Com 20 músicas no set list, os ex-Joy Division se aproveitam de sentimento nostálgico e param no tempo
Fernanda Talarico Publicado em 29/11/2018, às 15h28
Os relógios marcavam 22h da última quarta, 28, em São Paulo, no Espaço das Américas, quando as luzes da casa de show se apagaram.
Assim se iniciou o show do New Order e sua sexta passagem pelo País: telões com imagens de homens em maiôs fazendo saltos ornamentais ao som de “Das Rheingold: Vorspiel”, de Richard Wagner.
Uma óbvia referência à capa do disco ao vivo, o NOMCS15, de 2017. Este, inclusive, foi o fio condutor de toda a apresentação da banda inglesa. As faixas foram apresentadas praticamente na mesma ordem do álbum, com pouquíssimas alterações.
Este fato até poderia ser considerado ruim, caso estivessemos falando de outro grupo. Mas, quando se chega ao patamar do New Order, com shows de ingressos esgotados, não há tantos motivos para inovar.
É importante entregar ao público o que ele quer. E foi exatamente isso o que a banda fez.
Criado a partir dos remanescentes do Joy Division após o suicídio de Ian Curtis, o New Order mantém Bernard Sumner e Stephen Morris da formação inicial; Peter Hook saiu de maneira conturbada em 2007.
Leia nossa entrevista com Peter Hook, ex-baixista do New Order e fundador do Joy Division
Gillian Gilbert entrou depois no famoso grupo por fomentar a mistura de rock, synthpop e música eletrônica. Phil Cunningham e Tom Chapman completam a banda.
Sumner dançou e se empolgou em alguns momentos, mas nada exagerado. Não deixou de ser simpático com o público que lotava o Espaço das Américas.
“Amamos vocês, mas o trânsito aqui é horrível! Tem muito carro”, brincou o vocalista na única frase longa dita em todo o show.
Tudo bem, não havia muito tempo para conversas: melhor não desperdiçar nem um segundo quando se tem 20 músicas a serem tocadas em duas horas.
Já Gilbert manteve o semblante sério enquanto tocava os teclados, parecia incomodada com a franja que teimava em cair em seus olhos.
“Gilian, eu te amo! Dá um sorriso!”, gritavam alguns aventureiros do público, mas ela continuava impassível a tudo ao seu redor.
A banda desfilou todos os sucessos esperados pela horda de pessoas uniformizadas com camisetas do Joy Division - e entregou as canções mais aguardadas. Antes, mostrou as músicas do próprio New Order, como “Singularity”, “Age Of Consent” e “Ultraviolence”.
Seguiram com “Academic” e “Your Silent Face”. Vieram os primeiros acordes dançantes de “Decades”, do Joy Division, e o público entrou em êxtase.
Já com “Superheated” e “Tutti Frutti”, do Music Complete (2015), o clima quase esfriou. A psicodelia de imagens e luzes usadas ajudaram a manter a atenção no quinteto – elas fizeram um show à parte.
O New Order se redimiu ao começar a enxurrada de sucessos. “Subculture”, “Bizarre Love Triangle”, “Vanishing Point”, “Waiting for the Sirens’ Call”, “Plastic”, “The Perfect Kiss”, “True Faith”, “Temptation” e um dos hits máximos, “Blue Monday”.
O set de Joy Division foi deixado em peso para o bis, mas, desde a saída de Peter Hook, não parece ser a mesma coisa. “Disorder”, “Atmosphere” e “Love Will Tear Us Apart” poderiam ser um dos pontos mais altos da apresentação, mas ao contrário, deixaram a impressão de uma cover mal ensaiada.
Em um show tomado pela nostalgia, o New Order segue defendendo o dance rock em seus hits, sem precisar renovar ou surpreender. Após quase 40 anos de carreira, eles aprenderam uma fórmula confortável e não parecem querer mudar.
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