“Parece que outros festivais vendem essa ideia, mas, na verdade, não são assim”, cutucou Alberto Guijarro, cabeça por trás de um dos mais vangloriados eventos musicais no mundo
Lucas Brêda Publicado em 09/09/2016, às 20h34 - Atualizado às 21h03
Em 2001, o festival Primavera Sound teve sua primeira edição, em Barcelona, na Espanha. Na ocasião, cerca de 8 mil pessoas compareceram para ver 20 bandas tocarem. Quinze anos depois, em 2016, nomes como Radiohead, LCD Soundsystem, Sigur Rós, PJ Harvey, Tame Impala, entre outros, levaram quase 200 mil pessoas ao Parc del Fòrum, no começo de junho.
“Tudo começou porque trabalhávamos em uma das casas de shows mais bem sucedidas da Espanha, a Sala Apolo”, conta um dos criadores do festival, Alberto Guijarro, esforçando-se para lembrar os nomes das bandas indies espanholas que tocaram na edição inaugural do evento. “Foi dali que surgiu o Primavera Sound, com a filosofia sendo levada da Sala Apolo.”
Por trás do festival que é considerado um dos mais conectados com a produção musical contemporânea, Guijarro está no Brasil para participar de uma palestra do festival Móveis Convida 2016, em Brasília, este fim de semana. O evento brasiliense é dividido em quatro frentes, sendo três delas voltadas a shows e o Convida PRO, com um ciclo de painéis. O catalão fala no sábado, 10, no Espaço Co-Piloto.
Apesar de responder por um dos maiores festivais de música do mundo, Guijarro não carrega trejeitos de grandes executivos e até tropeça, vez ou outra, no inglês. Segundo ele, o grupo que iniciou o Primavera Sound “não pensava em ser um grande festival desde o começo”. “Fomos crescendo ano a ano, aumentando o número de artistas, o tamanho do lugar, enfim”, diz.
“Esta ideia continua a nos influenciar nos dias de hoje”, acrescenta ele, agarrando-se à expressão “pouco a pouco” – ou outra, também frequentemente usada, “passo a passo” –, que mais parece um mantra. “Todo ano acrescentamos mais atividades, mais artistas e, finalmente, temos esse grande festival na cidade. Nas nossas cabeças, sempre precisávamos ter um trabalho contínuo.”
A consciência nas apostas, contudo, não é o único conceito no qual se prende o Primavera. “Crescemos quando passamos a ser vistos por veículos midiáticos como o [site norte-americano] Pitchfork como algo interessante para ser conhecido na cena underground”, conta. “E sempre mantivemos a crença de que a música é sempre o mais importante do festival.”
“É uma ideia simples”, segue Guijarro, soltando algumas risadas. Pelo jeito debochado de falar, o espanhol parece desacreditar que o maior diferencial de seu festival seja o ideal mais básico em se tratando de um evento musical: dar prioridade à música. “O segredo é que a música é o centro de tudo: desde a programação a todo o resto. Parece que outros festivais vendem essa ideia, mas, na verdade, não são assim.”
Em se tratando de megafestivais, uma das grandes reclamações dos fanáticos por música é que a maioria deles se apoia em artistas com rostos conhecidos, muitos que vivem de sucessos do passado, e na “experiência” promovida pelo evento. Acusa-se que o discurso coloca a marca do festival – ou dos patrocinadores – à frente dos interesses culturais, o que faz proliferar os shows “com cara e festival”, que não necessariamente representam a produção musical de um período.
Este ano, o Primavera deu mais uma amostra de que sabe agradar os nerds musicais ao redor do mundo, encaixando artistas com alguns dos mais elogiados lançamentos do ano – entre eles Radiohead, PJ Harvey, Last Shadow Puppets, Savages e Parquet Courts –, reuniões e retornos mais cobiçados – Brian Wilson tocando Pet Sounds, LCD Soundsystem, Air – e revelações – como o Car Seat Headrest.
“A curiosidade de investigar e descobrir novas bandas e discos é o que move o festival”, pontua Guijarro, antes de explicar como funcionam as escolhas dos artistas para os line-ups: “Temos cinco pessoas trabalhando nisso, procurando novas músicas e novas bandas. Cada um deles é mais ou menos especializado em um tipo de música. Eles tentam achar o melhor de cada gênero musical para o festival.”
Guijarro conta que, depois de pesquisados os nomes, em um primeiro momento, a equipe de curadores se reúne com os organizadores para definir quem vai para o banner final de determinada edição do Primavera. “Quando estamos fazendo o line-up, pensamos na parte artística da lista, não no dinheiro”, explica ele, correndo o risco de soar tão hipócrita quanto os festivais pouco focados na música que ele criticou.
O espanhol, contudo, em seguida, se explica: “Temos a marca do festival. E, para nós, é importante ter essas bandas – a coisa mais importante. Mas, é claro que o dinheiro também é importante, para pagarmos tudo e equilibrar os números. Mas isso não influencia o lado artístico do festival.”
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