Pioneiro do hip-hop nacional, músico volta a tocar com o parceiro Thaíde após 15 anos longe dos palcos
Lucas Brêda Publicado em 05/12/2015, às 13h07
Desde um show no fim do ano 2000, a dupla seminal para o hip-hop brasileiro Thaíde & DJ Hum nunca mais subiu a um palco como duo. “Não pensamos em tocar juntos novamente”, diz Humberto Martins, o DJ Hum. “Não se cogitava isso”. Este sábado, 5, ele volta a tocar com o rapper Thaíde em um evento gratuito do Meca, no Complexo do Brás, em São Paulo – após 15 anos.
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“Não foi nada grave”, conta Humberto sobre a separação. “O processo musical vinha se desgastando. Não pela relação pessoal, mas por querermos novos caminhos. Pintaram outras coisas na nossa vida artística”. Enquanto Thaíde passou a apresentar programas de TV – Yo! MTV Raps, Manos & Minas, A Liga, entre outras atividades –, Humberto começou a ter um programa de rádio aos sábados, na paulistana 105 FM, e a produzir rappers país afora.
O show de retorno deste fim de semana começou a ser arquitetado em 2014, na Virada Cultural de São Paulo. Na ocasião, eles fizeram uma participação em uma apresentação que recriou o disco Hip-hop Cultura de Rua (1988) ao vivo no Theatro Municipal. Thaíde & DJ Hum tocaram “Corpo Fechado” e “Homens da Lei”, as duas músicas deles que estavam na coletânea, que foi produzida por Nasi e André Jung, do Ira!, e é considerada o primeiro álbum brasileiro de hip-hop em todos os tempos.
“Foi um lance legal, de grande comoção”, assume o DJ. “As pessoas tinham 15 ou 16 anos e hoje estão na casa dos 40, essas pessoas estavam lá. Nosso repertório marcou a adolescência deles”. Depois da participação na Virada Cultural, entretanto, cada metade da dupla seguiu a vida profissional individualmente. “Aí recebemos o convite [do Meca] e achamos interessante”, acrescenta. “[O show] não é pelos fãs, é para os fãs.”
Quando subirem ao palco às 21h deste sábado, 5, Thaíde & DJ Hum vão resgatar as músicas mais conhecidas dos seis discos que eles lançaram majoritariamente nos anos 1990. “Estava tudo guardadinho, só catamos e botamos para ensaiar”, diz Humberto, que afirma não ter modificado em nada a estrutura das apresentações de 20 anos arás. “Não estamos fazendo um show, mas sim mostrando uma parte da história musical de São Paulo e do Brasil. Tem conotação artística, mas tem mais o lado social. Queremos que as pessoas compreendam algo que foi um marco.”
Baseado na música negra norte-americana – principalmente no soul e funk – dos anos 1980, o hip-hop feito pela dupla não chegava perto de ter a produção que o gênero tem atualmente. Carregada pelo groove, a sonoridade destacava os longos versos e estrofes do MC, quase sempre em defesa dos direitos dos negros e com as contundentes críticas sociais inclusas. “Falávamos o que as pessoas precisavam ouvir – não o que elas queriam ouvir”, analisa o DJ.
“Rap está em alta, está na moda”, segue ele. “Na época a gente brigava por isso. Para ter uma casa [de shows], para um aprovar um edital. Os shows de rap eram marcados pelo orelhão, pelo bar”. Humberto, contudo, aprova o que há de mais reconhecido na produção do gênero no Brasil atual. “Criolo é um ótimo letrista e cantor. Emicida é insistente, fez um ótimo disco, baseado no povo afrodescendente. O Criolo vem misturando rap com a música brasileira. Esse caminho é ótimo.”
Se o hip-hop se tornou um gigante no Brasil, muito se deve a Thaíde & DJ Hum. No disco Hip Hop Na Veia, de 1990, Thaíde cantava: “Tem muitos rappers, muita gente boa, mas não sabem ainda o que é o hip-hop. Eles acham que é só chegar, fazer um rap – “Minha mãe foi na feira, comprou isso e aquilo” –, mas não sabem o que tem que sentir no sangue, sabe? Tem muitas casas tocando hip-hop porque é moda, tenho certeza que talvez ano que vem elas parem de tocar.”
“Nós vínhamos da periferia, sem estrutura”, conta DJ Hum. “Conseguir gravar um disco, ter conta bancária: aquilo deu uma chave de esperança, de que realmente a música poderia abrir e mudar. O barato era foda: baile de negro era para negro, de branco era para branco. Nas rádios também existia uma linha imaginária. Achávamos que através da música iríamos quebrar barreiras – e conseguimos, de certa forma. Porque hoje vemos um negro – que a sociedade descrimina – conseguir se expressar.”
A primeira apresentação de Thaíde & DJ Hum em 15 anos, no festival do Meca – que também conta com shows da banda norte-americana Trails and Ways, da cantora Lia Paris e do grupo Galaxy IV – certamente terá caráter saudosista, de retornar a um passado tão duro quanto produtivo e importante. E, como reforça, não significa uma “volta” definitiva da dupla.
“Estamos encarando essa primeira aparição como um projeto especial, um revival”, confessa Humberto. “Não posso afirmar que é uma volta – ainda não é. Mas é uma oportunidade para reviver um momento. E, para quem não estava lá, conhecer como surgiu o hip-hop.”
Festival do Meca com Thaíde & DJ Hum
5 de dezembro (sábado), entre 15h e 3h
Complexo do Brás – Rua do Bucolismo, 81, Brás – São Paulo (SP)
Ingressos: gratuito (capacidade de 3 mil pessoas), inscrições aqui
Programação
16h – Lia Paris
18h – Galaxy IV
21h – Thaíde e DJ Hum
23h – Trails and Ways
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