No Mês do Orgulho LGBTQ+, revisite a infância, luta e legado de Marsha P. Johnson, mulher trans que atuou na linha de frente na luta por direitos
Marina Sakai (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 28/06/2021, às 19h01
Negra, drag queen, prostituta e ativista, Marsha P. Johnson foi um dos símbolos da luta pela libertação LGBTQ+ nos Estados Unidos. Johnson lutou contra a invisibilização de pessoas transsexuais e fundou iniciativas para garantir direitos básicos aos jovens da comunidade. Protagonizou, inclusive, um marco da causa: a Rebelião de Stonewall, em 1969.
Nesta segunda, 28 de junho, celebramos o Dia Internacional do Orgulho LGBTQ+. Muito do avanço político e social em relação à comunidade foi consequência das iniciativas dos pioneiros do movimento. Pensando nisso, a Rolling Stone Brasil decidiu relembrar a trajetória de Marsha P. Johnson: o começo da jornada, a luta em Stonewall e o legado após a morte.
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Nascida Malcolm Michaels, em agosto de 1945, no estado de Nova Jérsei (EUA), Johnson se identificava como mulher desde a infância, quando começou a usar vestidos para brincar com as outras crianças do bairro. Parou, no entanto, quando passou a ser vítima de assédio pelos garotos.
Seu pai, Malcom Michaels Sr., era um operário de linha de produção na multinacional de automóveis General Motors, e a mãe, Alberta Claiborne, era empregada doméstica. Os dois tinham visões intolerantes sobre a comunidade, e Alberta inclusive disse que “ser LGBTQ+ era menor que ser um cachorro.”
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Por esses motivos, até os 17 anos, Johnson se definia como assexual. Quando terminou a escola, mudou-se para Nova Iorque (EUA), sozinha, com apenas US$ 15 e uma mala de roupas. Passou a se vestir exclusivamente com roupas femininas e oficialmente adotou o nome Marsha P. Johnson.
Teve dificuldade em encontrar trabalho, pois os direitos para pessoas da comunidade LGBTQ+ eram extremamente limitados. O modo mais rápido de ganhar dinheiro era a prostituição, uma ocupação perigosa e arriscada. Por isso, foi presa diversas vezes, desenvolveu transtornos de saúde mental e foi baleada uma vez.
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Johnson também viveu a maior parte da vida sem um lar permanente. Passou algum tempo em situação de rua, dormiu em quartos de hotel, restaurantes, cinemas, e na casa de amigos. Na mesma época, conheceu Sylvia Rivera, menina trans de apenas 11 anos quem havia vindo de Porto Rico para tentar a vida nos Estados Unidos. Tornaram-se grandes amigas, e Rivera aprendeu com Johnson a assumir a própria identidade e se adaptar às ruas de Nova Iorque.
Johnson fez parte da geração dos anos 1950-1960 que expandiu a comunidade LGBTQ+ em Nova Iorque. Enfrentou um sistema jurídico homofóbico e uma sociedade intolerante em relação à sua orientação sexual. Mas, participou de momentos muito importantes para a luta por direitos nos Estados Unidos.
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Em 28 de junho de 1969, o bar Stonewall Inn, bastante frequentado por integrantes LGBTQ+ e um dos poucos estabelecimentos a receber a comunidade, foi invadido pela polícia. Consequentemente, os residentes se revoltaram e iniciaram uma série de protestos contra as batidas policiais.
Os ativistas se organizaram em grupos para mobilizar mais pessoas, criaram três jornais para promover informações sobre os direitos da comunidade, e concentraram-se em táticas de confronto para reforçar a luta. No ano seguinte, em 28 de junho de 1970, as primeiras marchas aconteceram em grandes cidades dos Estados Unidos, e o dia se tornou um marco do orgulho LGBTQ+.
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Johnson esteve na linha de frente da Rebelião de Stonewall. Logo depois, fundou a Gay Liberation Front (Frente de Libertação Gay, em tradução livre), um dos grupos pioneiros na luta contra a perseguição aos integrantes da comunidade. Todos esses esforços moldaram a trajetória da comunidade LGBTQ+ nas décadas finais do Século XX.
Apesar do progresso, Johnson ficou frustrada com o protagonismo de homens gays e mulheres lésbicas na causa, e questionava qual era o papel das pessoas trans. Por isso, ela e Sylvia Rivera criaram a Street Transvestite Action Revolutionaries (Revolucionários da Ação de Travestis nas Ruas, em tradução livre), para oferecer moradia às pessoas trans desabrigadas.
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Johnson e Rivera se prostituiam para pagar o aluguel da sede da organização, e “alimentavam, vestiam e mantinham o prédio funcionando,” como afirmou Rivera em entrevista de 1995.
Durante a maior parte do tempo, Johnson viveu uma vida muito difícil: foi presa mais de 100 vezes, enfrentou pobreza e perigo, e contraiu AIDS em 1990. No entanto, também teve alguns momentos de popularidade, quando em 1975, o artista Andy Warhol a fotografou para uma série chamada Ladies and Gentlemen (Senhoras e Senhores, em tradução livre).
Em 6 de julho de 1992, o corpo de Marsha P. Johnson foi encontrado no Rio Hudson, e a causa da morte foi anunciada com suicídio. Muitos amigos da ativista discordaram da autópsia, e acreditam que Johnson foi vítima de um ataque ou crime de ódio. Em Greenwich Village, bairro em Nova Iorque, era conhecida como “Santa Marsha,” pela personalidade gentil, e centenas de pessoas foram ao velório.
Atualmente, Johnson é descrita como uma mulher trans, termo não utilizado na época, e sabe-se que os pronomes da ativista eram femininos. O legado mais impactante é, claro, o pioneirismo na luta das pessoas trans, travestis e drag queens. Em 2016, Elle Hearns — ativista e co-fundadora da Rede Global do Black Lives Matter — fundou o Instituto Marsha P. Johnson, para apoiar especificamente as mulheres negras trans.
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A história de Johnson também virou foco de um documentário da Netflix, chamado A Morte e Vida de Marsha P. Johnson (2017), dirigido por David France. O longa tem como objetivo revelar detalhes da investigação da morte da ativista, além de contar sua trajetória.
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