Will Smith veio ao Brasil para divulgar Eu Sou a Lenda, que estréia nesta sexta, 18: "Vi o filme umas cinco vezes em três continentes diferentes, e todas as vezes em que aparece NY vazia, o silêncio na sala é mortal"
Por Pablo Miyazawa Publicado em 18/01/2008, às 18h16 - Atualizado às 19h02
A estréia do aguardado thriller Eu Sou a Lenda nos cinemas brasileiros nesta sexta-feira, 18, ganhou o reforço de seu protagonista, Will Smith, que passou os primeiros dias desta semana no Rio de Janeiro. Acompanhado do diretor Francis Lawrence e do roteirista Akiva Goldsmith, o ator de 39 anos fez jus à fama de boa-vida conquistada com os papéis cômicos que fez durante os anos 90 (a série de TV Um Maluco no Pedaço, os dois filmes Homens de Preto, entre outros). Carismático e talvez excessivamente descontraído, ele entrou aos gritos no salão destinado à entrevista coletiva (no Hotel Copacabana Palace), fez brincadeiras com os companheiros de mesa e os jornalistas presentes e, mesmo sem ser questionado sobre o tema, fez questão de explicar a ausência da atriz brasileira Alice Braga no evento ("Ela está ocupada filmando nos Estados Unidos, mas gostaria muito de estar aqui"). Em entrevista, o ator falou sobre sua participação quase solo em Eu Sou a Lenda (baseado no romance de Richard Matheson), teorizou sobre Joseph Campbell e sinalizou um possível retorno à carreira musical.
Sobre atuar sozinho durante dois terços de Eu Sou a Lenda:
"Atuar sozinho é um teste para os limites do seu ego. É assustador. Quando li o roteiro, pensei na hora: 'mas como diabos isso vai ser interessante?' Ao mesmo tempo, fiquei pensando em como eu pessoalmente conseguiria manter aquilo interessante por um período tão longo de tempo. E muito do que conseguimos tem a ver com a genialidade dos roteiristas Akiva Goldsmith e Mark Protosevich. O filme dá aquela sensação de ser silencioso e lento, mas suas unhas ficam enterradas na cadeira desde a primeira cena. Outra coisa é a energia indescritível que o [diretor] Francis [Lawrence] conseguiu tirar das cenas de Nova York vazia. Eu vi o filme umas cinco vezes em três continentes diferentes, e todas as vezes que aparecem essas cenas da metrópole vazia, o silêncio na sala é mortal. A platéia fica totalmente quieta. Porque uma coisa é certa: se Nova York está vazia, é porque algo muito ruim aconteceu [risos].
Na posição em que eu estava, tive muito mais ajuda do que imaginava que teria. No primeiro dia de filmagens, quando percebi a quantidade de esforços que havia sido colocada por Akiva e Francis no projeto, eu me senti muito protegido. Não me senti pelado e sozinho na frente de todo mundo. Na verdade, eu estou pelado em apenas uma cena, mas não no filme inteiro [risos].
Sobre a abordagem artística do filme:
"Nossa intenção desde o início foi: 'queremos fazer um pequeno filme de arte'. O que isso quer dizer: que concentramos muito tempo e esforço no desenvolvimento do personagem, da mesma forma que faríamos se este fosse um daqueles 'filmes de Oscar'. Há duas maneiras diferentes de se fazer um filme: ou você produz como para fazer um blockbuster de verão, ou para criar um filme artístico. Nós nos comprometemos com pequenas coisas, como por exemplo, o cachorro. Você jamais pode fazer o que fizemos com o cachorro em um filme com intenção de se tornar um blockbuster. Especialmente nos Estados Unidos. Você pode matar quantas pessoas quiser, dar tiros na cabeça... mas você não faz isso com um cachorro, pelo menos não nos Estados Unidos [risos]. Então, quisemos manter um foco bastante sério na linha que iríamos seguir. Você simplesmente não vê um blockbuster tão lento e silencioso como esse filme."
