A banda inteira estava em clima de avacalhação, o que levou ao show o status de um dos piores – senão o pior – de toda a carreira do Nirvana - Paulo Giandália/Folhapress

Frustração e caos

Vinda do Nirvana ao Brasil, em 1993, foi histórica - mesmo que os shows tenham entrado para a lista de piores da banda

Paulo Cavalcanti Publicado em 16/01/2013, às 08h25 - Atualizado às 12h30

O que acontece quando a maior banda do mundo faz um dos piores shows de sua carreira? Muitos até hoje não perdoam o Nirvana por sua apresentação no Hollywood Rock, em São Paulo, no Estádio do Morumbi, em janeiro de 1993.

Talvez seja fácil entender a enorme frustração dos fãs paulistas. Kurt Cobain, Dave Grohl e Krist Novoselic tinham simplesmente "rachado" o rock e todos esperavam um momento de glória e catarse. O Nirvana que subiu ao palco não queria o mundo aos pés. Nem a bajulação dos brasileiros. A idéia era avacalhar. Não se sabe se a sabotagem era um plano pré-estabelecido. A banda tocou músicas pela metade, desafinou, atravessou os tempos e transformou tudo num circo bizarro. Kurt, vestido de mulher, se arrastava pelo chão. Canções como "School", "About A Girl", "Dive", "Come As You Are" e o cartão de visitas "Smells Like Teen Spirit" (com Flea do Red Hot Chili Peppers no trompete!) ganharam versões caóticas, incompletas, incompreensíveis.

Depois de tocar seus hits de qualquer jeito, Cobain e sua trupe acharam que a essa altura do campeonato seria mais interessante arriscar alguns covers de músicas que curtiam. Mas nem aí a coisa foi levada a sério, já que eles simplesmente trocaram de instrumentos. Kurt foi para a bateria, Grohl se ocupou do baixo e vocal e Krist foi para a guitarra. A banda massacrou "Seasons in The Sun" (clássico escrito por Jacques Brel), "We Will Rock You" (Queen) "Should I Stay Or Should I Go" (The Clash), "Rio" (Duran Duran), dentre outras. Saíram do palco sem que ninguém sentisse muita falta. A essa altura o pessoal nem se mobilizou para vaiar, já que era mais útil ir para o ponto do ônibus.

Na semana seguinte, o trio tocou na Praça da Apoteose do Sambódromo do Rio de Janeiro. Foi uma apresentação um pouco menos confusa do que em São Paulo, mas nem por isso perfeita ou memorável. Kurt até cuspiu nas câmaras da Rede Globo, que transmitia tudo pra o quatro cantos do Brasil. Sim, o Nirvana no Brasil foi um momento histórico. Mas poucos clamaram que estes foram o "os shows de suas vidas".

***O texto acima foi originalmente publicado em abril de 2009.

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