Em mais uma passagem pelo Brasil, ex-baixista dos Ramones comenta a escassez de novas bandas do gênero e fala sobre sua experiência no grupo
Por Patrícia Colombo Publicado em 23/07/2010, às 17h25
Foi tentando citar cinco bandas "atuais" de punk rock que CJ Ramone comentou que hoje em dia a situação se encontra crítica no que diz respeito ao surgimento de novos representantes neste gênero musical. "É terrível eu ter que fazer tanto esforço para falar de alguns grupos novos", diz. O ex-baixista dos Ramones está no Brasil novamente (sua última vinda foi em 2009), trazendo clássicos da banda com a turnê American Punk, e se apresenta neste sábado, 24, no Manifesto Bar, em São Paulo. CJ conversou por telefone com a Rolling Stone Brasil e comentou sobre a quase que ausência de grupos de peso na cena punk atual e acerca de sua passagem nesta que foi uma das maiores bandas de rock de todos os tempos.
"Não sei mais se rola muito punk rock por aí", diz o baixista. "Existe uma ou outra banda, mas percebo que hoje em dia escuto as músicas que costumava ouvir quando era jovem." Desde que substituiu Dee Dee Ramone nos Ramones, em 1989, CJ, então caçula no grupo, com 24 anos, sempre foi o integrante que acabava apresentando novos sons ao frontman Joey. Porém, ao que parece, as coisas hoje estão bem diferentes. Quando questionado sobre cinco nomes que estão começando, empacou. "Desde que essa onda emo tomou conta, eu parei de tentar buscar por novas bandas que eu curtisse, porque era inacreditavelmente frustrante", conta. "Via uma foto de um grupo que parecia punk, se vestia como punk, e quando ia ouvir, pensava: 'Jesus Cristo, é emo!'" As três bandas lembradas pelo baixista como bons exemplos de som de qualidade no gênero hoje em dia, fugindo do chamado emo, foram o Street Dogs, de Massachusetts, os texanos do Riverboat Gamblers e os californianos The Bronxs.
Além da redução por parte dele na pesquisa e da provável escassez de representantes mais novos, o ex-Ramones ainda atenta a um outro fator: a alteração na sonoridade de grupos que surgiram como punks anos atrás. "Eu não sei nem dizer o som que fazem hoje bandas punk que eram novas na época em que eu estava nos Ramones, como o Green Day", comenta. "Eles meio que se tornaram pop rock." CJ fala ainda sobre o quão decepcionado se sentiu ao ouvir o álbum American Idiot, lançado pelo trio em 2004. "O disco inteiro rasgou os Estados Unidos e acabar com seu próprio governo é uma coisa muito fácil e barata de se fazer. Os Sex Pistols já fizeram isso", alfineta.
Ramones
Em 1989, CJ Ramone assumiu, no baixo, o papel de substituto de Dee Dee - integrante da formação original do grupo setentista, que, apesar de ter deixado a banda pelos problemas que vinha enfrentando graças ao abusivo uso de drogas, continuou auxiliando nas composições. Christopher Joseph Ward (o verdadeiro nome de CJ) conta que foi o primeiro a participar da seleção para entrar na banda. Ele chegou a integrar a Marinha norte-americana, mas na época já era um desertor. Após permanecer em sua casa por dois meses para os testes com os Ramones, decidiu voltar atrás. "Quando fui para o terceiro ou quarto teste, pensei: 'Não posso fazer isso, preciso voltar para a Marinha'. Liguei para a base e disse que queria retornar. Em vez de eles falarem 'Ok', mandaram a polícia na minha casa e me prenderam", recorda. "Um dia recebi uma ligação e achei que fosse a minha mãe chorando, quando atendi era o Johnny perguntando o que estava acontecendo. Pedi desculpas e ele falou: 'Fique na boa porque quando você sair, terá um emprego.'" Após seis semanas atrás das grades, Christopher Joseph viraria CJ Ramone.