Sobre Campbell, Neo e Luke Skywalker:
"Eu adoro o conceito do escritor Joseph Campbell sobre a jornada do herói. Ele rodou o mundo, estudou histórias de diversos países e descobriu um padrão ao qual ele se refere como 'a jornada do herói': a idéia de que as pessoas de todos os cantos do planeta, que jamais tiveram contato umas com as outras, tenham uma idêntica história de um 'salvador'. Ele documentou essas histórias e chegou a um certo padrão. Quando há um problema em uma sociedade, uma pessoa é chamada. Eles seguem em uma jornada e, em dado momento, eles encontram o 'elixir', que resolve o problema original. É a história de Neo em Matrix, de Luke Skywalker em Star Wars... Acho que estamos pré-programados para aceitar a jornada do herói. Esse tipo de tema tem poder e aceitação internacional, porque vai além da linguagem."
Sobre linguagem subliminar:
"A história de Cristo até pode ser considerada o modelo para a história de Eu Sou a Lenda. Realmente, há diversas referências a isso no filme - o fato de o vírus ser o pecado original, por exemplo. A gente torce para que as pessoas que não percebam todas essas conexões ainda assim achem o filme interessante."
Sobre deixar as comédias de lado:
"Mudar de gênero não é um movimento que escolhi porque estou ficando mais velho e enxergando o mundo de maneira diferente [risos]. Eu estou realmente atraído pela relação entre trauma e história, ou trauma e personagem. Quando um protagonista passa por uma situação traumatizante, há conexão instantânea em todo o mundo. Se o cachorro de alguém morre, as pessoas entendem na hora. Se não é o cachorro, é o seu peixe, ou o seu porquinho, mas a idéia está incrustada nas pessoas: assim que vemos alguém próximo ao personagem principal sofrer, você automaticamente se identifica. Para mim, esta é uma semente poderosa para histórias. A Disney tem feito muito dinheiro em cima disso durante anos. O início de Procurando Nemo, por exemplo, quase dá para pensar que aquilo não foi feito para crianças!"
Sobre as escolhas dos próximos projetos:
"Fazer filme é um esporte coletivo, e hoje eu faço parte de um time vitorioso E quando você consegue juntar uma equipe vencedora, seus companheiros salvam você de si mesmo. Sempre é possível fazer ótimas escolhas, e ao mesmo tempo, escolhas muito ruins. Então, a esperança é que seus companheiros de equipe impeçam que você siga o caminho ruim. Uma pergunta que eu e minha equipe sempre fazemos é: onde se cria a diversão? E a resposta a que chegamos: nós criamos diversão dentro do cinema. Quando lemos um novo roteiro, sempre tentamos visualizar a cena: ok, o cara está em uma sala de cinema na sexta-feira a noite com a namorada. Será que a idéia que colocarmos na tela vai interessar a alguém? Por exemplo, o último sobrevivente da Terra não está sozinho. Será que isso funciona em uma sala de cinema na sexta-feira? Com toda certeza, funciona! Ok, mas e se esse filme tiver apenas uma pessoa na frente da câmera na maior parte do tempo. Hum... vai saber! [Risos] Nós focamos os esforços sob essa perspectiva, o que é bem diferente se estivéssemos fazendo um filme focando em ganhar o Oscar."
E a carreira musical?
"Provavelmente não vou lançar um disco tão cedo, mas você sabe, coisas estranhas têm acontecido... [risos] Tenho sentido a necessidade de focar meus esforços em uma coisa apenas. É difícil pra eu alcançar meus objetivos se o meu foco estiver dividido. Eu tenho gasto a maior parte do meu tempo lendo livros sobre história e sobre a moral das histórias. Eu li um dia desses uma idéia bem poderosa, na qual um autor explica que a única razão pela qual as histórias são contadas é para comunicar verdades sobre a vida. Acho que estamos todos programados para querer algo dessas histórias, há uma idéia coletiva e inconsciente de que nós queremos saber algo sobre a vida. A gente pode pensar que vamos ao cinema para dar risada e escapar da realidade. Até queremos isso, mas acho que há um desejo primal de que as histórias tenham uma mensagem a ser transmitida. É neste conceito que tenho focado meus esforços momento."
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