Cantor lança Causa e Efeito em setembro, com bases de violino e saxofone; novas faixas devem ser mostradas em show nesta sexta, 24, na capital paulista
Por Adriana Douglas Publicado em 24/07/2009, às 17h14
MV Bill sempre levou ao extremo a ideia do hip hop como meio de transformação social. A obra de teor crítico, ligada à denuncia de problemas políticos e sociais, não agrada a todos os círculos do rap - mas medo de crítica não faz parte do currículo do carioca Alex Pereira Barbosa. Hoje, aos 35 anos, o rapper chega ao terceiro disco de estúdio (Causa e Efeito, previsto para setembro) como um dos nomes mais bem-sucedidos do gênero na cena nacional.
Com o DVD Despanho Urbano (recém-lançado de forma independente pelo seu próprio selo, o Chapa Preta), Bill encontrou na fusão entre o rock e o hip hop a fórmula para inovar sua sonoridade e estabelecer novos parâmetros à própria música. "A intenção foi subverter, sair um pouco do formato e da ordem do rap, que tem essa proposta por essência. Se estagnar, ele morre", disse o dito "Mensageiro da Verdade" em entrevista ao site da Rolling Stone Brasil.
Em Causa e Efeito, Bill mantém a proposta - desta vez, temperando o som com bases de saxofone e violino. O álbum deve marcar uma retomada de Traficando Informação, primeiro trabalho por uma grande gravadora, que completa uma década neste ano (com três faixas extras, o disco é, na verdade, uma reedição de CDD Mandando Fechado, de 1998). O disco traz o rapper de volta às suas raízes - mais especificamente à comunidade de Cidade de Deus, onde nasceu. "Escolhi ficar uns dias parado lá para escrever as letras. Com eles, me reconectei com outros momentos da minha vida, de um tempo passado." Quatro músicas da nova safra estão disponíveis no MySpace.
Em show nesta sexta, 24, em São Paulo, na Casa das Caldeiras, Bill promete mostrar um pouco do novo repertório. O rock, dessa vez, fica de fora: "Como preciso de mais músicos me acompanhando, o rock cai melhor em uma apresentação maior". Na ocasião, ele será acompanhado de DJ, violinista, saxofonista, e Camila, sua irmã, com quem divide o microfone.
Entrenimento x conscientização
"O rap ganha força a partir da utilização da musicalidade para lutar contra injustiças sociais, mas não perde o poder de entreter. Há sempre o diálogo com os dois", explica Bill, que apesar de ser conhecido pelas letras politizadas, tem "também uma sobre briga de casal que é uma das mais pedidas pelo público". Como outros nomes do cenário nacional, ele despreza a preferência pelo hip hop norte-americano (que com o universo de luxo, joias e mulheres - há alguns anos, batizado de "bling-bling" - se faz o oposto de sua proposta musical) -, mas vislumbra um horizonte otimista para os rappers tupiniquins. "As rádios daqui ainda enxergam de forma diminutiva o hip hop feito aqui. Existem erros internos no próprio gênero, mas estamos passando por uma transição", avalia. "O mercado vai começar a exigir cada vez mais música boa. Logo, novos nomes irão despontar no país, a cena é promissora."
Para somar ao trabalho que faz com a música, o cantor embarcou também em três livros - Cabeça de Porco, de 2005, sobre a juventude no crime (ao lado de Celso Athayde e Luiz Eduardo Soares), Falcão - Meninos do Tráfico e Falcão: Mulheres e o Tráfico (também com Athayde). O segundo rendeu polêmico documentário homônimo, outra parceria com Athayde (a dupla comanda a ONG Cufa - Central Única das Favelas), exibido pela TV Globo em 2006. O terceiro também deu o que falar: os nomes de Bill e Athayde apareceram em CPI que investiga irregularidades na Petrobras - os direitos do livro pertencem a uma empresa citada na investigação, ainda em andamento.
Problemas à parte, MV Bill segue trabalhando em prol de suas crenças - seja por meio de versos ou junto àqueles que o enxergam não apenas como rapper, mas como porta-voz. "O rap é música da rua, faz o diálogo com a juventude. Não sei se vou ter paciência de ficar por dentro desse meio jovem quando eu tiver meus 45 anos. Penso na música como um hobby, mas talvez eu esteja militando e atuando de outras formas."
MV Bill em SP
25/7, à 1h
Casa das Caldeiras - Avenida Francisco Matarazzo, 2000 - Água Branca
R$ 20 (R$ 25 com o DVD Despacho Urbano)
Informações: 11 3873-6696
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