Segundo Luis Pinheiro, diretor do filme, o longa tem referências que vão de Manhattan, de Woody Allen, à animação A Era do Gelo
Fernanda Talarico Publicado em 06/07/2018, às 18h43 - Atualizado às 23h45
Na última quinta, 5, estreou nos cinemas o filme Mulheres Alteradas, produção nacional inspirada nos quadrinhos da argentina Maitena Burundarena que fizeram grande sucesso no Brasil nos anos 1990. A comédia é dirigida por Luis Pinheiro, conhecido pela série Lili, a Ex, na qual iniciou a parceria com o roteirista Caco Galhardo que se repete no longa.
O cotidiano da mulher moderna é contado de maneira tragicômica e mostrado através da vida de quatro protagonistas em diferentes fases da vida: Keka (Deborah Secco), Marinatti (Alessandra Negrini), Sônia (Monica Iozzi) e Leandra (Maria Casadevall). Keka está em um relacionamento fadado ao fracasso com o marido Dudu (Sérgio Guizé) e tenta salvar o casamento em uma viagem para a Bahia que foi difícil de sair, já que ela não conseguia sair de férias do escritório de advocacia em que trabalha com Marinati, a chefe workaholic que tem os olhos voltados apenas para a carreira. Marinati trabalha sempre com o raciocínio de que os homens são apenas uma diversão até conhecer Cristian (Daniel Boaventura). Enquanto isso, Sônia vive uma atribulada vida de casada e mãe de dois filhos. Já a irmã, Leandra, está com 30 anos e a intensidade das noitadas e da solteirice começam a pesar demais.
O longa acerta ao não tentar dar soluções mirabolantes para os problemas vividos pelas mulheres. É leve e mostra com descontração que esses assuntos podem ser tratados de maneira suave e com finais divertidos. Mulheres Alteradas é lançado em meio a muito conteúdo acerca das mulheres modernas e feminismo, mas nem por isso é panfletário e se torna político. “É uma comédia diferente e as mulheres vão se identificar com ela. Essa identificação pela comédia, e não pelo drama, é muito legal”, diz Alessandra Negrini em entrevista para a Rolling Stone Brasil. “Os personagens falam muito sobre situações femininas e eu mesma passei por todas essas, desde quando eu queria ter filho. Quando você tem uma criança pequena, você quer morrer com aquela situação, porque você acha que sua vida vai ser fralda e paninho pela casa inteira – eu achava que não teria mais independência. Depois, quando você está em um casamento que já acabou e você está aturando, aguentando, sofrendo, heroicamente tentando salvar... Eu já passei por isso! Tem também a situação da paixão, que todo mundo já viveu, quando você é arrebatado por uma paixão e sua vida fica em função de uma outra figura.” Marinati, a poderosa advogada vivida pela atriz, acaba se apaixonando perdidamente e deixando de lado a carreira, algo que era impensável para ela até então.
A maternidade também é um assunto muito abordado no filme, principalmente pela personagem Sônia, vivido por Monica Iozzi. “A gente tende a delimitar a mulher por conta da maternidade, mas não, ser mãe é só mais uma coisa. A Sônia sente falta da balada, de ter uma vida individualizada”, explica Monica. “Ela retrata bem uma mãe jovem com boas condições financeiras. Vejo nela várias das minhas amigas.” Para a atriz, viver Mulheres Alteradas foi uma oportunidade de criação, pois assim ela pôde trazer muito do si própria para a tela. “Muito do que a gente vê de cada personagem, o ator cria. O que eu tenho da Sônia é a coragem, a calma, a rotina muito bem delimitada. O resto que temos em comum, são coisas que, eu como atriz, acabei criando. Ela é muito doce, meio atrapalhada. As pessoas acham que eu sou meio (Monica mostra a língua, balança as mãos e balança a cabeça), mas não, eu sou quietinha, e coube isso na Sônia. Ela é a personagem que mais dialoga comigo na minha intimidade.”
A ideia de levar os quadrinhos para o cinema deu certo. “Tentamos que as cores nos conectassem com a comédia, que fosse um filme colorido”, conta Luis Pinheiro, diretor da produção. Elas vão além do cartaz de Mulheres Alteradas, estão muito presentes em todo o longa, tanto nos cenários, como nos figurinos. “As cores também trazem os sentimentos das personagens – quando estão apaixonadas, por exemplo”. A busca por um formato mais pop para a comédia brasileira ganhou, neste caso, o uso de planos sequência, que não são comumente usados no gênero. “Usamos uma proposta ousada, mesmo que não funcione, porque contamina a equipe”, conta Pinheiro. “O filme foi todo feito com uma lente só. Não vejo razão de trocar de lente se você se aproxima e se afasta. O conceito técnico é irreverente também. E quando você ri enquanto faz fica tudo mais leve. Me agrada muito esse pensamento”, brinca o diretor, que usou como referências Manhattan (1979), do Woody Allen, Medo e Delírio em Las Vegas (1998), do Terry Gilliam, e o esquilo da animação A Era do Gelo (2002).
Assista ao trailer:
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