EUA em 2007.
Uma figura alta e imponente, conhecido por sua voz e por tocar banjo, Seeger era também a encarnação da conexão entre o folk e a política da esquerda. Ao longo da carreira, ele participou de eventos a favor dos direitos civis, e protestou contra guerras e energia nuclear. Isso e o fato de ele ser membro do partido comunista o colocaram na lista negra de um comitê que lutava contra atividades “anti” norte-americanas, na década de 50. Para conseguir se sustentar, ele chegou a fazer quatro shows por dia, cada um por US$ 25. “Eu ainda acredito que a única chance que a raça humana tem de sobreviver é abrindo mão de prazeres como a guerra, racismo e lucro pessoal”, ele disse à Rolling Stone EUA em 1979 – crença que ele manteve até a morte.
Nascido em 3 de maio de 1919, em Nova York, Seeger tinha tanto a música quanto a política no sangue desde o início. Seu pai, Charles Seeger, que morreu em 1979, ensinava música em Yale e na Julliard e era muito crítico em relação à Primeira Guerra Mundial. Apesar de ele ter freqüentado escolas privadas de elite, descobriu o banjo quando era adolescente e, depois de largar os estudos na Universidade de Harvard, no fim da década de 30, trabalhou com o folclorista Alan Lomax para catalogar e preservar canções tradicionais. Ao longo dos anos seguintes, Seeger e outros amigos de Nova York formaram o Almanac Singers, morando em uma versão embrionária de uma comuna no bairro Greenwich Village. Nessa época, Seeger conheceu e ficou amigo de Woody Guthrie, outro membro do Almanacs, que durou pouco.
Em 1948, Seeger, junto a Ronnie Gilbert, Lee Hays e Fred Hellerman, formou o The Weavers. Com seus ternos (os homens), pérolas (Gilbert) e harmonias delicadas, o Weavers fundiu o folk e a música “polida” de forma que foi capaz de atingir um público bem amplo: a versão deles de "Goodnight, Irene" (Leadbelly) conseguiu vender impressionantes dois milhões de cópias, em 1950. O repertório do grupo também incluía "Wimoweh" e uma música folk israelita, ("Tzena, Tzena, Tzena"); pode-se dizer até que, de certa forma, o Weavers inventou a world music.
Mas o sucesso do Weavers não durou muito. Assim como muitos outros no mundo do entretenimento, o grupo entrou para a lista negra do comitê de caça aos comunistas durante a caça às bruxas que aconteceu em 1952, o que prejudicou o grupo financeira e criativamente. Eles se reuniram três anos mais tarde, mas Seeger deixou o grupo em 1958 depois de se recusar a participar de um comercial de cigarro com eles. Seeger chegou a ser condenado depois de se recusar a responder perguntas sobre suas crenças políticas em uma audiência do comitê, mas a condenação foi revogada um ano depois por causa de uma questão técnica.
Graças à cobertura da mídia, quando foi condenado, e a um novo contrato com a Columbia Records, a carreira de Seeger e a influência dele voltaram a crescer na década de 60. Dylan, Baez, Judy Collins e Peter, Paul and Mary estavam entre os novos artistas folk de consciência política que idolatravam Seeger. Faixas como "Waist Deep in the Big Muddy", a respeito da Guerra do Vietnã, mostraram que Seeger ainda se recusava a deixar a política de lado na música. Ele também estava produzindo muito: mesmo antes de deixar o Weavers, Seeger começou a gravar sozinho e nas décadas seguintes lançou dezenas de coleções de baladas folk, músicas infantis, além de discos que ensinavam a tocar guitarra e banjo.
O palco, e não o estúdio, era o lar natural de Seeger. Desde o começo da carreira, Seeger estava igualmente em casa cantando para crianças afro-americanas, em acampamentos de verão, para o público universitário ou no programa de TV Colbert Report (em meados de 2012). Sobre o palco, Seeger não tinha dificuldade de reunir em seu vasto repertório músicas internacionais, histórias sobre a própria vida e sua marca registrada, que era colocar o público para cantar junto. Seeger nunca perdia o bom temperamento – o que foi a chave de sua popularidade duradoura – mas ficou famosa a história de como ele perdeu a paciência com a lendária participação de Bob Dylan no festival Newport Folk, em 1965. Vendo Dylan se apresentador com uma banda “plugada”, Seeger ficou revoltado (talvez fosse, na verdade, por causa do volume alto demais). Segundo reza a lenda, Seeger agarrou um machado e tentou cortar os cabos, mas esse relato já foi refutado. Posteriormente, Seeger chamou a performance de Dylan de "um pouco da música mais destrutiva deste lado do inferno”.
Fora do palco, Seeger ajudou a limpar o rio Hudson com seu Projeto Clearwater, que começou no fim da década de 60. Nos últimos anos, Seeger — que morava com sua esposa de longa data, Toshi, na casa que ele construiu em Nova York, diminuiu o ritmo, mas não muito. Ele continuou a gravar e fazer shows. Em 2012, ele lançou não apenas um, mas dois discos, um deles era um tributo a Guthrie. Ele também marcou presença em uma manifestação do Occupy ano passado.
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