Rita Lee foi capa da edição digital especial da Rolling Stone Brasil em novembro
Redação Publicado em 09/05/2023, às 11h06
Rita Lee morreu na noite desta segunda-feira, 8, aos 75 anos. Ela foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2021 e vinha fazendo tratamentos contra a doença.
A família da cantora divulgou um comunicado nas redes sociais dela:
"Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, em São Paulo, capital, no final da noite de ontem, cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou".
O velório será aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, na quarta-feira (10), das 10h às 17h. Em novembro do ano passado, Rita Lee foi capa da edição digital especial da Rolling Stone Brasil. Confira a entrevista abaixo.
Vovó Rita, Santa Rita de Sampa ou Todas as Mulheres do Mundo: homenageada do Grammy Latino nesta quinta-feira (17), Rita Lee receberá o Lifetime Achievement Award, prêmio pelo conjunto de sua obra artística. É uma conquista a mais para a cantora, que já soma oito indicações e duas vitórias na premiação.
A homenagem a Rita foi o ponto de partida para a nova capa digital da Rolling Stone Brasil, especial que reúne um ensaio recente e exclusivo da cantora, realizado por Guilherme Samora, o jornalista, escritor e diretor artístico da mostra sobre os 50 anos de carreira de Rita Lee, sucesso em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Foi através de Guilherme, que é amigo pessoal e o maior conhecedor da carreira de Rita - fãs o reconhecerão como o Phantom, o fantasma que dialoga com a cantora em Rita Lee: Uma Autobiografia - que a Rolling Stone Brasil conversou com a artista, em busca de sua visão de mundo e também em seu impacto na nova geração - que ela encara, é claro, sem caretice:
"Gosto mais de ser chamada de ‘padroeira da liberdade’ do que ‘rainha do rock’, que acho um tanto cafona…"
Além da entrevista, disponível na íntegra abaixo, a Rolling Stone Brasil especial digital Rita Lee ainda convidou artistas mulheres para dar seu depoimento sobre o legado de Rita em sua obra. Quem topou foram nomes como Manu Gavassi, Claudia Leitte, Mel Lisboa, Luísa Sonza e Duda Beat, cantoras e compositoras, criadoras que tiveram vida e obra tocadas por ela, e que ganham dela um conselho simples na hora de criar: "sempre digo que é bacana quando o artista canta suas próximas músicas". "Vale a pena investir em compor.". A edição completa será disponibilizada na próxima semana para download em PDF.
Confira abaixo a entrevista completa de Guilherme Samora com Rita Lee:
Rolling Stone Brasil: Você influencia artistas que vieram depois de você desde os anos 70/ 80... hoje, vemos essa nova geração do pop dizendo que existe por sua causa e confessando devoção a você. Você acompanha algo dessa garotada?
Rita Lee: Essa meninada é danada, são bandleaders, sabem o que querem, me mandam recados, vídeos de suas apresentações. E vejo que, todas, cada uma à sua maneira, além de bonitas e gostosas, são afiadas e afinadas.
Rolling Stone Brasil: Em sua exposição no MIS, principalmente pessoas muito jovens ficaram muito surpresos e faziam fila no setor com os documentos da censura, sobre sua prisão em 1976... Você podia imaginar que seria cultuada numa espécie de "santa padroeira da liberdade"?
Rita Lee: Gosto mais de ser chamada de ‘padroeira da liberdade’ do que ‘rainha do rock’, que acho um tanto cafona… A expo foi linda, obra de três filhos queridos. Guilherme Samora, meu editor e jornalista, foi o diretor artístico; Chico Spinosa meu carnavalesco favorito, foi o cenógrafo e Juca, meu filho do meio, foi o curador. Levantaram meu baú de roupas de show, instrumentos e curiosidades minhas. Havia um espaço para quem quisesse escrever um bilhetinho para mim e até hoje estou lendo, de tantas cartinhas que recebi. Fico impressionada com as crianças, que me tratam como vovó Rita: conhecem músicas minhas, me desenham, mandam cartinhas de amor… e eu fico toda babando.
Rolling Stone Brasil: Você já afirmou essa é sua primeira encarnação como mulher. E você já veio como uma inspiração para todas, com desacato, indagações, músicas muito à frente do tempo... Está curtindo ser mulher nessa passagem pela Terra?
Rita Lee: Não poderia ser diferente, o mundo feminino é muito interessante, complexo e louco. Temos conquistas pela frente e aos poucos vamos tomando o poder a que temos direito. Se for para reencarnar novamente aqui na Terra vou querer ser mulher, caso contrário vou nascer hermafrodita num lugar onde não haja preconceito nem políticos escrotos.
Rolling Stone Brasil: Você também fala, em sua autobiografia, da importância da bênção de João Gilberto para você em 1980. Você percebe que ao deixar as meninas gravarem suas músicas, mandar recados e conselhos, você também está dando uma bênção importantíssima para elas?
Rita Lee: João Gilberto declarar que sou roqueira com voz de bossanoveira inflou meu ego. E ao ser citada por essas garotas, a honra é toda minha. Elas têm minhas bênçãos se quiserem me cantar, são todas bem-vindas.
Rolling Stone Brasil: Tem algum conselho ou recado para deixar para elas?
Rita Lee: Sempre digo que é bacana quando o artista canta suas próprias músicas, diz o que deseja, dá seu recado sem papas na língua. Vale a pena investir em compor.
Rolling Stone Brasil: Sabemos que essa pergunta é complicada... mas as meninas querem muito saber de um disco seu do qual você tenha orgulho. Ou uma indicação, que seja, de um álbum de sua discografia, para elas escutarem mais atentamente.
Rita Lee: Um disco meu que tenho carinho é o Todas as mulheres do mundo (o disco chama-se Rita Lee, de 1993). Ele não foi trabalhado na época, mas tem músicas que eu gostei muito de ter feito, como “Menopower”, “Filho Meu”, umas e outras mais que agora me escapam da memória.
Fotos: Guilherme Samora
Headpiece: Walério Araújo
Arte capa: Felie Fiuza
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