Seus golpes e vitórias lendárias também foram parte do DNA do gênero
MOSI REEVES Publicado em 04/06/2016, às 16h11 - Atualizado às 16h22
Como um malandro rimador do começo dos anos 1960, o maior pugilista que já foi também um pilar no desenvolvimento da música hip-hop. Gerações de jovens que cresceram durante a era hip-hop podem ter perdido as façanhas do boxe de Muhammad Ali na época em que aconteceram, mas a personalidade superdimensionada dele foi explorada nas manchetes, TV, documentários e até em HQs como a clássica Superman vs. Muhammad Ali (1978). Até hoje, os voos poéticos de excentricidade dele soam atuais como nunca.
Quando o homem anteriormente conhecido como Cassius Clay insultou os rivais com rimas como “float like a butterfly, sting like a bee”, ele personificou uma individualidade que data dos heróis do folclore da África Ocidental como a aranha Ananse, trazendo as tradições orais da terra-mãe aos holofotes da cultura popular norte-americana.
Quando se preparou para combater o campeão dos peso-pesados, Sonny Liston, em 1964, Ali deu à imprensa “Song of Myself”, um poema no qual ele profetizava que iria “diminuir o estrondo” e ganhar de um oponente o qual ele chamou de “o Urso”. Ele então foi em frente e fez exatamente isso, triunfando sob o altamente favorito Liston tanto com sua engenhosidade quanto com a indelével habilidade esportiva.
Na época, as plateias brancas estavam divididas se Ali era inofensivo ou um “punk” com a “boca fresca”, e um seguidor do islã com visões extremamente radicais sobre relações raciais e política mundial. O New York Times comparou Ali ao poeta satírico inglês Alexander Pope. Entretanto, ele era meramente o mais proeminente representante de um renascimento da palavra negra, que incluiu os revolucionários versos de Imamu Amiri Baraka e Nikki Giovanni, os discursos do Pantera Negra H. Rap Brwn e a comédia de Rudy Ray Moore.
Gil Scott-Heron, cujas gravações do começo dos anos 1970 como “The Revolution Will Not Be Televised” e “Whitey on the Moon” são consideradas marcos multifacedos do que seria em breve conhecido como a rap music, reconheceu a influência de Ali em um texto feito para Muhammad Ali: Through the Eyes of the World (uma coletânea feita pelo Ali Center de Louisville, Kentucky). “Tenho sido creditado por criar o rap, mas o primeiro rap foi feito em 1789. Você pode voltar no tempo até Pearl Sweetly e Jupiter Jones”, escreveu Scott-Heron. “Acredito que os esforços de Ali no rap foram parte do espírito da irmandade.”
E então há as ocasionais incursões de Ali nas gravações, como no álbum I Am the Greatest!, de 1963. Nos textos que acompanham o disco, a modernista vencedora do Pulitzer Marianne Moore comenta: “É comédia romântica, é drama poético, é poesia”. Conforme Ali recita os maiores hits retóricos dele e canta uma cover de “Stand By Me” (de Ben E. King), os frequentes ataques de risada da plateia da gravação no esúdio enfatizam que os Estados Unidos mainstream já o viram como um palhaço burlesco que merecia igualmente o ridículo e o louvor. Eles parecem não entender o truque e como ele os estava forçando a ver os negros do país de uma maneira mais complexa ao mesmo tempo em que os desarmava com charme cômico.
Hoje em dia, a rap music continua com traços de reverência a uma das figuras definitivas do esporte no século 20. Há “Ali Bomaye”, do Game, que pega o título da frase celebratória que os zimbabuenses usaram em apoio a Ali quando ele lutou contra Goerge Foreman na histórica Rumble in the Jungle. Há “How You Get a Record Deal”, de Big Daddy Kane, e como ele confirma ser um dos melhores MCs de sua época ao usar, no estilo de Ali, “Sou o melhor de todos os tempos”. Referências em letras sobram, do verso de Greg Nice em “Dwyck”, do Gang Starr (“I say Muhammad Ali, you say Cassius Clay!”), a “I Wish I Had It”, de Kevin Gates (“Jab nasty, hook good, just like Muhammad Ali”).
Por mais que seja reconhecido como um ícone cultural, foi a destreza de Ali na arte de acabar com seus oponentes para deleite de todos à sua volta que representou uma verdadeira parcela no DNA do hip-hop. E, como as “songs of myself” dele foram mal-entendidas como mero pretexto para violência no ringue, assim é a ostentação dos rappers atuais, frequentemente construídas como documentos do caos urbano. Contudo, os rappers estão apenas carregando a tocha de Ali, refletindo uma tradição cultural de orgulho, disputa intelectual e falação de bobagens de boa natureza.
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