O baixista é a típica figura de quem os fãs poderiam ter uma inveja tremenda, uma vez que teve a oportunidade de fazer parte da banda que admirava, saindo da pista dos shows em direção ao ponto mais alto do recinto, o palco. Contudo, de acordo com ele, fazer parte da realidade dos Ramones foi, a princípio, tarefa árdua. Mais do que ter nos ombros o peso de ocupar o posto de Dee Dee, percebeu que haveria a necessidade de saber lidar com as constantes brigas que compunham o dia a dia do quarteto. "Foi muito constrangedor no começo. Johnny e Joey não conversavam entre eles. Se eu ficasse muito próximo do Joey, Johnny ficaria bravo comigo e vice-versa", conta. "Eu percebi que se fosse sobreviver em uma banda, teria que arrumar um jeito de lidar com todo mundo à minha maneira e não fazendo o que eles queriam que eu fizesse."
CJ comenta, todavia, que apesar das brigas, enxergava em Joey a figura de amigo, e em Johnny a de mentor. "E o Marky era o cara que fazia tudo ficar engraçado. Era ele que fazia as piadas para quebrar a tensão", revela. De 1989 a 1996, ano em que a banda decidiu encerrar as atividades (após o lançamento do álbum ¡Adios Amigos!, de 1995), e uma série de shows de despedida, os integrantes eram Joey Ramone, Johnny Ramone, Marky Ramone e CJ - tendo passado pelo grupo Tommy, Dee Dee, Richie e Elvis (Clem Burke, baterista do Blondie). Em momento de desabafo, o baixista reclama da atenção dada pelo público e pela mídia aos conflitos da banda. "Tudo o que tem sido publicado é negativo, e brigas acontecem na vida de todo mundo. Ninguém se dá bem o tempo todo", diz. "Eu entendo que as pessoas queiram saber o que rola nos bastidores, mas acho que muita atenção foi voltada a isso, e trocaram o fato de eles serem uma das melhores bandas de todos os tempos por esse drama estúpido. Por isso que me juntei ao Daniel. Para lembrar as pessoas de como o grupo era bom."
O Daniel citado acima é o produtor musical nova-iorquino Daniel Rey, conhecido por ter composto algumas músicas junto a Dee Dee e Joey, e por ter trabalhado em álbuns dos Ramones - o primeiro produzido por ele foi Halfway To Sanity, de 1987. Daniel Rey se encarrega da guitarra, junto a Mike Stamberg na bateria, nos shows que estão rolando no Brasil desde o dia 20, quando CJ se apresentou no Rio de Janeiro. Já foram realizadas nesta turnê apresentações em Novo Horizonte (SP, 21/7), Goiânia (22/7), Brasília (23/7), e agora chega a vez da capital paulista neste sábado, 24. "O Brasil sempre foi o melhor lugar para tocar - e não falo isso da boca para fora. Não há fãs dos Ramones como aqui e na Argentina", afirma. O público pode aguardar no show os grandes sucessos do grupo, com CJ no microfone e no baixo (na época em que integrava os Ramones, gravou alguns vocais, como em "Strength to Endure" e "Main Man"). Como o próprio disse, a intenção da vinda é relembrar os fãs sobre o legado musical dos Ramones, buscando deixar as imagens das brigas para trás. "Eles inventaram o estilo, foram os primeiros a colocar tudo junto e acho que ninguém tocou o estilo deles melhor do que eles próprios", afirma.
CJ Ramone em São Paulo
24 de julho, às 22h
Manifesto Bar (Rua Iguatemi, 36, Itaim Bibi)
Ingressos: R$ 60
Informações: 11 3168-9595
Pontos de venda: Rock Land (11 3362-2606), Metal CD no ABC (11 4994-7565) e no Manifesto Bar
Venda pela internet: www.ticketbrasil.com.br
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