Sharon Van Etten em Nova York. - Laura Crosta

No Dia dos Namorados, Sharon Van Etten apresenta canções sobre desilusões amorosas em SP

Cantora nova-iorquina sobe ao palco do Cine Joia nesta sexta-feira, 12

Thiago Neves Publicado em 12/06/2015, às 12h13 - Atualizado às 15h07

A relação entre a vida e a obra de um artista é objeto de observação constante. No caso de Sharon Van Etten, essa associação é igualmente escancarada e instigante. Dona de uma melancolia rara, romântica e nada sombria, os álbuns de cantora são um retrato delicado e sincero da trajetória pessoal e profissional dela. Escalada para se apresentar em São Paulo em pleno Dia dos Namorados, a artista conta não ser cética e que as canções refletem a realidade dos relacionamentos pelos quais passou. “Achei graça quando soube que tocaria no Dia dos Namorados, evidente que não quero estragar a noite de nenhum casal", garante a artista em entrevista à Rolling Stone Brasil. "Relacionamentos têm problemas, todos sabemos disso. Da dor e dos obstáculos, contudo, nascem reflexões importantes, o disco Are We There é sobre isso.”

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Aos 36 anos, Sharon vem ao Brasil pela primeira vez trazendo na bagagem a turnê de Are We The (2014), quarto álbum da carreira dela. Fruto do rompimento de um relacionamento que durou seis anos, o celebrado registro discute um período conflituoso da vida da artista. A narrativa de disco começa logo na imagem escolhida para ilustrar a capa. A fotografia mostra uma amiga de Sharon com a cabeça para fora da janela de um carro em movimento. Feita há cerca de uma década, a imagem é uma menção aos últimos seis anos da vida de Sharon. Pelo telefone, a cantora conta que a amiga - que pede anonimato - hoje é casada e tem filhos. “Aquela fotografia é a síntese de tudo que sinto. A carreira musical consome certas possibilidades, sinto falta de estar em casa, daquela amizade e de um período no qual todas essas coisas eram possíveis, Me sinto como a fotografia: velha, esquecida e negligenciada em muitos sentidos”.

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Apesar do tom absolutamente crítico quanto ao lugar no qual se encontra, Sharon é uma das vozes mais observadas da cena indie norte-americana. “Tenho aprendido a lidar com os conflitos e tenho também muita convicção no que produzo.” Convidada para tocar em alguns dos principais festivais do mundo, como o Glastonbury, na Inglaterra, Sharon não esconde a satisfação em relação ao que fez até aqui. “É gratificante, não apenas dividir palcos com artistas que admiro, mas viajar o mundo e perceber que as pessoas gostam do que faço, que elas se identificam com as canções e, de certa forma, se emocionam com as minhas experiências”.

Na última quarta-feira, 9, a cantora divulgou o EP I Don’t Want To Let You Down. Igualmente doloroso e inquieto, o compacto deve ser compreendido como uma extensão de Are We There. “As músicas são das sessões de estúdio do último disco. Foi um processo muito significativo para mim. Depois do lançamento, senti que algo além poderia ser dito. Tudo isso está no EP”.

Em faixas como “I Love You But I’m Lost” e “I Don’t Want To Let You Down”, Sharon transparece a dor da dúvida, evidenciando uma melancolia vivenciada por todos que já tiveram o coração partido. A cantora, porém, afirma que soube lidar com essas experiências: “Sempre é dolorido, mas prefiro um certo otimismo. Isso faz parte da vida, é puro amadurecimento”. Para ela, não há nada errado no sofrimento, “Minha mãe se preocupava muito com as minhas canções, mas disse a ela que ela deveria ficar atenta caso eu escrevesse letras eufóricas. Não há crescimento quando tudo dá certo”, explica a artista em tom de brincadeira.

Prometendo mostrar também canções de Epic (2010) e do aclamado Tramp (2012) durante o show no Brasil, Sharon reitera um latente altruísmo musical. “Faço músicas para aliviar as minhas inquietações, mas quero que as pessoas compartilhem algo comigo e assim será a apresentação”. A presença de Sharon no Cine Joia nesta sexta, 12, no entanto, é imperdível, já que a cantora pretende fazer uma pausa. “Depois do Brasil tenho mais dois shows agendados, então vou para casa, em Nova York. Quero continuar compondo e colaborando com outros artistas, mas preciso parar um pouco. Estou desde de 2010 em um ritmo alucinante. Tenho planos de estudar, ter uma rotina, me sentir em casa. Sinto falta dessas coisas”, finaliza.

Sharon Van Etten

12 de junho, sexta-feira, às 19h (abertura da casa), o show começa às 21h

Cine Joia - Praça Carlos Gomes, 82 - Sé, São Paulo

Ingressos: R$ 180 (há meia entrada)

Informações: www.sympla.com.br

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