“A morte dele foi foda. Foi violenta para a estrutura da música local", diz o diretor
Lucas Brêda Publicado em 05/03/2016, às 10h39
Quatro meses depois que Chico Science morreu, em fevereiro de 1997, após um acidente de carro, o grupo do qual ele fazia parte, o Nação Zumbi, deu início à caminhada sem seu fundador. Os primeiros ensaios na ausência do vocalista e letrista aconteceram em um casarão na Rua da Aurora, na beira do Rio Capibaribe, em Recife. Sem querer, mais de 18 anos depois, o guitarrista Lúcio Maia voltou à residência para ser entrevistado para o documentário Chico Science, um Caranguejo Elétrico, produzido pela Globo Nordeste e pela produtora RTV. “O pessoal não sabia que era o mesmo casarão”, revela o guitarrista, notando com entusiasmo a coincidência do local – suficiente para atiçar tanto as memórias mais doces quanto as mais amargas de Maia.
Segundo ele, o filme é “a primeira iniciativa de grande porte” de registrar a história do célebre líder do Nação Zumbi e um dos nomes mais icônicos do movimento manguebeat. “Existem muitos documentários, mas feitos por fãs”, comenta. “O Zé [Eduardo Miglioli, diretor] é fã e ao mesmo tempo cineasta. Eles têm bastante material, fizeram uma pesquisa bacana, várias entrevistas.” Com 80 minutos de duração, Chico Science, um Caranguejo Elétrico será exibido na Globo Nordeste no próximo sábado, 12, véspera do 50º aniversário do músico.
Além dos membros do Nação Zumbi, o longa traz depoimentos de nomes como Gilberto Gil, Fred Zero Quatro (Mundo Livre S/A), Jorge Mautner, Carlos Eduardo Miranda, Arnaldo Antunes e Paralamas do Sucesso. “Mas o encontro mais importante foi com [o produtor] Liminha, porque a filha de Chico [Lula] estava presente e ele ficou bastante emocionado”, comenta o produtor e dono da RTV, Ricardo Carvalho, sem querer revelar mais detalhes do filme.
As mais de cinco horas de entrevistas e as gravações inéditas são o grande trunfo de Carvalho, para quem Science é o maior artista pernambucano de todos os tempos. “Tomei conhecimento de Chico em 1993, quando minha filha disse: ‘Pai, vi um negócio fantástico’”, conta. “Naquele ano, um amigo fez uma festa de Réveillon no Recife antigo e levou Chico, que fez um espetáculo. Pensei: ‘É um gênio’. É aquilo de ‘Antes de Chico’ e ‘Depois de Chico’.”
Dali em diante, a admiração só cresceu. Carvalho escalou Science para tocar no tradicional bloco carnavalesco Siri na Lata, no ano seguinte, e foi até os Estados Unidos atrás do mangueboy. “Pedi a uma amiga de lá que arrumasse um câmera”, recorda. O cinegrafista acabou registrando para o brasileiro o emblemático show do Nação Zumbi no Central Park, em Nova York, como parte do festival SummerStage. As cenas (em parte, inéditas) da performance de 1995 – que teve participação de Gil – são atrativos do documentário. “Eu me lembro do dia, velho”, conta Maia. “A aura de todo mundo estava foda, dava para ver. Era o sonho da vida dele conseguir propagar aquela ideia surrealista, que aquilo virasse uma marca. Quando acabou, todo mundo do Central Park veio elogiar e dizer que nunca tinha visto algo assim.”
“Vai ser um documentário impactante, porque os depoimentos são muito emocionantes. Não tem nada igual”, diz Carvalho, sem esconder a pretensão. “A morte dele foi foda. Foi violenta para a estrutura da música local.”
“O filme é oportuno”, acrescenta Maia, confirmando que o Nação também marcará os 50 anos do vocalista com outras homenagens. “É um momento muito bacana, importantíssimo, inesquecível.”
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