As melhores e mais inovadoras séries deste ano foram, até agora, centradas em e criadas por mulheres
Alan Sepinwall / Rolling Stone EUA Publicado em 30/06/2019, às 09h00
A história deste ano na televisão, até agora, foi contada no final de Broad City (no Brasil, A Cidade das Minas). Quando Ilana, uma das personagens principais, some nas escadas de dentro do metrô e de nossas vidas, a câmera segue e encontra um novo par de amigas, e aí outro, e outro, cada um com uma etnia e uma identidade de gênero, todos com uma dinâmica similar a Illana e Abbi, as melhores amigas. A mensagem é clara: existem muitas histórias de mulheres a serem contadas, e você só viu a de duas.
Com o fim de A Cidade das Minas, Crazy Ex-Girlfriend, Jane the Virgin e Unbreakable Kimmy Schmidt, e sem contar as maneiras em que Game of Thrones falhou com Daenerys, Sansa e Arya em sua temporada de despedida, 2019 poderia ser o marco de uma degeneração para as mulheres na TV. Mas a maioria desses programas terminou bem. E eles não deixaram uma paisagem estéril: quase todos os melhores programas deste ano, até agora, foram sobre mulheres e feitos por elas.
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A começar por Russian Doll da Netflix, na qual Natasha Lyonne (que criou a série com Amy Poehler e Leslye Headland) interpreta Nadia, uma mulher que continua morrendo e ressuscitando na época de seu 36º aniversário. Lyonne é uma força cômica completa. Em um episódio, Nadia sobrevive tempo o bastante para chegar ao trabalho, onde seus colegas homens acabam com ela por um erro. Ela comenta que um deles foi quem errou, arruma o problema rapidamente, enquanto eles a encaram confusos, e então ela sai para investigar seu próprio dilema existencial. Isso lembra uma fala de Fred Astaire e Ginger Rogers, astros do cinema nos anos 1940: “ela fez tudo o que ele fez, mas de costas e de salto alto.”
Já em PEN15, série do Hulu, as co-criadoras de 31 anos Maya Erskine e Anna Konkle interpretam a si mesmas aos 13 anos, ao invés de terem um elenco de adolescentes. O que começa como uma ideia de comédia padrão se aprofunda na dinâmica bagunçada de melhores amigas e experiências da adolescência em tempos diferentes. É também atrevida e estridente de uma maneira normalmente exclusiva de histórias sobre garotos. A auto gratidão de uma mulher nunca foi tão hilária e completa quando no episódio em que Maya aprende a se masturbar.
20019 ofereceu uma estreia impressionante centrada em mulher depois da outra, incluindo Tuca & Bertie, da Netflix, uma animação de comédia amigável e emocionalmente rica e agradavelmente boba; Gentleman Jack, da HBO, estrelando Suranne Jones como uma dona de terra do século XIX tentando dar um jeito de como conseguir uma esposa; e Shrill, da Hulu, com Aidy Bryant como uma escritora lutando para que o todo mundo veja suas ideias.
Não apenas isso, vários dos melhores programas de 2019 voltaram-se para temporadas encabeçadas por mulheres que encontraram maneiras de evoluir. Vida, da Starz, sobre duas irmãs mexicanas que se reúnem para tentar salvar o bar de sua mãe lésbica, voltou com mais confiança do que na primeira temporada, na qual parecia não saber realmente como contar a história de suas personagens. Por isso, ficou mais satisfatória e íntima. Dark, da Netflix, também voltou para sua segunda temporada deixando um pouco de lado os personagens masculinos e contando a história da mente por trás dos estrategemas temporais: Claudia (Lisa Kreuzer) e suas manipulações que, literalmente, mudam o mundo.
A terceira temporada de Better Things, a autobiografia de Pamela Adlon para o FX (e co-criação de Louis C. K.) expandiu o foco para além das dinâmicas comuns de mãe-filha, enquanto manteve um tom de comando delicado e sentimental. E também a segunda temporada de Fleabag, feita por Phoebe Waller-Bridge para a Amazon, na qual a personagem principal se apaixonou por um padre bonitão (Andrew Scott), foi incrível, com cenas memoráveis sobre fé e amor.
Em dado momento, Fleabag encontra uma empresária (Kristin Scott Thomas) que resume a existência feminina como se fosse criada em sofrimento: “mulheres nascem com dores embutidas. É nosso destino físico. Cólicas menstruais, peitos inchados, o parto. A gente carrega elas dentro de nós por toda a vida. Os homens não fazem isso. Eles têm que procurar pela dor.” Esta é apenas uma das muitas personagens femininas que dominaram o mundo que - apesar da partida de Abbi e Illana, Kimmy Schmidt e das outras - estão deixando a TV em mãos confiáveis.
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