Artista baiano estava com 77 anos
redação Publicado em 14/04/2016, às 14h54 - Atualizado às 15h22
Morreu aos 77 anos o artista, poeta e músico baiano Rogério Duarte, mentor estético do movimento tropicalista. Ele morreu na noite da última quarta, 13, no Hospital Santa Lúcia, em Brasília, cidade onde morava. Estava internado há quase dois meses, de acordo com o portal UOL, tratando de um câncer ósseo e no fígado.
O ícone das artes visuais, o baiano de mil habilidades que deixou uma marca indelével como artista gráfico, músico, cineasta, tradutor, compositor e poeta, entre outras atribuições. Duarte esteve presente desde o começo do tropicalismo e foi um dos principais arquitetos daquela explosão cultural que repercute até hoje, dentro e fora do Brasil. Compositor da trilha de A Idade da Terra, de Glauber Rocha, e criador das capas dos principais discos da Tropicália, ele ainda foi diretor de arte da União Nacional dos Estudantes (UNE).
No ano passado, a obra dele foi apreciada pelo grande público na exposição Marginália 1, uma retrospectiva do legado de Duarte. A mostra reuniu cerca de 70 obras, incluindo capas de discos, publicações e cartazes, além de trabalhos inéditos e objetos pessoais, como notas, esboços, rabiscos, vídeos, fotos, ensaios e poemas.
Nascido em Ubaíra, interior da Bahia, em 1939, Duarte se mudou para o Rio de Janeiro no início da década de 1960. Sobre suas principais influências, ele citou o “carnaval da Bahia e a arte brasileira em geral”, em uma entrevista concedida à época da entrevista para a Rolling Stone Brasil (leia aqui. “Sou intelectual e professor, assim tive de estudar muito a história da arte”, detalhou. Nesse processo, ele absorveu diversas teorias até chegar a um estilo próprio de criação; também estudou pintura clássica, se inteirando do trabalho de impressionistas, modernistas e futuristas. “Sou uma soma tropical de quase tudo o que se fez antes”, resumiu. Os inventivos tempos do tropicalismo, sempre presentes na memória do artista, foram marcantes – mas não só pela arte. “Tudo foi interrompido pelo Ato Institucional Nº 5, em dezembro de 1968, que trouxe exílios, prisões e torturas”, ele relembrou, falando sobre o período mais rígido da ditadura brasileira.
Porém, apesar da carga negativa trazida pelo governo militar instituído em 1964, a vida cultural permaneceu intensa, e talvez até mais prolífica do que em outros tempos. “Aquele momento antes da sombra [do AI-5] marcou um período luminoso para a cultura do Brasil. Para sobrevivermos ao golpe que tinha fechado as portas para as manifestações mais tradicionais, tentamos retomar a militância por meio do tropicalismo”, explicou. A atmosfera daquela época era muito livre, repleta de convivência, diálogos e atuações coletivas, o que levou à criação de diversas obras-primas atemporais.
Duarte esclareceu que sua atuação, assim como a dos outros tropicalistas, foi orgânica. Apesar de seu peso naquela cena, ele não acha que teve o papel de mentor do movimento. “Nunca entendi muito o significado dessa palavra”, desconversou.
Dessa forma, ele se definiu como um intelectual que participou das ideias de uma geração que incluíam uma intensa movimentação em campos que envolviam música popular, cinema, artes visuais, literatura e política. Hélio Oiticica, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Tom Zé, Glauber Rocha e Waly Salomão – eles e muitos outros tiveram um papel importante no tropicalismo, como o próprio Duarte reconheceu. “Olhando agora, aquele foi um período realmente muito interessante, em que, de certa maneira, as portas da história se abriram para nós.”
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