Em entrevista à Folha, Christos Christou, presidente mundial dos Médicos Sem Fronteiras, falou sobre a falta de medidas básicas no país
Redação Publicado em 03/05/2021, às 14h35
Na última semana, o Brasil completou mais de 400 mil mortes por Covid-19. Segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras, o número trágico é uma soma de diversos fatores, como a falta de medidas básicas e o negacionismo.
Em entrevista à Folha, Christos Christou, presidente mundial da ONG, explicou que o Brasil é o único país no qual a população ainda usa de forma maciça remédios sem comprovação científica, por exemplo. Além disso, falou sobra a problemática de autoridades governamentais incentivarem o uso desses medicamentos:
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“Esse é um problema real. Não posso deixar de apontar o governo federal como o responsável pela falta de qualquer mensagem consistente, de uma abordagem científica, e de uma resposta coordenada, centralizada,” comentou.
Segundo Christou, nenhum outro país enfrenta o uso em massa do kit-Covid: “Certamente temos vários outros problemas em outros países, a maneira pela qual os políticos interpretam a ciência varia muito. Mas não vimos em nenhum outro lugar essa situação com kit-Covid.”
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De acordo com o presidente da ONG, as mortes no Brasil poderiam ter sido evitadas caso as pessoas recebessem orientações corretas, “mensagem e comunicação clara sobre o que fazer e o que não fazer.”
“Bastava fazer o básico, adotar as medidas que funcionaram em muitos lugares. Medidas de saúde pública, usar máscara, evitar deslocamentos desnecessários, fazer distanciamento social, usar mensagens consistentes e claras e não negar a gravidade da doença, negar a doença,” explicou Christos Christou.
Segundo o presidente, diversos países aprenderam em um ano de pandemia, mas no Brasil, “parece que não aprenderam nada”: “O mínimo é não negar a doença, não ignorar o que está acontecendo (...) É necessário ter uma resposta centralizada, bem coordenada pelo governo federal. As pessoas veem o presidente e influenciadores promovendo e adotando essas medidas que não funcionam e são prejudiciais, e eles não conseguem deixar de fazer a mesma coisa.”
Devido ao incentivo do kit-covid, negação de medidas de prevenção, comunicação concreta e clara, Christou aponta o governo federal brasileiro como uma grande influência negativa para a população:
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“Quando as pessoas entendem por que uma coisa é necessária e útil, elas seguem as orientações. As pessoas só precisam das orientações certas. Não dá para culpar a população. Só dá para culpar as pessoas encarregadas de dar as orientações e administrar a pandemia.”
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Na quinta, 29, o Brasil passou de 400 mil mortes por Covid-19. Em live semanal, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) comentou sobre as vítimas da doença, sem citar o número de óbitos. As informações são do Correio Braziliense.
Durante a live, o presidente disse: “Lamentamos as mortes. Chegou a um número enorme de mortes agora aqui, né.” Sem citar os 400 mil óbitos, comentou que a assessoria não colocou o número "na frente dele".
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O presidente ainda relembrou (via UOL): “O Governo Federal não fechou comércio, não falou que todo mundo tinha que ficar em casa. Eu falava, sempre falei, tem vídeo meu do ano passado, que as pessoas mais vulneráveis, com comorbidade, com idade, excesso de peso... Esse pessoal tem que tomar um cuidado especial. Se o vírus pega, complica a situação dele.”
Em seguida, Bolsonaro argumentou que a Covid-19 vai “ficar para sempre”, e criticou o prefeito de Araraquara: “[O vírus] Não vai embora infelizmente, vamos ter que conviver com o vírus, até porque está mudando cada vez mais. Esperamos que não haja uma terceira onda, pedimos a Deus que não haja, mas temos que enfrentar. Porque se continuar a política do lockdown igual o prefeito de Araraquara, Aurélio, o tal petista lá, ‘fica em casa, fica em casa’, vai levar a cidade à miséria,” disse.
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